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Protestos contra a corrupção: minha experiência; sem perder o foco no voto distrital

12 de Outubro de 2011, por José Venâncio de Resende

O movimento pelo voto distrital, presente no protesto

Em  várias partes do mundo, pipocam grandes manifestações contra os governos, os políticos, os banqueiros... Parece que, finalmente, os brasileiros estão despertando de seu berço explêndido, a julgar pelas manifestações de rua neste feriado de 12 de outubro.

Aqui em São Paulo, muita gente – não arrisco a dizer, milhares de pessoas; pelo menos, ainda não – saiu em caminhada pela Avenida Paulista, desceu a Avenida Consolação e foi se concentrar em frente ao Teatro Municipal, no centro velho da cidade. Gente de todas as idades, dos estudantes aos “cabeças-brancas”...

Caras pintadas, apitos na boca, narizes de palhaço e fantasias; cartazes e faixas de todos os tamanhos e tipos de material, dos mais simples aos mais sofisticados; palavras de ordem, desde o Hino Nacional até o refrão “Fora Sarney” – aliás, o senador Sarney foi o político mais homenageado, com chavões como “Ei, Sarney, vai tomar no c...” e “Sarney, devolve o Maranhão!”. Apesar do caráter pacífico do movimento, como não poderia faltar, houve até tumulto e espancamento, com um grupo mais agitado gritando “fascistas” para os policiais.

Sob o manto do  combate à corrupção, havia manifestações dos mais diversos gêneros. Aqueles que defendem a continuidade da faxina da presidente Dilma; os que pedem a ficha limpa já; os que defendem o voto distrital; os que exigem que o dinheiro da corrupção seja destinado a saúde e educação; os que defendem a autonomia do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para fiscalizar os juízes; os que pedem o fim do voto secreto nas votações do Congresso Nacional; os que contestam a construção da hidrelétrica de Belo Monte no Xingu; os que querem a condenação dos mensaleiros; os que querem a cabeça dos políticos corruptos - um senhor de barbas brancas até me entregou um panfleto, com a frase de Eça de Queiroz: “Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão.” Sobrou até para o novo partido (PSD) de Kassab, denominado em cartaz como  “Partido da Safadeza e do Dinheiro”...

Tudo o que foi dito nos cartazes, faixas e panfletos encontra eco num trecho do artigo “O poder como negócio” (http://blogs.estadao.com.br/rolf-kuntz/), do conceituado jornalista econômico Rolf Kuntz: “Não há democracia nenhuma na apropriação de verbas para distribuição de benefícios a indivíduos, grupos, organizações, empresas ou mesmo cidades escolhidas de acordo com interesses pessoais do parlamentar. O dinheiro é público, a tramitação do Orçamento é um ritual da vida pública e o parlamentar ocupa um cargo público. Mas é um abuso chamar de política pública a transformação do Orçamento numa pizza dividida segundo os objetivos privados de cada participante.”

Algumas palavras finais sobre o voto distrital. Sob o manto convergente do combate à corrupção, proliferam opiniões divergentes, diferentes idiossincracias, diversas correntes políticas... Tanto que, quando os manifestantes se instalaram em frente ao Teatro Municipal e começaram os discursos inflamados, iniciou-se um processo de esvaziamento.

Por isso, os defensores do voto distrital não devem se iludir. O segredo está em não perder o foco, em não se esmorecer. Devemos ter consciência de que o caminho é árduo e longo e vai exigir muita persistência e um incessante trabalho de formiguinha... A campanha já ultrapassou as primeiras 100 mil assinturas (ver www.euvotodistrital.org.br); agora, é perseguir a meta de 200 mil, e assim por diante.     

Durante a manifestação, estreei minha camiseta em defesa do voto distrital. Alguns manifestantes apontavam para a camiseta e se diziam simpáticos à (ou mesmo que apoiavam a) proposta. Sugeri que entrassem no site do movimento para conhecer mais detalhes e assinar o manifesto. Por isso, estou otimista.


 

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