Cinema

Ensaio sobre a cegueira / Mar adentro

14 de Novembro de 2009, por Carina Bortolini 0

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA (Blindness, Japão/Canadá/Brasil)
Gênero: Drama
Direção: Fernando Meirelles
Tempo de duração: 120 min.
Ano: 2008


Minha primeira participação neste jornal foi uma resenha indicando o livro Ensaio Sobre a Cegueira, do ganhador do Nobel de Literatura José Saramago. Parecia-me impossível ou, pelo menos, inviável filmá-lo, já que, só para se ter uma ideia, os personagens sequer têm nomes. Torna-se, então, motivo de orgulho para nós, brasileiros, que Fernando Meirelles o tenha feito com louvor, tendo em vista que o próprio Saramago, conhecidamente avesso à adaptação de suas obras para o cinema, tenha aprovado essa versão. O enredo é único e fantástico: num dia como outro qualquer, instaura-se uma inexplicável epidemia de cegueira branca numa grande cidade (quiçá no mundo inteiro). É questão de tempo até todos serem atingidos – todos menos uma mulher, misteriosamente preservada, que opta por não revelar-se. Com o confinamento dos cegos num sanatório vazio, inicia-se o jogo de poder entre os mesmos, baseado na violência e na abominável opressão dos mais fracos e desarmados. Quando até as autoridades são atingidas pela epidemia, grupos de cegos passam a vagar pela cidade, em busca do escasso alimento. Foi bacana perceber que a forma como enxerguei a degradação da cidade descrita por Saramago fora perfeitamente traduzida por Meirelles: ruas imundas, lotadas de carros abandonados e pessoas perdidas. Muito impactante. O roteiro metaforiza a condição humana, sob vários prismas: a que ponto exporíamos nossos instintos primários quando necessário sobreviver? Quem realmente somos, quando julgamos que nossas ações não podem ser testemunhadas? Diante de uma hediondez cometida contra o outro, o defenderíamos ou garantiríamos nossa própria segurança? E, principalmente, o que é verdadeiramente importante e valoroso quando se perde quase tudo? É um belo tratado sobre a fragilidade do ser humano, bem como de sua capacidade de fraternizar-se quando as aparências são transpostas. Julianne Moore interpreta brilhantemente a mulher poupada da cegueira, e ainda há excelentes atuações de Danny Glover, Gael García Bernal, Mark Ruffalo e da brasileira Alice Braga. Meirelles demonstra maestria na direção, como em sua opção em filmar com claridade intensa, deixando a imagem esbranquiçada como a cegueira instaurada. Mas faço uma pequena ressalva: a cena mais emocionante do livro, em minha opinião, foi representada de forma frívola e banal. Tendo me levado às lágrimas ao ler a obra, tal sequência passou despercebida no longa. Por isso, continuo indicando o livro, além do filme. Classificação: 16 anos.


MAR ADENTRO (Mar Adentro, Espanha/França/Itália)
Gênero: Drama
Direção: Alejandro Amenábar
Tempo de duração: 125 min.
Ano: 2004


Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2005, este filme soube ser, simultaneamente, delicado e arrasador. Baseado numa história real ocorrida na Espanha entre as décadas de 70 e 90, conta a história de Ramón Sampedro. Interpretado pelo prodigioso Javier Bardem, ele foi um jovem forte e viril que, num terrível infortúnio, ficou tetraplégico ao realizar um mergulho mal calculado. É pungente assistir à luta dilacerante entre uma mente brilhante e super ativa e um corpo débil, incapaz de qualquer movimento. Ficou conhecida em toda a Espanha a batalha judicial que Ramón travou pelo direito à eutanásia – já que sua imobilidade não permitia sequer que ele se matasse sozinho. Após 28 anos de sofrimento, ele bola um estratagema envolvendo dez amigos, de forma que cada um seria responsável por uma etapa de seu suicídio sem que, juridicamente, nenhum deles pudesse ser acusado de homicídio. O senso comum e nossa religiosidade repugnam o suicídio e a eutanásia. Mas quando nos colocamos no lugar de Ramón, todo aquele discurso parece hipócrita, e julgá-lo por sua decisão soa, no mínimo, insensível. É chocante a cena em que ele se declara obrigado a viver. Diante de uma tragédia como essa, qualquer escolha é difícil e dolorosa, tanto para a vítima quanto para aqueles que o amam. Amenábar carrega na poesia na sequência em que Ramón se imagina levantar da cama e sair voando acima do mar que avista da janela de seu quarto, sem limites, sem barreiras. Polêmico, triste e belo. Classificação: 12 anos.

