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Resende Costa centenária

13 de Junho de 2012, por Rosalvo Pinto

O termo “centenária” certamente será o mais usado neste resto de 2012 em Resende Costa. Quando São Paulo comemorou seus 400 anos (1554/1954), o músico e sambista Waldir Azevedo compôs o dobrado “São Paulo Quatrocentão”. Foi um sucesso. Quase virou o “hino municipal” de São Paulo e conquistou o Brasil. Fico pensando se nós, resende-costenses, não poderíamos variar e criar também a  “Resende Costa centona”. Ficaria mais charmoso e mais popular do que “centenária”, termo elegante e erudito. 

A marca dos cem anos me faz pensar em muitas coisas curiosas sobre nossa cidade. Vou ruminando algumas.

Voltando às origens do povoado primitivo, no século 18, fico imaginando quem teria por primeiro galgado essa enorme pedra. Obviamente, terá sido algum índio da tribo cataguás, que habitava essas paragens. Mas índio não gosta de pedra, gosta mais é de mato e de rios. Pode ter sido algum português, talvez um paulista ou mesmo um mineiro. Imagino esse alguém no topo desse colosso de pedra, sem casas e sem árvores, donde se podia descortinar uma visão de 360 graus.

Quem terá tido a feliz ideia de começar a morar sobre esta pedra? Terá sido o capitão José de Resende Costa e sua família? Teria ele ido primeiro para a Fazenda dos Campos Gerais? Não sabemos. O fato é que foi naturalmente nascendo um pequeno povoado. Tudo no mundo tem que ter um nome e logo deve ter aparecido o “Arraial da Lage”. Não poderia haver nome mais apropriado e bonito.  

O mais intrigante é pensar que nossos ancestrais resolveram criar um arraial no topo de uma imensa pedra, a 1.140 metros de altura.  O costume mais generalizado sempre foi escolher um local possivelmente plano, às margens de córregos ou rios. Na verdade, o problema da água não era tão problema assim, pois, miraculosamente, ao redor da pedra brotavam cinco pequenas minas ou fontes. Os futuros moradores é que fizeram o grande favor de acabar com elas. Décadas atrás elas eram chamadas de fonte “da chácara”, “da mina”, “dos cavalos”, “do João de Deus” (cachoeira) e “da ilha” (que ilha seria essa, que acabou virando “ia”, “a fonte da ia”?).

É sabido que os portugueses trouxeram para o Brasil a religião católica. Então, a primeira coisa que apareceu por aqui teria sido uma cruz ou um cruzeiro, bem no topo da pedra. E logo depois, uma capelinha. É claro que essa capelinha não poderia ter um nome, um santo (ou santa) padroeiro melhor e mais significativo do que “Capela de Nossa Senhora da Penha”. “Penha” é, segundo os dicionaristas, “grande massa de rocha isolada e saliente, penhasco, penedo etc.”. Entretanto, algum conhecedor da França terá sugerido acrescentar o “de França”, referente a alguma igreja ou devoção também situada em um penhasco naquele país. Ou mesmo, a primeira imagem teria sido trazida da França. Enfim, o “de França”, por um desses motivos, terá vindo parar no antigo arraial. Esse nome parece ter caído em desuso por muito tempo, tendo voltado a ser usado mais recentemente.

Isso não aconteceu, por exemplo, com a Penha, da cidade de Vitória, no Espírito Santo. Quem não conhece a beleza daquela penha? Quem vai a Vitória e não sobe ao Convento da Penha não conhece Vitória. O nome da cidade, Vitória, se deve ao episódio da defesa quando da tentativa de invasão pelos holandeses. E aquele penhasco foi um dos baluartes dessa defesa. Tal como em nossa cidade, a penha é motivo de orgulho para os capixabas. Lá é o Convento da Penha, aqui a matriz de Nossa Senhora da Penha.

Entretanto, o Arraial da Lage teve também seus problemas, em função de sua localização. O nosso primeiro historiador, o professor José Augusto de Rezende (nascido na antiga Conceição da Barra), relata-nos em seu opúsculo publicado em 1920, o fato de que “no centro do arraial cruzavam duas estradas: uma ia do norte ao sul da Província; outra, do Rio a Goyaz. À margem desta última estrada, próximo e dentro do antigo arraial, havia ranchos (abrigos para transeuntes), tavernas. Nessas tavernas havia accumulo de gentes de costumes péssimos e de maus instintos; uns eram do próprio logar, outros de fora, cuja gente reunidas em as casas de tavernas, fasiam algazarras etc.”

Se, por um lado, passar pelo arraial era mais penoso, pela sua altitude, por outro, favorecia a segurança das mercadorias que transitavam por essa região. Além disso, o professor nos lembra que “nos tempos primitivos do povoamento do solo brasileiro e mineiro, davam preferência aos logares mais elevados que menos favoreciam aos ataques dos inimigos”.

Relata-nos também o professor um fato pouco conhecido, que engrandece a figura do nosso inconfidente José de Resende Costa, o filho. “Em função do culto religioso, da instrução e dos pobres, o inconfidente José de Rezende Costa Filho deixou uma serie de apólices, com as quaes mantinham no logar, um Capellão, e uma escola para os pobres”.

E termino ainda com as belas palavras do professor José Augusto, referindo-se ao arraial: “um logar tão alto, cuja bellesa natural é innegavel, porque o horizonte é vasto e o clima salubérrimo”.

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