Bandidos e políticos – Por mais que seus assessores tentem explicar, é inaceitável – e mesmo uma desonra ao Brasil - a declaração do sr. Lula, sobre a morte do dissidente cubano Orlando Zapata por greve de fome, comparando os presos políticos de Cuba a bandidos de São Paulo. “Imagine se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrassem em greve de fome e pedissem libertação.” A declaração do sr. Lula ganha maior gravidade na medida em que outro dissidente político, o psicólogo cubano Guillermo Fariñas, em greve de fome pela libertação de presos políticos, está com a saúde em condições precárias. Neste e noutros assuntos, o sr. Lula vai se enrolando nas palavras na mesma proporção em que sua popularidade sobe nas pesquisas de opinião pública.
Veio pra confundir – O presidente Lula mais parece o velho comunicador Chacrinha, falecido em 1988, que apresentou programas nas principais redes de TV do país: “Eu vim para confundir, e não para explicar”. O tempo todo o sr. Lula usou a máquina pública ao arrepio da lei para promover a sua candidata a presidente, a ministra Dilma Rousseff, inaugurando obras inacabadas ou de importância duvidosa. Agora, apenas porque o candidato da oposição, faltando pouco mais de 15 dias para deixar o governo, apresentou a maquete de uma ponte que será construída no litoral paulista, diz que o José Serra está inaugurando até maquete.
“Dai a César o que é de César” - O sucesso do governo Lula tem raízes muito mais profundas do que os petistas admitem. Os principais programas de transferência de renda e combate à pobreza (Previdência Rural e Benefício de Prestação Continuada - BPC Loas) foram garantidos pela Constituição de 1988. A estabilidade da moeda, que acabou com a hiperinflação, é fruto do Plano Real criado no governo Itamar Franco, quando FHC era ministro da Fazenda. O sistema de metas de inflação e o câmbio flutuante, que mantiveram a estabilidade monetária – e, portanto, o poder aquisitivo das famílias de menor renda – foram estabelecidos no governo FHC. A Lei de Responsabilidade Fiscal, que colocou ordem nas contas públicas, foi aprovada no mesmo governo, bem como a criação do Bolsa-Escola e outros programas sociais. A manutenção do controle da inflação e a ampliação dos programas sociais (fusão do Bolsa-Escola com outros programas como o vale gás) são méritos do governo Lula, que inclusive soube aproveitar os ventos favoráveis na economia mundial para aumentar saldos comerciais e engordar as reservas em dólar do país. No mais, prevale o palanque sobre os resultados concretos.
“Petróleo é nosso” – A aprovação pela Câmara dos Deputados (falta votação no Senado) da distribuição igualitária entre os estados dos royalties do petróleo gerou uma reação emocional dos políticos cariocas, numa tentativa de reviver a campanha em defesa da Petrobrás nos anos 1950 denominada “o petróleo é nosso”, só que agora em favor dos estados produtores (Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo). Um dos argumentos mais freqüentes é o de que estados e municípios produtores estão sendo usurpados de um direito adquirido e vão à falência. A proposta dos deputados Ibsen Pinheiro (RS) e Humberto Souto (MG) é oportuna para se fazer algumas considerações: os projetos regulatórios de exploração do petróleo da camada do pré-sal estão sendo usados de maneira oportunista-eleitoral pelo governo do sr. Lula; os senadores tem a oportunidade de rever não apenas a questão da distribuição dos royalties do petróleo como também – e principalmente – os projetos que devolvem o monopólio da Petrobrás, criam nova estatal e mudam o modelo de exploração; os estados e municípios produtores de petróleo precisam entender que a receita dos royalties não deve ser desperdiçada por políticos perdulários e irresponsáveis, pois esses recursos são finitos.
Mérito – Corre na imprensa que o sr. Lula e seus aliados estão irritados por causa do projeto do senador tucano Tasso Jereissati, que prevê pagamento adicional de Bolsa-Família a crianças que obtenham boas notas na escola. O governo petista, que é gastador inveterado, alega que a proposta promove a “farra do boi” com dinheiro público em ano eleitoral. Engraçado! Os petistas sempre assumiram a paternidade do Bolsa-Família, ex-Bolsa Escola. E agora reagem a uma proposta que tem a virtude justamente de premiar o aluno que se diferenciar dos demais como fruto do seu próprio esforço. O que não é novidade, uma vez que os petistas sempre gostaram de nivelar por baixo; em outras palavras, tem horror a valorizar as pessoas pelo seu mérito.
Isolado - Como no caso de Honduras, quando apoiou a resistência do ex-presidente Zelaya, sem sucesso, e até hoje não reconheceu o novo governo, a diplomacia do sr. Lula comandada pela dupla dinâmica Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia corre o risco de ficar isolada também no caso do Irã. A comunidade internacional caminha para aprovar sanções políticas e econômicas contra o governo iraniano em represália ao seu programa atômico. O Brasil é contrário a pressões contra o Irã e diz acreditar no diálogo com uma ditadura. A questão está em acreditar na sinceridade de um governo intolerante e assassino de opositores como o iraniano. Com diz o embaixador Sérgio Amaral, o Brasil corre o risco de ver o seu programa nuclear perder a credibilidade na comunidade internacional por insistir nesta aliança esquizofrênica com um regime beligerante e que, tudo indica, caminha para a construção da bomba atômica.
Doação oculta – Partidos do governo e da oposição se juntaram contra a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que restringe, nas próximas eleições, as chamadas doações ocultas. Em outras palavras, as empresas doam dinheiro oficialmente aos partidos políticos, que transferem anonimamente aos candidatos. Outra decisão da Justiça que irritou os políticos é a que exige ficha criminal antes de se candidatarem. Como os políticos não cumprem a própria obrigação - de acabar com as doações ocultas de campanha e aprovar a proposta de lei dos chamados fichas-sujas (candidatos a cargos eletivos que tem problemas na Justiça) – o TSE vai fazendo a sua parte.
Descrédito – Espera-se que a mudança da presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) recupere a credibilidade que o órgão andou perdendo nos últimos tempos. O ministro Ricardo Lewandowski foi eleito o novo presidente do TSE, com a missão de organizar as eleições deste ano. O sr. Lula vem há algum tempo fazendo campanha eleitoral explícita em benefício de sua candidata à presidência da República, Dilma Rousseff. No entanto, o TSE tem sistematicamente recusado o argumento da oposição de que o sr. Lula está usando descaradamente a máquina pública para fazer campanha em favor de sua candidata. Quem sabe agora o TSE use o seu conhecido rigor também contra o dono do poder de plantão.
Exploração bancária – O governo Barack Obama pressiona o Congresso dos Estados Unidos para criar uma agência independente de proteção aos consumidores contra os abusos dos bancos. Como reagiria o governo e os políticos brasileiros a uma proposta desta? Afinal, o governo Lula esvaziou o papel as agências autônomas de telecomunicações, energia elétrica, transportes etc. Mas, diante das taxas de serviços astronômicas e dos juros indecentes cobradas pelos bancos, inclusive públicos, uma agência do gênero até que viria em boa hora. Desde que fosse profissionalizada e não dominada por políticos.
Uma declaração inaceitável que compara presos políticos e bandidos
17 de Marco de 2010, por José Venâncio de Resende