A Troca / Wall-E

09 de Outubro de 2009, por Carina Bortolini 0

O primeiro filme comove simplesmente pela história, sem carregar no drama. O segundo quer divertir, mas emociona especialmente. Confiram!

A TROCA (Changeling, EUA)
Gênero: Drama
Direção: Clint Eastwood
Tempo de duração: 141 min.
Ano: 2008


Sem sombra de dúvidas, Clint Eastwood é um de meus diretores favoritos. Este roteiro é baseado na fantástica (e dramática) história real de Christine Collins (Angelina Jolie), uma mãe solteira que, nos anos 20, não tem alternativa a não ser deixar Walter - seu filho de 9 anos - em casa e sair para fazer hora extra. Ao voltar, não o encontra, e dar-se-á início a seu martírio. A história de Christine ficou conhecida por desvelar a absurda incompetência e corrupção da polícia de Los Angeles à época. Cinco meses após o desaparecimento do garoto e havendo grande pressão por parte da opinião pública, a polícia anuncia haver encontrado Walter numa cidade próxima, e marca um encontro do mesmo com a mãe na estação de trem. Entre jornalistas afoitos e policiais sorridentes, Christine vivencia o pesadelo de receber em seus braços outro menino que não o seu. Diante da angustiada contestação de Christine, o representante da polícia sugere que ela deveria estar em choque ou esquecida, forçando-a a sorrir mecanicamente para os fotógrafos, posando com um estranho que a chamava de mamãe. Apesar de haver levado o garoto para casa, Christine faz de tudo para provar que Walter continuava desaparecido, reunindo provas testemunhais e médicas de que aquele não era seu filho. Chegando mesmo a ser internada num manicômio para que não trouxesse mais problemas, Christine só pôde contar com o auxílio do pastor presbiteriano Gustav Briegleb (John Malkovich), ferrenho perscrutador das irregularidades policiais. Houve quem criticasse Angelina Jolie por usar tal papel para provar quão boa atriz pode ser. Não vejo problema se, para o telespectador, o que restou foi uma excelente (e surpreendentemente contida) interpretação. Recebeu 3 indicações ao Oscar, nas categorias de Melhor Atriz, Melhor Fotografia e Melhor Direção de Arte. Classificação: 16 anos.


WALL-E (Wall-E, EUA)
Gênero: Animação
Direção: Andrew Stanton
Tempo de duração: 97 min.
Ano: 2008


Uma obra de arte. É como posso definir esta animação da Pixar, produtora que revolucionou o gênero a partir de Toy Story. Andrew Stanton, que dirigiu também o ótimo Procurando Nemo, teve realmente uma brilhante idéia (é dele também o roteiro). Wall-E é um obsoleto robô que, há 700 anos, vive de compactar montanhas e montanhas de lixo que entulham a Terra. Sua única companhia é uma simpática (só mesmo em desenho!) baratinha, até o dia em que uma enorme nave deixa uma moderna robô no planeta. Ela se chama EVA e tem a missão de encontrar vida – o que restou da humanidade aguarda, em uma nave-cruzeiro, o momento em que a Terra voltará a ser habitável. Apesar do temperamento um tanto explosivo de EVA, Wall-E se apaixona por ela, e a segue em sua volta à nave-cruzeiro. Wall-E, que tem uma visão romântica do homem e do que fora a vida na Terra – numa cena de encher os olhos, ele assiste ao musical Alô, Dolly! e tenta imitar os graciosos passos de Walter Matthau e Barbra Streisand -, tem uma visão aterradora chegando a tal nave: os humanos são todos obesos, só se locomovem por meio de cadeiras flutuantes e o único contato que têm com o outro é através de uma telinha holográfica à frente de seus olhos. A aventura é divertida e educativa para crianças, e absolutamente encantadora para adultos. Há pouquíssimo diálogo no desenho, especialmente na primeira parte. Além de não fazer falta, esta opção do diretor deixa ainda mais terna toda a obra: sem diálogos, que se preste atenção às emoções. Daí, surge uma pergunta incômoda: pode um robô ser mais humano e sensível que nós? Talvez sim, mas o diretor nos dá alguma esperança durante os créditos finais, numa sequência tão bela e genial como todo o filme. Não por acaso ganhou o Oscar e o Globo de Ouro de Melhor Animação. Já nasceu um clássico. Classificação: Livre.

