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“Casos e causos do Vovô Totonho”

17 de Agosto de 2011, por Rosalvo Pinto

Li, agradeço e agora dialogo com  senhor Alair Coêlho de Resende. Agradeço-lhe o presente e o prazer que me deu a leitura do seu “Casos e Causos do Vovô Totonho da Chapada”. Veio de longe, impresso lá em Palmas (Tocantins). O local da edição já inspira e sugere “palmas” pelo seu trabalho.

Há dias queria escrever ou telefonar-lhe. Preferi compartilhar aqui com meus leitores a beleza do livro. Teria muito a comentar sobre ele, mas o espaço do meu “causos e cousas” não me permite.

Começo pela capa. Bonita e inspiradora. Não há como pensar Resende Costa sem que emerja da memória a silhueta da imponente e altaneira Matriz de Nossa Senhora da Penha de França. Independente de quaisquer sentimentos religiosos. Como todo leitor tem o direito de entender e interpretar textos e imagens como quiser, eu vi assentado naquela meia poltrona vazia a figura simpática, serena e sisuda do Totonho da Chapada. Pernas cruzadas, um pito entre os dedos (acertei?), contando aos filhos o causo do “Duende do Açude”. Mas minha imaginação foi ainda mais audaz: cheguei a ver uma enxada naquele cenário. Tal como meu saudoso pai, o “cumpadre Góes”, também o “cumpadre Totonho” passou pela vida carregando uma enxada. Ambos, vizinhos e cumpadres, ligados pela amizade, pelo cultivo da terra e pelo cuidado com as estradas do município.

Entro no livro. O capítulo 1 liga o antigo Arraial da Lage ao movimento da Inconfidência e ao futuro nome da cidade. O 2 apresenta a cidade no século passado. Aí entra em cena a fantástica memória do autor, recuperando fatos e nomes. Já se fala na Banda de Música Santa Cecília, no teatro e no grêmio literário. Este, acredite-se, recebeu como doação do Cel. João Evangelista de Souza Maia o lote ali nos Quatro Cantos, no qual se construiu um moderno bangalô que ficou conhecido, até hoje, como “Grêmio. Alair ressalta a  figura folclórica do “Sô Afonso ferreiro”, que chegou a construir um caminhãozinho apelidado de “Pipoca”, que era dirigido pelo Antero, irmão do Zé Pedro Gancho.

Os capítulos 3, 4 e 5 tratam da participação dos resende-costenses nas guerras, desde a Guerra do Paraguai, passando pela campanha de Canudos e terminando com as duas grandes guerras. Esses capítulos envolvem antepassados queridos e informações curiosas.

O capítulo 6 trata da vida cultural de Resende Costa, começando pela educação, passando pelas produções literárias e tentativas de se criar uma imprensa e culminando com uma fantástica recuperação do movimento teatral. Aqui o autor deu asas à sua memória e à sua saudade: também pudera, ele fez parte daquele, segundo ele, “momento sublime da cultura de Resende Costa”, do qual “jamais nos esqueceremos”. Dele fizeram parte sua primeira esposa, a Socorro do Sô Bico e sua irmã, a Maria da Penha Resende. Nesse capítulo delirei-me com a precisa narrativa da passagem por Resende Costa de um grupo de russos, chamados “Cossacos”, que encantou a população com seus malabarismos e com suas músicas e instrumentos russos. Eu nascia naquele ano (1942), mas como menino ouvi muito falar desse evento.

Outra boa contribuição para a recuperação da memória da cidade está no capítulo 7, no qual o Alair recupera a história do esporte.

O capítulo 8 é dedicado pelo autor à descrição de sua vida familiar: avós, pais, irmãos, suas duas esposas, Socorro Freitas (falecida em 1985) e, posteriormente, Maria Olga Resende Coelho. Entretanto, seus filhos (do primeiro casamento) e netos merecem um destaque especial. Aliás, mais que destaque, eu diria que em todo o livro perpassa e extravasa um grande amor do autor à sua família. No entanto, é às esposas e aos filhos (“... que amamos com toda força de nosso amor”), netos e noras que ele dedica sua obra.

Do capítulo 9 ao 15, o autor reconta os casos “que Vovô Totonho contava”. A menção ao “vovô” reafirma que os “casos e causos” foram escritos para seus filhos e netos. Esses contos foram ouvidos pelo autor no tempo da bucólica Resende Costa de antigamente: “Era, portanto, à luz de lamparinas a querosene ou lampião que nós ficávamos ‘na hora do café da noite’, ouvindo as estórias que Vovô Totonho contava, com artística habilidade e é destas estórias que nos ocuparemos a seguir”. Os contos: Galamonha, Cada qual como fez-fez, O menino Jesus e o palhaço, A engenhoca de fazer sal, O duende do Açude, No jardim da vovó Abigail tinha uma fada”. Esses títulos me deram a sensação de estar lendo o nosso Guimarães Rosa. No último conto o narrador vovô Totonho cede sua vez para a Vovó Abigail. E desfaz-se, ao final, o mistério das fadas. Deixo o desfecho para a curiosidade dos leitores.

Congratulações ao Alair, pela excelente contribuição para a história de nossa Resende Costa. Uma homenagem de amor à figura de um grande resende-costense, vindo lá da região da Chapada para Resende Costa e posteriormente para São João del-Rei, onde veio a falecer. O Guimarães Rosa bem poderia escrever sobre o seu túmulo: “Quando eu morrer – que me enterrem – na beira do Chapadão – contente com minha terra – cansado de tanta guerra – crescido de coração!”

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