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Absurdo dos absurdos

15 de Fevereiro de 2013, por Rosalvo Pinto

Na semana de 14 a 20 de janeiro chamou-me a atenção uma reportagem da Globo mostrando uma cena de arrepiar. Já acostumado com assassinatos, latrocínios, estupros, roubos, tiroteios, drogas e corrupções do dia-a-dia, confesso que fiquei pasmado, dessa vez, com um crime hediondo praticado contra a educação. Na capital do Maranhão, São Luís. No reduto e nas barbas dos sarneys da vida, dos Castelos, dos Lobões et caterva (essa, do latim, merece ser traduzida: súcia, malta, corja, laia etc.), os eternos sanguessugas do pobre povo daquele estado.

Deixo hoje de lado meus “causos & cousas”. Minha vida foi sempre dedicada à educação. Sempre defendi ferrenhamente a ideia de que sem educação nosso país vai continuar patinando na pretensão de ter uma sociedade justa, igualitária, com segurança e sadia. Também sempre fiz da minha cátedra um púlpito para o sermão em prol da educação. Já tive meus dois filhos expulsos da escola privada (e religiosa...) em Brasília, por ter batalhado, em associações civis, para defender a escola pública e de qualidade para todos brasileiros.

Hoje, faço da minha coluna no JL um púlpito para denunciar o desprezo pela educação por parte das autoridades responsáveis por ela. Que me perdoe a jornalista Eliane Cantanhêde, da Folha de São Paulo (20 de janeiro passado, p. A2), pois vou roubar o texto de sua coluna e transcrevê-la na minha coluna. Ela também deixou de lado os temas políticos - sua especialidade -, para também denunciar um crime contra a educação.

“O futuro jogado às traças

BRASÍLIA – Em meio a tantas discussões econômicas e à enxurrada de mortes que assola o país, passou quase em branco uma das imagens mais chocantes da semana passada: ônibus escolares novos em folha, 300 mil livros didáticos, uniformes, tênis, material e pilhas impressionantes de cadeiras apodrecendo num depósito ou debaixo de sol e chuva há pelo menos dois anos.

Tudo isso foi mostrado pelo repórter Alex Barbosa no “Jornal Hoje”, da Rede Globo, justamente em São Luís, no Maranhão, Estado com o pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), lanterninha em português e matemática e candidato ao Guinness no último Enem: 5 das 10 piores escolas do país são maranhenses.

Logo, tudo o que está jogado ali já seria importante em qualquer cidade, de qualquer Estado, mas teria de ser tratado como tesouro no Maranhão. Os responsáveis pelo descalabro deveriam responder por crime de lesa-pátria – senão hediondo.

O prefeito de São Luís era o tucano João Castelo, que perdeu a reeleição (imagine-se por que...). E, além dele, não havia secretários? Fiscalização externa? Diretores de escolas? Pais de alunos? Não é possível que ninguém tenha visto, ouvido e gritado por socorro.

E esse é só um caso entre centenas, até milhares, que ocorrem por toda a parte, mas não vão parar na TV e ninguém fica sabendo.

Dilma, que dá prioridade à educação (aumento diferenciado para professores, investimentos muito acima da inflação, o Ciência sem Fronteiras), deve ficar enlouquecida.

Assim como a Saúde tenta reaver 300 ambulâncias abandonadas em todo o país, o MEC vai passar um pente-fino nos convênios e programas com recursos federais em São Luís e denunciar ao Ministério Público.

Até lá, os cinco ônibus escolares, os 300 mil livros e todo o resto ficam jogados às baratas, às traças e aos bodes que devoram o futuro das crianças do Maranhão e de tantos outros brasileirinhos por aí”.

O ex-prefeito João Castelo, antigo aliado da ditadura, já foi deputado, senador e governador. Não viu nada. E o patriarca da “dinastia Sarney”, há mais de 50 anos empoleirado no poder? Foi um péssimo presidente da república, por acaso. Alguém se lembra da inflação de 80% ao mês? Da moratória que arrasou a economia? Do fracasso dos “fiscais do Sarney”? E, pior, desde que saiu da presidência, em 1989, garante sempre e facilmente sua eleição como senador, mas pelo Acre. Com qualquer cinco mil eleitorzinhos ele se mantém no Senado. Poucos sabem disso. Em 1989, como presidente e seu genro, Jorge Murad, seu secretário particular, estiveram na corda bamba de uma CPI sobre corrupção em seu governo. Uma das mais longas no Congresso: durou um ano e, como sempre acontece, terminou em pizza. Ou melhor, teve o mérito de alavancar a eleição do Collor: Foi a famosa “CPI da corrupção” que inspirou ao Collor a campanha do “caça-marajás”, lembram-se?

Onde está a senhora Roseana, filha do Sarney, tantas vezes no governo do Maranhão? E o fiel cão-de-guarda do Sarney, ou melhor, o seu “Lobão”, que também não larga o osso do poder, sempre a reboque de seu padrinho? Será que não dão notícia do que acontece no pobre terreiro da educação maranhense?

Tristeza e vergonha. Vai-se o dinheiro do contribuinte e vai-se a educação das crianças maranhenses. Quem sabe o imortal da Academia Brasileira de Letras (onde sequer deveria ter entrado) não poderia soltar seus “marimbondos de fogo” lá nas escolas de São Luiz, para picar os depredadores da educação de seu pobre Estado? 

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