Operação Valquíria / X-Men Origens: Wolverine

12 de Setembro de 2009, por Carina Bortolini 0

Dois lançamentos recém saídos do forno para esquentar estes dias gelados. Com direito a pipoca e edredom!

OPERAÇÃO VALQUÍRIA (Valkyrie, EUA/Alemanha)
Gênero: Drama
Direção: Bryan Singer
Tempo de duração: 121 min.
Ano: 2008


Dizem que Tom Cruise se interessou em produzir este filme ao deparar-se com uma foto do Coronel Stauffenberg e notar a semelhança física entre os dois. Ao conhecer sua história, ficou fascinado: o coronel de alta patente e pertencente ao círculo de confiança de Hitler articulou e colocou em prática um plano para matá-lo, assumir o controle da Alemanha e selar um acordo de paz com os Aliados. Stauffenberg repudiava o nazismo e considerava o Führer um tresloucado fora de controle. Condenava moralmente o massacre dos judeus e temia pelo futuro de seu país ao fim da guerra. E, diferentemente da maioria dos alemães que assistiram a tudo impassíveis (quando não orgulhosos), Stauffenberg e vários outros bravos oficiais do Exército arriscaram tudo e foram até o fim – fim esse que, todos sabem, não resultou no assassinato de Hitler. O filme traz à tona eternas questões relativas à Segunda Guerra: Foram os alemães coniventes? Aqueles que cumpriam ordens tinham o dever de questionar o extermínio de judeus? Uma bela história de coragem e patriotismo. Classificação: 14 anos.


X-MEN ORIGENS: WOLVERINE (X-Men Origins: Wolverine, EUA)
Gênero: Aventura/Ficção Científica
Direção: Gavin Hood
Tempo de duração: 107 min.
Ano: 2009


Há duas edições atrás, eu já havia comentado: a série X-Men é um prato cheio para quem gosta de adaptações de HQs para o cinema. Para quem ainda não conhece, vale saber: várias pessoas no planeta descobrem-se portadores de um gene mutante, e elas se dividem basicamente em dois grupos: aqueles que querem se integrar à sociedade e conviver bem com não-mutantes e aqueles que, por se considerarem discriminados, se deixam dominar pela ira e, tirando proveito de seus poderes, pretendem subjugar a raça humana. O primeiro grupo é liderado por Charles Xavier (Patrick Stewart), um pacificador que preside uma escola de mutantes onde os ensina a controlar seus poderes. Já o segundo tem como ícone Magneto (Ian McKellen), velho amigo de Xavier que acredita que os mutantes são uma raça superior e, por isso, devem desenvolver seus poderes sem limites. Suponho que tenha sido angustiante para os produtores encontrar alguém carismático o bastante para dar vida a Wolverine nas telas, sendo ele o mutante mais idolatrado dos quadrinhos. Quão felizes foram eles ao escalarem Hugh Jackman! Arrisco-me a dizer que não deixou de ser um golpe de sorte, já que, à época do primeiro filme da série, o ator australiano ainda não havia feito nada significante. Foge à minha compreensão a onipresença de Jackman: como ele consegue fazer tantos filmes (bons) em um ano? E aqui, em seu quarto filme como Wolverine, fica patente que só ele poderia encarnar tal personagem: um herói cool, sem qualquer traço de estrelismo, taciturno, rebelde, indomável, possuidor de uma violência congênita e de uma carga emocional pesadíssima. Além de ser, é claro, um poço de caráter e lealdade. Receita de um herói irresistível, aquele que os homens querem ser e as mulheres querem ter. Como revela o título do filme, conhecemos então a origem dos X-Men: no século XIX (sim, o Wolverine é centenário), o menino James Logan perde o pai tragicamente e se descobre fruto de um adultério. Só resta a ele, então, a companhia do meio-irmão, Victor (futuro Dentes-de-Sabre), com quem atravessará as décadas lutando nas mais diversas guerras (atenção para a fantástica abertura do filme). Já na idade adulta, os irmãos se desentendem quando Logan se recusa a usar suas garras mutantes para fins escusos, e Victor (o ótimo Liev Schreiber) o reprova. Logan se isola levando uma vida pacata, até que outra perda afetiva o transformará em Wolverine. Os pesadelos que o herói tinha nos filmes anteriores serão elucidados, como a experiência que introduziu adamantium em seu organismo. Iniciantes em X-Men podem começar por esta última produção que, na verdade, é o começo. Classificação: 12 anos.

