Em várias partes do mundo, pipocam grandes manifestações contra os governos, os políticos, os banqueiros... Parece que, finalmente, os brasileiros estão despertando de seu berço explêndido, a julgar pelas manifestações de rua neste feriado de 12 de outubro.
Aqui em São Paulo, muita gente – não arrisco a dizer, milhares de pessoas; pelo menos, ainda não – saiu em caminhada pela Avenida Paulista, desceu a Avenida Consolação e foi se concentrar em frente ao Teatro Municipal, no centro velho da cidade. Gente de todas as idades, dos estudantes aos “cabeças-brancas”...
Caras pintadas, apitos na boca, narizes de palhaço e fantasias; cartazes e faixas de todos os tamanhos e tipos de material, dos mais simples aos mais sofisticados; palavras de ordem, desde o Hino Nacional até o refrão “Fora Sarney” – aliás, o senador Sarney foi o político mais homenageado, com chavões como “Ei, Sarney, vai tomar no c...” e “Sarney, devolve o Maranhão!”. Apesar do caráter pacífico do movimento, como não poderia faltar, houve até tumulto e espancamento, com um grupo mais agitado gritando “fascistas” para os policiais.
Sob o manto do combate à corrupção, havia manifestações dos mais diversos gêneros. Aqueles que defendem a continuidade da faxina da presidente Dilma; os que pedem a ficha limpa já; os que defendem o voto distrital; os que exigem que o dinheiro da corrupção seja destinado a saúde e educação; os que defendem a autonomia do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para fiscalizar os juízes; os que pedem o fim do voto secreto nas votações do Congresso Nacional; os que contestam a construção da hidrelétrica de Belo Monte no Xingu; os que querem a condenação dos mensaleiros; os que querem a cabeça dos políticos corruptos - um senhor de barbas brancas até me entregou um panfleto, com a frase de Eça de Queiroz: “Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão.” Sobrou até para o novo partido (PSD) de Kassab, denominado em cartaz como “Partido da Safadeza e do Dinheiro”...
Tudo o que foi dito nos cartazes, faixas e panfletos encontra eco num trecho do artigo “O poder como negócio” (http://blogs.estadao.com.br/rolf-kuntz/), do conceituado jornalista econômico Rolf Kuntz: “Não há democracia nenhuma na apropriação de verbas para distribuição de benefícios a indivíduos, grupos, organizações, empresas ou mesmo cidades escolhidas de acordo com interesses pessoais do parlamentar. O dinheiro é público, a tramitação do Orçamento é um ritual da vida pública e o parlamentar ocupa um cargo público. Mas é um abuso chamar de política pública a transformação do Orçamento numa pizza dividida segundo os objetivos privados de cada participante.”
Algumas palavras finais sobre o voto distrital. Sob o manto convergente do combate à corrupção, proliferam opiniões divergentes, diferentes idiossincracias, diversas correntes políticas... Tanto que, quando os manifestantes se instalaram em frente ao Teatro Municipal e começaram os discursos inflamados, iniciou-se um processo de esvaziamento.
Por isso, os defensores do voto distrital não devem se iludir. O segredo está em não perder o foco, em não se esmorecer. Devemos ter consciência de que o caminho é árduo e longo e vai exigir muita persistência e um incessante trabalho de formiguinha... A campanha já ultrapassou as primeiras 100 mil assinturas (ver www.euvotodistrital.org.br); agora, é perseguir a meta de 200 mil, e assim por diante.
Durante a manifestação, estreei minha camiseta em defesa do voto distrital. Alguns manifestantes apontavam para a camiseta e se diziam simpáticos à (ou mesmo que apoiavam a) proposta. Sugeri que entrassem no site do movimento para conhecer mais detalhes e assinar o manifesto. Por isso, estou otimista.