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ROTA LISBOA (5): Tempos tempestuosos

07 de Outubro de 2020, por José Venâncio de Resende

Primeiro jogo com público da liga de futebol na pandemia (fonte: Rádio Renascença).

Era uma convidada para lá de especial. Em evento incomum, a presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen, deixou Bruxelas (Bélgica) para participar da reunião do Conselho de Estado de Portugal (órgão de consulta do presidente da República), no dia 29 de setembro (uma terça). Citou o grande poeta Luís de Camões e fez rasgados elogios a Portugal, principalmente na forma como vem lidando com a pandemia. “Não consigo pensar num país melhor para nos guiar na tempestade.”

Uma semana depois, surge a notícia de que um dos conselheiros que participaram da reunião com von der Leyen estava infectado com o novo coronavírus. Trata-se do advogado Antônio Lobo Xavier, um dos cinco cidadãos designados pelo chefe de Estado para compor o Conselho. Os demais membros são titulares de cargos (primeiro-ministro; presidentes da Assembleia da República, do Tribunal Constitucional e dos governos regionais; provedor de Justiça e antigos presidentes da República), além de cinco eleitos pela Assembleia da República.

Até agora, os demais membros do Conselho de Estado testaram negativo à covid-19, muitos deles inclusive com idade avançada. Esta foi a primeira reunião presencial durante a pandemia (as duas anteriores foram por videoconferência). O detalhe é que a reunião ocorreu com todas as medidas de segurança exigidas pela pandemia, como distanciamento físico e uso de máscaras.

Tão logo a Presidência da República foi informada pelo próprio Lobo Xavier de que estava infectado, no domingo (4) ao fim da tarde, “todas as pessoas que estiveram presentes na reunião, inclusive a presidente da Comissão Europeia, foram avisadas. Lobo Xavier disse que não conseguiu identicar onde “as minhas defesas e os meus cuidados falharam” contra o vírus. E, aliviado, completou: “Seria trágico, muito triste pra mim que fosse eu a infectar alguns dos conselheiros, pessoas que eu admiro muito, e a própria presidente da Comissão Europeia. Felizmente isso não aconteceu”. A observar que, além do infectado, a presidente da Comissão Europeia (que testou negativo) ficou em quarentena porque assim o exige o governo da Bélgica.

À parte a citação de Camões e o elogio de von der Leyen, em Portugal discute-se como investir, em apenas nove anos, cerca de 50 bilhões de euros disponibilizados pela Comissão Europeia. Há o risco - um grande temor por aqui até por razões históricas - de que esse “saco de dinheiro” caia nas mãos erradas e Portugal desperdice uma oportunidade que ninguém sabe se haverá de novo, como advertiu o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Despejar dinheiro em projetos questionáveis (obras públicas rodoviárias, por exemplo) é um risco.

Recentemente (23/09), o primeiro-ministro Antônio Costa resumiu o que se deseja com o programa de recuperação econômica e resiliência, cuja primeira versão será entregue a Bruxelas nos próximos dias. Prioridade 1: responder às vulnerabilidades sociais evidenciadas pela pandemia (saúde, proteção dos mais velhos, carências habitacionais, integração dos territórios); prioridade 2: “aumentar o potencial produtivo» (qualificações, modernização do ensino profissional e diversificação dos estudantes a frequentar o ensino superior, reforçar a cooperação entre a ciência e o tecido produtivo com foco na reindustrialização e reconversão em setores estratégicos para a integração de Portugal nas cadeias de valores globais); e prioridade 3: «assegurar um território mais competitivo externamente e mais coeso internamente».

De acordo com a orientação da União Europeia, as três prioridades devem considerar o máximo aproveitamento das “potencialidades da transição digital” e a urgente transição climática (substituição das energias poluidoras por energias limpas).

Estádios vazios

Sábado (3) foi especial para a principal liga portuguesa de futebol. Os Açores foram palco da volta do público aos estádios, com o jogo Santa Clara-Gil Vicente; isto apesar de os números de infecções e mortes pela covid-19 terem voltado a subir, na chamada por muitos de “segunda onda”. Após meses sem público, mil pessoas (10% da capacidade) puderam ver um jogo profissional no estádio de São Miguel, um ensaio para o regresso do público tão reclamado pelos dirigentes do futebol.

A experiência continua com o jogo amistoso entre as seleções portuguesa e espanhola, em Lisboa, nesta quarta-feira (7). O público vai ocupar 5% (2.500 lugares) da lotação máxima do estádio de Alvalade. Além do distanciamento físico, outras exigências são as de uso de máscara e higienização das mãos, acrescidas do controle de entrada e saída dos torcedores.

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