O lavador de almas / Amar... Não tem preço

16 de Agosto de 2009, por Carina Bortolini 0

Um drama baseado em fatos reais e uma comédia romântica francesa para amenizar. Eis os filmes que indico neste mês.

O LAVADOR DE ALMAS (Pierrepoint, Inglaterra)
Gênero: drama
Direção: Adrian Shergold
Tempo de duração: 90 min.
Ano: 2005


Albert Pierrepoint (o excelente Timothy Spall) era um inglês trabalhador, de temperamento calmo, gostava de se divertir com os amigos e era atencioso com a família. Um homem comum, não fosse o fato de que o mesmo, de 1932 a 1955, enforcou 608 condenados a serviço da Coroa Britânica. Filho e sobrinho de carrascos orgulhosos de tal ofício, Pierrepoint passou no teste para a Lista de Executores e logo se tornou o melhor da Ingaterra – traduzindo, o que realizava o enforcamento mais rapidamente e proporcionando menor sofrimento aos condenados. Conferia dignidade aos cadáveres preparando-os pessoalmente após a morte e sempre lembrava aos assistentes que eles eram inocentes por já terem pago sua pena. Nunca quisera saber o crime que os condenados cometeram e não aceitava que fossem desrespeitados. Por outro lado, Pierrepoint não conteve sua satisfação ao bater o recorde do pai, levando sete segundos entre o encontro com o prisioneiro e a morte do mesmo. Sua técnica possuía impressionante precisão matemática, já que ao analisar o peso, a idade e o sexo do condenado sabia exatamente o tamanho que a corda deveria ter, além disso, posicionava-a no pescoço de forma que sempre ocasionava uma fratura entre a segunda e a terceira vértebras – oferecendo, assim, a misericórdia de uma morte instantânea e indolor. Impossível não especular o que movia Pierrepoint. Seria ele um sádico que encontrara no trabalho uma forma de legitimar sua psicopatia? Mais me pareceu um homem medíocre que, impulsionado pelas tradições familiares, enxergou no ofício uma forma de ascensão e destaque. Tinha o sistemático (ou macabro?) hábito de registrar num caderno todas as execuções que realizava, e escondeu o que fazia até mesmo da esposa enquanto pôde. Deixou a vaidade dominá-lo quando foi selecionado pela Coroa para executar nazistas em nome da Inglaterra – episódio que o transformou em celebridade e encheu seu caderninho. Sua frieza aparentemente inabalável era fruto de uma ilusão: a de que não era ele que matava, mas sim, o Estado. Mas um fato imprevisível testou tal frieza a ponto de fazer o carrasco cair de joelhos – o que rendeu interpretações fabulosas de Spall e Juliet Stevenson, no papel de sua esposa. Classificação: 14 anos.


AMAR... NÃO TEM PREÇO (Hors de Prix, França)
Gênero: comédia romântica
Direção: Pierre Salvadori
Tempo de duração: 104 min.
Ano: 2006


Audrey Tautou é adorável. OK, desconsiderem sua participação no malfadado O Código Da Vinci, o qual nem Tom Hanks conseguiu salvar. Sim, ela é adorável, talentosa e tem um quê da outra Audrey, a Hepburn. Neste desafetado e saboroso filme, Tautou é Irène, uma típica conquistadora profissional: sabe onde encontrar e como amarrar figurões endinheirados, prontos a lhe proporcionar uma vida cheia de luxos em troca de sua beleza, charme e juventude. Num mal-entendido, ela pensa que Jean (o não menos talentoso Gad Elmaleh), barman do hotel de luxo onde está hospedada, é um milionário e seu noivado vai por água abaixo por causa da noite que passa com o rapaz. Equívoco desfeito, Irène desdenha de Jean não sem antes consumir todas suas economias. De coração partido, falido e desempregado, ele descobre, por acaso, que também pode se dar muito bem como sedutor de abonadas senhoras. O desfecho um tanto ingênuo não tira o brilho deste divertido romance (Certa vez indiquei aqui vários filmes ditos “de arte”, entre eles, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, que lançou Tautou. Difícil até classificar o gênero dessa virtuosa produção totalmente original, com flashbacks fantásticos, humor pueril e inteligente, romance delicioso e roteiro incomparável. Proibido não assistir). Classificação: 12 anos.

