Venda Nova do Imigrante, eis o nome. Cidade capixaba escondida nas faldas da Serra do Mar, a 120 km de Vitória. Os portugueses já tinham estado por lá desde 1500. Dedicaram-se à agricultura, sobretudo a do café. Faltando a mão de obra após a abolição da escravatura, foram abandonando a região. Do outro lado do Atlântico, lutando pela sua unificação, a Itália vivia tempos de extrema penúria. Corajosamente, e em busca de dias melhores, os italianos deixaram a pátria e foram acolhidos no Brasil. As enormes dificuldades de adaptação e a dureza do trabalho os impulsionaram a se unirem para sobreviver. Trouxeram para o Brasil o que podiam ter de melhor: a capacidade de trabalho, o cooperativismo e o espírito de solidariedade.
As primeiras famílias – Venturim, Altoé e Carnielli – chegaram ao Espírito Santo em 1891. Seguiram as famílias Caliman, Sossai, Perim, Zandonade, Falqueto, Ambrosim, Cola, Zorzal, Colodete, Casagrande, Paste, Camata, Zambom, entre outras. Assim nasceu a “Venda Nova”, no início pertencente a Conceição de Castelo. Só em 1988 emancipou-se. O município manteve o nome de Venda Nova, com o acréscimo de “do Imigrante”, em homenagem aos bravos antepassados que souberam transformar, em pouco tempo, aquela região inóspita num paraíso de bem-estar e de progresso.
Cidade muito ligada aos salesianos de Dom Bosco, os membros da Rede de ex-salesianos tiveram a feliz ideia de realizar seu 11º encontro anual naquele recanto de céu. Feliz escolha. Nos dias de 21 a 23 de setembro, a comunidade vendanovense nos acolheu com simpatia, música, comida capixaba, passeios e visitas inesquecíveis, em síntese, com todo carinho.
Vamos conhecer um pouco da Venda Nova do Imigrante. Segundo o censo de 2010, 20.477 habitantes, o dobro de nossa Resende Costa. Os dados sócio-econômico-culturais são de causar inveja.
A renda média anual per capita é de aproximadamente 2.000 reais. Tem uma das melhores distribuições de renda do estado. Predominam as pequenas propriedades. Algumas famílias sobrevivem muito bem com dois ou três hectares de terra, utilizados de forma intensiva, cultivando flores, hortaliças etc. Foi a primeira cidade do Espírito Santo a dispor de sistema de coleta e tratamento de esgoto, desde a década de oitenta.
Venda Nova tem uma economia diversificada e até certo ponto sofisticada. O café, que já foi a cultura predominante, não o é mais. Foi premiada recentemente com o título de "capital do agroturismo no Brasil”, pois atrai, além dos brasileiros, turistas estrangeiros.
O município está sempre entre os dez melhores em indicadores de educação. Tem uma faculdade e um Instituto Federal de Educação (IFES), recentemente implantado, focado no atendimento às necessidades locais: gestão de pequenos negócios e tecnologias alternativas para pequena produção.
É uma comunidade pacífica, com índice de criminalidade quase nulo. Neste ano, por exemplo, nenhum caso de assassinato.
A cidade investe em cultura: teatro, um coral (desde 1938) e dispõe hoje de um grande e moderno centro cultural.
Todos os dados acima se devem a um fator fundamental: trata-se de uma comunidade na qual as pessoas participam solidariamente da vida da mesma. O voluntariado faz parte da cultura local. O Colégio Salesiano, o hospital, a igreja, o abrigo para idosos são, entre outros, exemplos do trabalho coletivo. A famosa festa anual da “Polenta” conta com o trabalho voluntário de mais de 700 pessoas. A jardinagem da avenida central (trecho da BR 262) foi feita e é cuidada por uma associação de voluntários.
Nós, resende-costenses, bem que poderíamos nos espelhar no modelo vendanovense. Teríamos uma cidade muito melhor do que a que temos hoje. Parece que na nossa região e em nossa cidade persiste o tipo de sociedade do “cada um para si e Deus (ou melhor, a prefeitura...) para todos”. Coisas boas do passado não foram adiante. Onde estão o teatro, o cinema, o grêmio literário, a orquestra, o ginásio, o glorioso Expedicionário? Décadas atrás, venderam, na calada da noite, a metade da praça Mendes de Resende (atrás da Matriz) para particulares, que nem resende-costenses eram. Ninguém se moveu para protestar e barrar tal inominável aberração. Afora o Conselho Patrimonial, ninguém lutou pela retirada da caixa d’água da Copasa nas lajes. Nem sequer conseguimos manter uma fracassada cooperativa agropecuária. Parece que ainda pesa sobre nós a assombrosa praga do pároco padre José Duque. Ao sair da paróquia, teria profetizado: “Resende Costa vai andar sempre um passo à frente e dois pra trás”. Alguém poderia perguntar: e o artesanato? É bem verdade que trouxe um crescimento da economia, mas vale lembrar que esse bem-estar econômico está concentrado em poucas mãos. Houve um aumento de oferta de empregos, sim, mas a relação capital/trabalho é cruelmente desigual. Urge criarmos novas lideranças, independentes de partidos e de brigas políticas. Temos novos administradores e legisladores. É o momento de se repensar o futuro de nossa cidade, revertendo a praga: sempre um passo à frente.
Um exemplo a ser seguido
16 de Outubro de 2012, por Rosalvo Pinto