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Rota Lisboa (1/2021) Pandemia, terceira onda e vacinas

04 de Janeiro de 2021, por José Venâncio de Resende

O bom exemplo da vice-presidente Kamala Harris que toma posse este mês nos EUA.

Ano novo, problemas velhos, temperados por grande dose de esperança. O mundo caminha para os dois milhões de óbitos decorrentes da pandemia do novo coronavírus. As explicações mais comuns são o surgimento de novas variantes mais infecciosas no Reino Unido e na África e os excessos cometidos nas festas de fim de ano.

O brutal aumento de infecções já está colocando em risco de colapso o sistema de saúde de vários países. Fala-se inclusive em terceira onda, tanto assim que governos europeus estão apertando o cerco, quer com restrições à circulação das pessoas, quer com ameaça de confinamento total.

As vacinas começaram a ser aplicadas no final do ano na Europa, nos Estados Unidos e em alguns países asiáticos. Mas ainda em quantidades modestas, em geral destinadas aos profissionais de saúde e funcionários e idosos de lares, e esporadicamente em pessoas de mais idade fora destas prioridades. Especialistas acreditam que dificilmente os resultados aparecerão antes do verão europeu (a partir de junho).

Um dos problemas principais é a escassez de doses, uma vez que a demanda é enorme e a produção limitada no curto prazo. A Pfizer, por exemplo, já alertou que terá dificuldades de cumprir o cronograma de entrega aos países europeus. Assim, corre-se para aprovar a vacina da Astrazeneca/Oxford, de maneira a ampliar a oferta. Só Portugal espera receber cerca de 20 milhões de doses este ano, o suficiente para vacinar toda a sua população (duas doses) e ainda deixar parte em estoque.

O Brasil continua sem um plano nacional de vacinação, o que transforma numa balbúrdia o combate ao coronavírus. O Instituto Butantan de São Paulo informou ter fechado o ano com quase 11 milhões de doses da vacina Coronavac (importadas ou em produção local), para vacinar prioritariamente os profissionais de saúde e idosos no âmbito do Estado. Mas já há uma corrida por parte de vários municípios brasileiros, ou consórcios de municípios, para encomendar a vacina.

O Butantan ainda aguarda informações da parceira chinesa Sinovac Biotech para entrar com solicitação de aprovação na Anvisa. Aliás, é impressionante o ruído de comunicação em torno desta vacina, com idas e voltas sobre o anúncio da taxa de eficácia, o que acaba por reforçar o discurso negacionista e preconceituoso do presidente Bolsonaro. De qualquer forma, o plano do governo paulista é iniciar a vacinação em 25 de janeiro, aniversário da capital.

Já a Fiocruz foi autorizada pela Anvisa a importar dois milhões de doses da Astrazeneca/Oxford, que começou a ser usada nesta segunda-feira (4) no Reino Unido, e, tão logo seja possível, iniciar a produção da vacina no Brasil. Esta vacina esteve envolta em polêmica por ocasião do seu anúncio em novembro passado. A farmacêutica Astrazeneca revelava eficácia entre 62% e 90% em análise preliminar. Alguns dias depois, nova análise apontou dúvidas, inconsistências e erros relacionados ao estudo clínico da fase 3, a última etapa antes da aprovação pelas agências regulatórias. A justificativa da empresa foi que uma parte dos voluntários recebeu apenas meia dose na segunda aplicação.

Agora, insinua-se que o governo britânico teria pressionado a agência reguladora para acelerar a liberação da vacina para o uso. Em comentário na noite de domingo (3) na TVI portuguesa, o analista Paulo Portas acrescentou que o governo britânico decidiu, à revelia do regulador, ampliar o intervalo de aplicação das duas doses, de 14 ou 21 dias para 12 semanas, a fim de tentar vacinar o maior número possível; o que parece uma medida de desespero diante dos mais de 50 mil casos diários de covid-19. Cautelosos, os reguladores europeu e norte-americano resolveram adiar para fevereiro/abril a avaliação da vacina, na expectativa de mais informações.

De qualquer forma, há esperança de que novas vacinas sejam aprovadas este ano, como a da farmacêutica Johnson & Johnson (vantagem de uma única dose). No Brasil, por enquanto, a esperança está depositada nas vacinas Coronavac e Astrazeneca/Oxford. Enquanto isso, a orientação dos especialistas é no sentido de continuar adotando as medidas preventivas (distanciamento social, máscaras etc.), tudo aquilo que Bolsonaro abomina e desrespeita, ostensivamente, dando um sinal trocado para seus admiradores e seguidores. 
    
 

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