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Um movimento para simplificar a ortografia da língua portuguesa

24 de Agosto de 2014, por José Venâncio de Resende

Estou entre os mais de 35,8 mil cidadãos que já aderiram ao movimento “Simplificando a Ortografia” (http://simplificandoaortografia.com.br/), cujo objetivo é “facilitar o ensino e a aprendizagem da escrita (em português), substituindo o decorar pelo entender”. A ideia básica é facilitar a vida das pessoas.

O movimento quer reduzir as atuais 400 horas/aula de ortografia ministradas desde o início do fundamental até o fim do ensino médio para apenas (ou em torno de) 150 horas/aula. Ao mesmo tempo, quer que os professores, alunos e profissionais de todos os ramos escrevam com mais segurança e desenvoltura, gastando muito menos tempo; que, nas escolas, o ensino de Português foque assuntos mais importantes como leitura, análise, compreensão, interpretação e criação de textos; e que se desenvolva no cidadão a competência comunicativa, tão necessária para o engrandecimento de Angola, Brasil, Goa, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e de seus filhos, onde quer que se encontrem.

O movimento foi idealizado pelo professor Ernani Pimentel, que há 50 anos ensina Língua Portuguesa, Teoria Literária e Análise de Texto. É um pesquisador permanente, com mais de 10 mil páginas publicadas e é autor de vários livros dirigidos ao final do ensino médio e início do superior, como “Gramática pela prática”, “Intelecção e interpretação de Textos”, “Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa” e “Nova Ortografia Simplificada”. Pela internet, tem alunos em mais de 5.100 municípios, além de ministrar palestras e participar de debates e conferências.

Fumaça e fogo

O novo acordo ortográfico começa a valer em 2016, mas parece que a sua assimilação não em tem sido tão tranquila. Tanto que um grupo de trabalho foi criado pelo Senado brasileiro para analisar o que foi proposto neste acordo ortográfico, bem como estudar meios que facilitem o seu aprendizado. O grupo é formado por professores da área de linguística que fazem uma análise técnica do novo acordo, com suporte da Comissão de Educação do Senado.

Se este é o “fogo”, a “fumaça” são os boatos que surgiram, nos últimos dias, na internet, de que tramita no Senado um projeto de lei com o objetivo de promover mudanças radicais na língua portuguesa, segundo noticiou o jornal Correio Braziliense (20/08/2014). De acordo com estas versões, entre as mudanças que o projeto previa, estava a abolição de "ç", "ch" e "ss” da ortografia oficial.

Diante da grande repercussão destes boatos nas redes sociais, muitos professores, alunos e estudiosos da língua portuguesa buscaram informações junto ao Senado. O presidente da comissão, o senador Cyro Miranda, foi ligeiro em informar, por meio de nota oficial, que não são verdadeiras as medidas divulgadas e que preocuparam muita gente na web. “Recentes notícias de que estaríamos a ponto de reformular a ortografia da língua portuguesa não procedem.”

Também a assessoria da senadora Ana Amélia, vice-presidente da mesma comissão, garante que até o momento não está prevista nenhuma mudança radical na língua portuguesa. As ideias de realizar alterações pontuais na ortografia seriam apenas visões particulares de profissionais da educação que participam do grupo de trabalho e não uma decisão em conjunto da comissão ou mesmo um projeto de lei já formulado. Antes de qualquer alteração na língua portuguesa, o assunto deverá ser debatido com outros países que utilizam o idioma e, principalmente, com a sociedade brasileira.

Galego-português

Exista ou não o projeto de lei, Roberto Moreno, presidente da Fundação Geolíngua, propôs ao senador Cyro Miranda uma reforma mais profunda, que incorpore o “galego”, numa homenagem ao rei D. Dinis que, há oito séculos, criou a primeira “marca branca” do mundo, “nomeando, simplesmente, de português o galego. A ideia seria criar uma “nova marca branca” para o “galego-português”, que ele denomina “geolíngua” “para não ferir susceptibilidades, quer em Portugal, quer no Brasil”.

Moreno parte do fato histórico de que, em 1290, D. Dinis decretou que, em vez do latim, o galego-português fosse usado na corte com o nome "português". Assim, o rei adotou uma língua própria para o reino, tal como o seu avô fizera com o castelhano. Em 1296, o português passou a ser usado não só na poesia, mas também na redacção das leis e pelos notários. “Portanto, e como reza a história, e diante dos factos, a língua portuguesa foi criada por Decreto Real. Na situação geopolítica e sociocultural em que Portugal se encontrava, nessa época, esta foi a decisão Régia mais acertada.”

Mais tarde, em 1874, Alexandre Herculano disse que "A Galiza deu-nos população e língua, e o português não é senão o dialecto galego, civilizado e aperfeiçoado”, reforça Roberto Moreno. E conclui com Umberto Eco: «O certo é que as línguas não podem ter nascido por convenção já que, para se porem de acordo sobre as suas regras os homens necessitariam de uma língua anterior; mas se esta última existisse, por que razão se dariam os homens ao trabalho de construir outras, empreendimento esforçado e sem justificação?»

De qualquer forma, apesar do pronto desmentido sobre o projeto de lei e da cautela dos senadores, especialmente em ano eleitoral, a discussão do assunto está mais viva do que nunca. Talvez não haja disposição para uma reforma tão profunda, pelo menos neste momento. Mas, se existe um tema em que a liderança do Brasil é fundamental, este é o futuro da língua portuguesa.

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http://www.jornaldaslajes.com.br/integra.php?i=1421

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