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ROTA LISBOA

17 de Setembro de 2020, por José Venâncio de Resende

Mistura explosiva entre futebol e política

Uma das polêmicas dos últimos dias em Portugal foi a inclusão do nome do primeiro-ministro Antônio Costa, do Partido Socialista, na comissão de honra de apoio à reeleição do empresário Luís Filipe Vieira na presidência do Benfica, um dos maiores clubes portugueses. Não que isso seja novidade, afinal o que não faltam são políticos (deputados e prefeitos) de diferentes partidos em conselhos de clubes de futebol.

A repercusão no meio político e na imprensa foi intensa, não apenas por questão de princípio. Também porque Vieira é acusado de tráfico de influência junto à Justiça (lenta, por cá também) para acelerar a devolução de 1,6 milhão de euros (cada euro vale mais de 6 reais) em imposto cobrado indevidamente pelo fisco português. É acusado ainda de ter causado perda de 225,1 milhões de euros ao Novo Banco (do qual é um dos maiores devedores), que se tornou um saco sem fundo de dinheiro público.

Vieira não resistiu à pressão e “expulsou” os políticos da comissão de apoio à sua recandidatura, a começar por Costa. Numa semana onde as coisas não correram bem para Vieira, o Benfica foi eliminado pelo Paok (time grego) da Liga dos Campeões. Depois de investir cerca de 80 milhões de euros em jogadores (inclusive brasileiros), a noite da derrota na Grécia representou perda de quase metade deste valor, que é o que o Benfica deixará de ganhar na primeira fase (de grupos) da famosa liga europeia de futebol.

Tanto que já há muita gente perguntando se Jorge Jesus não se terá arrependido de ter trocado o Flamengo pelo Benfica. Enquanto isso, o campeonato português começa com os estádios vazios e cancelamento de jogo (devido a casos de infecções de jogadores), por decisão das autoridades de saúde, para desespero dos dirigentes e frustração dos torcedores.

Caçando máscaras

Todos devem estar acompanhando os incêndios que ardem da Califórnia nos Estados Unidos à Amazônia e ao Pantanal no Brasil. Por aqui, o verão chega ao final com um saldo de incêndios inferior à média dos últimos dez anos, embora tenham ardido cerca de 40 mil hectares de floresta e mato.

Para além da inépcia dos governos em lidar com os incêndios, o fato é que o clima é cada vez mais propício a calamidades, embora os céticos não acreditem nisso. As imagens são dantescas e falam por si. 

Ultimamente, meu esporte preferido nas caminhadas diárias (cerca de 50 minutos) tem sido contar o número de máscaras descartáveis jogadas em ruas e praças. Num única caminhada, cheguei a localizar cerca de 20 máscaras. Boa parte dessas máscaras vai juntar-se aos plásticos em rios e oceanos, contribuindo para aumentar a poluição dos mares e afetar a fauna marinha.

Não bastasse isso, na medida em que se for adaptando ao novo coronavírus (que se tornará endemia, de acordo com virologistas), a vida tenderá a voltar a certa normalidade. Inclusive, com o enxame de carros nas ruas e rodovias e de aviões nos céus, a maior parte ainda movida a combustível fóssil (petróleo e carvão são fonte de 85% da energia), um dos principais responsáveis pela poluição que causa o aquecimento global e a morte de mais de 4 milhões de pessoas por ano.

Assim, os incêndios, as enchentes e outros fenômenos climáticos – e consequentemente mais fome, pobreza e deslocações em massa de pessoas - tendem a ser mais frequentes e violentos, acelera-se o degelo das calotas polares e aumenta o nível das águas dos mares, sem falar dos prejuízos à saúde.

Como diz um jornalista português, está tudo ligado.

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