Tenho acompanhado regularmente o cadastramento de candidatos aos poderes executivo e legislativo no site Ficha Limpa (www.fichalimpa.org.br ), que é uma iniciativa da Articulação Brasileira Contra a Corrupção e a Impunidade (Abracci). Existem milhares de candidatos inscritos às próximas eleições Brasil afora nas categorias de presidente, governador, senador e deputados federal e estadual, porém apenas 35 candidatos já se cadastraram no site, o que mostra que temos muito a caminhar. O cadastramento no site passa por uma prova de fogo, na qual o candidato deve obedecer requisitos como provar que não foi condenado nem renunciou ao mandato ou foi cassado. Além disso, o candidato precisa manter atualizadas no site as informações sobre o financiamento da campanha. Portanto, acho que esta é uma boa referência para o eleitor, enquanto aguarda que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cumpra o seu papel .
***
Dizem que o candidato José Serra, assim como os demais tucanos, tem enorme dificuldade em defender o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas cada um tem a sua cruz a carregar. A candidata Dilma Rousseff , por exemplo, fica pouco a vontade quando questionada sobre o envolvimento no mensalão de seus companheiros petistas de primeiro time, o que quase culminou com o impeachment de Lula. Da mesma forma, a candidata Marina Silva caminha no fio da navalha ao falar das políticas de meio ambiente e energética do governo petista de que foi ministra.
***
Nas últimas entrevistas em programas e jornais de TV, a candidata Dilma mostrou-se insegura , não se conseguiu desvencilhar da imagem de ser totalmente dependente de Lula e não terminava frases e racioncínios; isto além do seu incômodo ao tratar dos aliados corruptos do PMDB e outros partidos. O candidato Serra mostrou mais desenvoltura, simpatia e didática, além de se posicionar mais claramente sobre temas espinhosos; mas teve dificuldades de explicar que pedágios caros são sinônimo de boas estradas em São Paulo e de justificar aliança com figuras incômodas como o petebista Roberto Jefferson. Já a candidata Marina se apresentou com postura elegante e com um português requintado, mas não conseguiu se livrar da imagem de tocar música de uma nota só (ambientalismo), além do desconforto ao falar do governo Lula do qual foi ministra e das lambanças do PT do qual foi filiada. Mas a principal conclusão é que o tempo da TV conspira contra os candidatos, tornando seus discursos superficiais.
***
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa – elogiável sob todos os aspectos pelo seu desempenho como relator do caso do mensalão do PT – andou pisando na bola. Primeiro, afastado do trabalho com base em licenças médicas, é flagrado tomando cerveja com amigos num bar de Brasília (local público). Depois, acusou uma repórter do jornal “O Estado de S. Paulo” de ter invadido a sua privacidade, quando a foto no bar nem foi feita por ela. É uma pena que isso aconteça com o ministro que foi o relator do mensalão. Não seria o caso de renunciar ao cargo do STF, como defendem alguns colegas e advogados, se de fato ele estiver impossibilitado de trabalhar?
***
O ditador venezuelano Hugo Chávez – que enfrenta crise econômica sem precedentes, eleições em casa e fortes pressões internacionais – de repente recuou da sua posição radical e beligerante frente à Colômbia. Usou como pretexto a posse do novo presidente colombiano Juan Manuel Santos e não apenas garantiu que não abriga os terroristas das FARC colombianas (afirmação no mínimo discutível) como também reconheceu a soberania da Colômbia para fazer acordo militar com os Estados Unidos ou quaisquer outros países. Resta saber por quanto tempo vai durar essa “lua de mel”.
***
É preciso ter cautela com informações de que o Irã estaria trocando morte por apedrejamento para enforcamento por causa da repercussão internacional. A iraniana Sakineh condenada à morte por apedrejamento pelo regime islâmico dos aiatolás, sob acusação de adultério e de assassinato do marido, numa “confissão” no mínimo suspeita, é apenas a ponta do véu que cobre o desrepeito à Convenção Internacional de Direitos Civis e Políticos. Casos de condenação a chibatadas e à morte por “adultério” e homossexualismo e de prisões arbitrárias de ativistas políticos que fazem oposição ao regime chegam ao nosso conhecimento, mas não contam toda a verdade do que ocorre nos bastidores do regime iraniano. De 25 a 50 pessoas, entre homens e mulheres, podem estar à espera de pena de morte por apedrejamento no Irã, segundo estimam, imprecisamente, ONGs internacionais. Por isso, é louvável a pressão pela libertação de Sakineh, mas é sobretudo fundamental que o mundo se una para forçar o regime iraniano a respeitar os direitos humanos.
***
O vazamento, no site do Instituto nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), de informações sigilosas de alunos que prestaram o Exame nacional do Ensino Médio (ENEM) não é novidade quando se trata de lambanças envolvendo a instituição. A denúncia de vazamento de prova em gráfica em 2009, a suspensão judicial do pregão eletrônico para licitação de gráfica para imprimir as provas e o aumento descomunal (559%) no contrato para realização de pré-teste (espécie de ensaio) do Enem fazem parte dessa nova fase do Enem. O Enem agigantou-se nos últimos anos, o que o torna alvo fácil de superfaturamento nas contratações de serviços. E vem sendo desacreditado de maneira crescente principalmente por causa de fatos relacionados com incompetência gerencial. Escândalos e atrasos na realização das provas aumentam o descrédito do Enem e as resistências em aceitar os seus resultados para o ingresso nas universidades públicas.
***
O governo do sr. Lula lutou até que conseguiu afrouxar a fiscalização do Tribunal de Contas da União (TCU) em obras públicas tocadas pelas estatais Petrobras e Eletrobras. Quer dizer, aumenta o potencial de superfaturamento e de corrupção em obras feitas com dinheiro dos nossos impostos. O governo ainda conseguiu que as obras públicas para a Copa do Mundo de 2014 sejam contratadas sem licitação, sob o argumento da urgência. Imaginem o desvio de dinheiro público que vai acontecer nesses canteiros de obras Brasil afora. Tamanho esforço se explica porque os companheiros e aliados estão convencidos de que já ganharam a eleição e de que o “cara” vai voltar ao poder em 2014 a tempo de participar como presidente da Copa do Mundo.
Estou no Twitter: www.twitter.com/jvresende