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Uma viagem pela região vinhateira do rio Douro, no norte de Portugal

26 de Setembro de 2012, por José Venâncio de Resende

Viagem de barco pelo rio Douro na região vinhateira de Portugal

Com a chegada do outono, começam as vindimas (colheita e pisoteamento das uvas) em Portugal. Oportunidade para os políticos, em época de crise, manifestarem otimismo, como foi o caso da ministra da Agricultura que apareceu nos telejornais participando de vindima em Peso da Régua, às margens do rio Douro, cerca de 40 km de Resende. Oportunidade para os agricultores reclamarem de falta de apoio do governo e especialistas dizerem que será uma ótima safra tanto em quantidade quanto em qualidade das uvas.

Visitei a centenária Quinta da Pacheca, em Peso da Régua, um exemplo da grande transformação que vem ocorrendo na região vinhateira do Douro. Ali, os interesses de produtores de uva e vinho cada vez mais convergem-se com a crescente afluência de turistas que chegam de várias partes do mundo. O binômio vinho-turismo já é uma realidade.  

Na sua quarta geração de proprietários, a Pacheca cultiva cerca de 50 hectares (36 hectares na própria Quinta e 17 hectares na Quinta de Vale Abraão) com as castas mais tradicionais de uvas do Douro (Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Barroca, Tinto Cão, Tinta Roriz, Sousão etc.), tanto para vinhos tinto e branco quanto para o vinho do Porto. Destas vinhas saem 220 mil litros por ano, com foco no vinho de mesa, dos quais 110 a 150 mil litros de tinto (o restante é distribuído em 70 mil litros de vinho do Porto e 20 mil litros de vinho branco).

A Quinta da Pacheca foi uma das primeiras a engarrafar vinho com a própria marca. Este vinho ainda é produzido à moda antiga. O pisoteamento da uva em lagar de granito (a fermentação para o tinto ocorre no mesmo local) conta com a “colaboração” cada vez mais frequente de turistas, que ao visitar a Quinta se interessam em participar da tradicional “cerimônia” (inclusive, vestidos a caráter) ao som de música portuguesa por acordeom. Quando estive na Quinta, encontrei um grupo de brasileiros, franceses e portugueses que vivem no exterior entusiasmados com a oportunidade de participar do pisoteamento das uvas.   

É verdade que a colheita da uva na região, de maneira geral, já foi modernizada, ou seja, os colhedores – mão de obra cada vez mais escassa – tem o suporte de tratores que transportam a uva. É cada vez mais comum jovens estudantes procurarem as quintas nesta época do ano para ganhar alguns euros durante a vindima.

A Quinta da Pacheca não tem tradição em vinho do Porto – a produção começou apenas a partir de 2000. Tanto o vinho do Porto quanto os vinhos de mesa tinto e branco são estocados no próprio armazém da Quinta. Lá se encontra por exemplo o tawny (aloirado) do Porto, de 8 anos, envelhecido em madeira. Podem ser vistos ainda os rubis, o vintage e o LBV (late bottle vintage) envelhecidos em garrafa.

Trajeto de barco

Um belo passeio é fazer de barco o trajeto de 100 km pelo rio Douro até o Peso da Régua. Antiga rota de transporte do vinho em barris para o Porto (hoje é feito por caminhão, já engarrafado), o trajeto é agora focado no turismo, embora o rio também seja utilizado para transportar granito das pedreiras de Castelo do Paiva. O Douro continua tendo papel destacado na agricultura, uma vez que toda a vida econômica da região gira em torno dele. Sem falar que se tornou uma marca forte de tradição e qualidade.

Quem sai de barco da cidade do Porto percebe ao longo do percurso a mudança da paisagem, até que as encostas do rio sejam totalmente tomadas pelo verde das vinhas – que formam “degraus” de imensas “escadas” e um mosaico de figuras geométricas. Este mosaico da atividade vinhateira multissecular, que molda as encostas do Douro, levou a UNESCO a considerar, em 2011, o Alto Douro Vinhateiro “uma paisagem cultural, evolutiva e viva”.

Exportações

No século XVII, surgiu a primeira alusão ao “vinho do Porto” e, neste mesmo século, o vinho do Porto já é exportado para a Inglaterra. No século XVIII, a crise nas exportações levou o ministro de D. José I, Sebastião José de Carvalho e Melo – mais tarde Marquês de Pombal –, a criar, em 1756, a “Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Douro”. O Douro tornou-se, assim, a mais antiga “região demarcada do mundo”.

O aperfeiçoamento do plantio das diferentes castas de vinha e o processo de fermentação garantem um vinho excepcional. Mas os vinhos do Douro não são apenas o denominado vinho do Porto. Também apresentam uma extensa variedade de vinhos de mesa, espumantes e de moscatel.   

O vinho não é mais o principal produto exportável do norte de Portugal, de acordo com Maria da Paz Camiña da Câmara de Comércio e Indústria – Associação Comercial do Porto. Há atividades que tem mais valor incorporado e portanto mais peso nas exportações, como têxteis, indústria farmacêutica e veículos. Porém o vinho ainda é importante atividade econômica, em termos de geração de renda e trabalho e por ser uma marca forte da região.

Para se ter ideia da importância da região, em 2011 as exportações portuguesas de bens por localização geográfica somaram 42,3 bilhões de euros, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (http://www.ine.pt/). Deste total, o Norte do país respondeu por 15,7 bilhões de euros e a grande Porto por 4,9 bihões de euros.

Outras informações sobre a região podem ser obtidas no Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (http://www.ivdp.pt/).

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