O Homem de Ferro / Expresso Transiberiano

13 de Julho de 2009, por Carina Bortolini 0

O primeiro filme é para se divertir e esquecer os problemas; o segundo, para perder o fôlego e o terceiro convida a uma reflexão profunda. São eles:

O HOMEM DE FERRO (Iron Man, EUA)
Gênero: Aventura
Direção: Jon Favreau
Tempo de duração: 126 min.
Ano: 2008


Adoro adaptações de histórias em quadrinhos para o cinema. Nos últimos anos, têm sido escolhidos ótimos diretores e roteiristas para tais adaptações, quase todas da Marvel, como é o caso dos excelentes filmes dos X-Men (adoro, estou só esperando assistir ao último para indicar aqui). Os super-heróis não são só músculos e ação, são também poços de conflitos e dilemas. Homem de Ferro foi mais um acerto. Robert Downey Jr. faz sua volta triunfal ao cinema, na pele do magnata da indústria bélica Tony Stark. Dono de uma mente brilhante, ele é sequestrado por terroristas islâmicos que querem obrigá-lo a construir uma arma devastadora. Sacudido assim de sua alienação, o playboy enxerga o estrago que suas invenções podem causar. Mantido vivo graças a um ímã implantado junto a seu coração, Stark constrói uma armadura de alta tecnologia que permite que fuja de seu cativeiro. A salvo em seu país, ele aprimora seu traje e passa a usá-lo para destruir seus armamentos que caíram em mãos erradas. O heroísmo do personagem é, muito antes, uma catarse, a purgação de seus pecados. Demorei a reconhecer Jeff Bridges no papel do sócio de Stark, formidável na construção de seu vilão. A linda e elegante Gwyneth Paltrow interpreta a leal e irrepreensível assistente do herói, Pepper Potts. Já estou esperando Homem de Ferro 2. Classificação: 12 anos.

EXPRESSO TRANSIBERIANO (Transsiberian, Inglaterra/Lituânia)
Gênero: Suspense / Drama / Ação
Direção: Brad Anderson
Tempo de duração: 111 min.
Ano: 2008


Vindos de um trabalho beneficente na China, os americanos Roy (Woody Harrelson) e Jessie (Emily Mortimer) embarcam no famoso trem do título, que liga aquele país à Rússia. Ao conhecerem o casal com o qual dividem a cabine, Roy e Jessie nem poderiam imaginar a desventura que lhes ocorreria. Num enredo tenso e eletrizante, o espectador fica colado à cadeira durante todo o filme. Especialmente porque o fantástico Ben Kingsley (bárbaro no arrebatador Casa de Areia e Névoa, que ainda pretendo indicar) é quem interpreta o sombrio policial russo que intimida o casal de incautos. Atenção para as sensacionais paisagens siberianas. Classificação: 16 anos.

AS DUAS FACES DA LEI (Righteous Kill, EUA)
Gênero: Ação / Drama
Direção: Jon Avnet
Tempo de duração: 100 min.
Ano: 2008


Após 30 anos como parceiros no Departamento de Polícia de Nova York, os condecorados detetives David Fisk (Al Pacino) e Thomas Cowan (Robert De Niro) já estão cansados da bandidagem com a qual têm que lidar todos os dias. Ao ver um assassino e estuprador de uma criança que custaram a capturar ser absolvido, Cowan convence Fisk a plantarem uma prova falsa para acusá-lo de um homicídio que não cometeu. Depois disso, o assassinato de um conhecido cafetão é seguido de vários outros do mesmo tipo: a escória de Nova York é o alvo de um serial killer que sempre deixa um poema junto ao corpo, justificando o assassinato. Com o caso nas mãos e auxiliados por outros dois detetives, Fisk e Cowan travarão uma investigação com cujo desfecho não contavam. O filme traz à tona uma questão muito delicada em nossos dias: o que é a justiça? Como alcançá-la? A justiça dos bons deve ser aplicada aos bons e maus? Ou em relação aos maus vale qualquer justiça? Com tanta violência e tamanhas afrontas cometidas pelos criminosos hodiernamente, criou-se uma máxima perigosa: se é bandido, merece apanhar, merece sofrer, merece morrer. Diante da comoção e revolta causadas por um crime hediondo ou nem tanto, quem nunca quis esganar pessoalmente o marginal? Mas é para isso que existe o Estado. Para seguir a lei e punir objetivamente quem a viola. Desejemos que a lei seja cumprida com rigor e que o Estado proporcione as condições estruturais para isso. Refutemos a justiça com as próprias mãos, que é carregada de parcialidade e imbuída de valores morais muito relativos e pessoais. Um filme que faz pensar. Classificação: 14 anos.