Voltar a todos os posts

ROTA LISBOA (9): Estados Unidos, acordo de Paris e mudanças climáticas

05 de Novembro de 2020, por José Venâncio de Resende

Clima: esperança depositada em Biden.

Os Estados Unidos não são uma ilha, principalmente quanto se trata da ameaça do aquecimento global, embora nos últimos quatro anos o presidente republicano Donald Trump tenha agido de forma isolacionista. Tanto que, em plena apuração dos votos das últimas eleições, o país formaliza o seu desvinculamento do Acordo Climático de Paris, cuja decisão fora tomada por Trump em 2017. 

Assim, a esperança de uma reversão desse retrocesso recai sobre o provável presidente eleito, o democrata Joe Biden. Ele prometeu tornar a América neutra em carbono em 2050, se eleito. Promessa que ganha significância, pois os Estados Unidos são o país que mais emite gases de efeito estufa per capita, e sua omissão compromete o movimento mundial contra as mudanças climáticas. A vitória no controle do aquecimento global depende das ações coordenadas de todos os países. 

Porém nem tudo foi perdido, graças à ação de estados-chave norte-americanos, que tentam utilizar a autonomia que possuem para fazer a sua parte. Um exemplo é a Califórnia, o maior estado do país, que tem “uma política nacional californiana para combater as alterações climáticas”, diz Thomas Pellerin-Carlin, diretor energético do Instituto Jaques-Delors, em entrevista à Euronews (04/11). “Portanto, ainda podemos continuar a trabalhar com os estados americanos – ou pelo menos com alguns, mesmo se os Estados Unidos se retirarem formalmente do acordo de Paris.”

Enquanto se aguarda a definição dos Estados Unidos, o novo primeiro-ministro do Japão, Suga Yoshihide, em seu primeiro discurso no parlamento no final de outubro, prometeu reduzir as emissões de gases poluentes para zero em 2050, avançando em relação ao seu antecessor, Abe Shinzo, segundo a revista The Economist (edição de 29/10). O Japão é a terceira maior economia mundial e o quinto maior poluidor, com relativamente baixo recorde na redução de emissões, em linha com o Reino Unido e a União Europeia e um pouco à frente da China, que em setembro prometeu zerar as emissões em 2060. 

De acordo com a revista britânica, no Japão, mais de 160 governos locais, representando 62% da população, já haviam prometido emissões zero em 2050. Muitas empresas-líderes, como Sony, Panasonic e Sumitomo Chemical, tem adotado ambiciosas metas de emissões. Mesmo a Keidanren, a poderosa federação das indústrias que é o bastião da indústria pesada, começou a falar sobre “descabonização”. “As indústrias de energia intensiva que opõem à mitigação climática tem se tornado uma minoria”, diz Kameyama Yasuko, do Instituto Nacional de Estudos Ambientais. 

O Japão não quer ficar atrás de países como a China e os Estados Unidos (caso vença Joe Biden), diz Sugiyama Masahiro da Universidade de Tóquio. “É algo vergonhoso para o Japão ficar atrasado em relação à China.” Muito menos resistir a um consenso global. 

O primeiro passo seria aumentar as metas para energia renovável. Atualmente, o governo estima que 22 a 24% da eletricidade virão das renováveis em 2030; 20 a 22% de nuclear; 26% de carvão; e 27% de gás natural. Mas a expectativa do Ministério da Economia, Comércio e Indústria é de que esta meta pode mudar, uma vez que a tendência é a política de clima se antecipar à política de energia.   

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário