Cinema

Oscar 2010 - Um reflexo da política no mundo do cinema

12 de Abril de 2010, por Carina Bortolini 0

Esta é uma edição especial! O Jornal das Lajes aniversaria e, assim, nos leva à reflexão da importância da imprensa. Muito já fora dito, muito já fora escrito. Mas ainda assim nunca é demais lembrarmos o quão essencial é tal instituição num Estado Democrático de Direito. Há a imprensa boa e há também a ruim, mas até a ruim pode ser ótima, se é que me entendem. Muitas vezes, diante da cobertura de um crime ou de uma mera celebridade, já me surpreendi querendo “esganar” um determinado repórter insistente ou simplesmente chato. Alvíssaras sejam dadas também a esses! Sou “quase” radical (o que será isso?) no que diz respeito à liberdade de imprensa: abaixo a censura! Penso que, uma vez permitida a censura, sempre se encontrarão brechas para proibir filmes, textos e reportagens que não agradem ao governo situacional ou a determinados grupos detentores de poder. O Jornal das Lajes deu uma grande guinada nos últimos anos, e vejo que caminha para um futuro ainda mais independente, brilhante e próspero. Assim seja!

Mês passado, enquanto se desenrolava a cerimônia do Oscar, fui sendo tomada por certa estranheza. Os prêmios técnicos foram sendo entregues e, para minha surpresa, Avatar recebera apenas dois deles, Melhor Fotografia e Melhores Efeitos Visuais. Já Guerra ao Terror levara Melhor Montagem, Melhor Mixagem de Som e Melhor Edição de Som. Os prêmios foram ficando mais importantes, e enquanto Avatar levava Melhor Direção de Arte, Guerra ao Terror ficava com Melhor Roteiro Original. No último e principal bloco, todos ansiosos para saber quem ficaria com os principais prêmios. Pensei: devem dar Melhor Diretor para Kathryn Bigelow, por sua competência e também (e principalmente) porque será a primeira mulher a receber tal prêmio; e Melhor Filme para Avatar. A primeira aposta se confirmou, mas a segunda... não é que Guerra ao Terror levou tudo? De forma nenhuma desabono o filme de Bigelow, é um filme excelente e ousado que prometo comentar numa outra edição. A questão é por que. Não é a primeira nem será a última vez que a Academia distribui os prêmios por razões políticas, e não meritórias. Em 2001, Sean Penn emocionou todos com sua interpretação em Uma Lição de Amor (I Am Sam) , mas perdeu o Oscar para a atuação mediana de Denzel Washington em Dia de Treinamento (Training Day) . Isso por que Washington foi tido como injustiçado em 2000, quando não levou a estatueta por seu esplêndido Hurricane – O Furacão (The Hurricane) . Depois, no ano passado, olhem Hollywood premiando Sean Penn por Milk em detrimento do fabuloso Frank Langella como Nixon em Frost/Nixon. E assim, tentando compensar uma injustiça com outra, a Academia faz de sua cerimônia um palco do politicamente correto.

A impressão que tive sobre o Oscar 2010 foi que Hollywood deu um tiro no próprio pé. Ao premiar um filme quase independente e não reconhecer o valor do trabalho de 11 anos de James Cameron em Avatar, é como se a Academia dissesse: “Não invistam em tecnologia, não invistam em publicidade, não adianta você ter a maior bilheteria da história: nós vamos premiar aquele filme pequenininho, bacana, despretensioso”. Nada contra. Mas há que se admitir que o cinema precisa de grandiosidade, de novidade, de espetáculo. Também disso vive a sétima arte! Que motivação terá um diretor em fazer uma maravilha artística e tecnológica como Avatar, consumindo milhões, tempo e criatividade para não ser reconhecido? Se há 11 anos atrás supervalorizaram uma superprodução como Titanic, do mesmo James Cameron, este ano o que houve foi desprezo e desdém. Que bom que resolveram dar valor ao cinema independente e a roteiros profundos, mas não é preciso que se chegue a este extremo. Ai que pena deu de James Cameron, humilhado mundialmente pela ex-mulher (Bigelow). Mas isso até que foi engraçado.

Avatar / Bastardos Inglórios / Distrito 9 / Amor sem escalas / UP – Altas Aventuras

14 de Marco de 2010, por Carina Bortolini 2

Avatar

Inicia-se a corrida para o Oscar! Meu carnaval foi animadíssimo, em frente à tela do cinema ou da TV mesmo, do jeito que eu gosto. Todos os anos eu me esforço para assistir aos cinco indicados a melhor filme, mas em 2010 a Academia inovou: são dez os indicados! Consegui assistir à metade, e posso garantir que o nível está altíssimo. A boa notícia é que três deles já estão disponíveis em DVD. Agora é só aguardar a premiação!

AVATAR (Avatar, EUA)
Gênero: Aventura
Direção: James Cameron
Tempo de duração: 166 min.
Ano: 2009

Desde o sucesso Titanic, há onze anos, James Cameron vem preparando Avatar. Para se ter uma idéia da revolução que esse filme significou na história do cinema, o diretor realizou uma parceria com a Sony para a criação da tecnologia necessária para execução dos efeitos 3-D do mesmo. O resultado é inebriante. Os habitantes do reino animal e vegetal do planeta Pandora flutuam à nossa frente, num maravilhoso espetáculo de cor e movimento. O enredo é singelo: Jake Sully (Sam Worthington), um ex-fuzileiro naval paraplégico, é escolhido para “ocupar” um avatar e se infiltrar na sociedade Navi, povo nativo de Pandora. Eles são enormes, azuis e têm uma ligação intensa com a natureza. Com a missão de favorecer a exploração do valiosíssimo minério unobtainium, Jake se encanta com o povo extraterrestre e também com o corpo que ocupa, livre dos limites de sua deficiência. E dá-lhe aventura, romance e efeitos especiais. Não se pode negar certa inovação no que diz respeito ao papel dos EUA na história: aqui, os estrangeiros é que são heróis. Mas não exijamos de Cameron um roteiro intrincado e profundo: ele já fez demais pelo cinema. Classificação: 12 anos.

BASTARDOS INGLÓRIOS (Inglorious Bastards, EUA/Alemanha)
Gênero: Drama
Direção: Quentin Tarantino
Tempo de duração: 152 min.
Ano: 2009

Sempre apreciei a crueza e a violência típicas de Tarantino. Mas ele se superou nesta produção: conseguiu imprimir classe e sutileza à sua obra, sem se contradizer. O palco da história é a ocupação da França pelos nazistas, mas está longe de ser mais um filme sobre a Segunda Guerra. Uma unidade especial de soldados judeus é formada com o único fim de exterminar nazistas com todo o sadismo e frieza que a sede de vingança permite: são os tais bastardos inglórios. Brad Pitt, mais uma vez se despindo do estereótipo de galã, é o tenente Aldo Raine, líder do grupo. Uma jovem judia disfarçada se vê em apuros ao ser cortejada por um renomado soldado nazista que deseja levar a estréia do filme que o homenageia ao cinema que ela dirige. Bridget von Hammersmark (Diane Kruger, de O Segredo de Beethoven) é uma atriz paparicada pelos nazistas que, nos bastidores, oferece informações quentíssimas aos aliados. Todos esses personagens, em algum momento, serão confrontados pelo tenente-coronel alemão Hans Landa, interpretado pelo fabuloso ator Christoph Waltz, que atrai para si todos os holofotes. Ele usa elegância e polidez para aterrorizar e fazer sucumbir seu interlocutor, e não há quem escape à sua perspicácia e poder de desvelamento. E quando ele resolve se encher de fúria e sordidez... ai de quem. A cena inicial e a que se passa numa taverna são o apogeu dessa obra-prima: diálogos travados e entrecortados, recheados de insinuações e ameaças veladas, nos dão a sensação inquietante do perigo iminente. Imperdível. Classificação: 16 anos.

DISTRITO 9 (District 9, África do Sul/EUA/Nova Zelândia)
Gênero: Ficção Científica / Drama
Direção: Neill Blomkamp
Tempo de duração: 112 min.
Ano: 2009

Peter Jackson surpreende mais uma vez. Após a fantástica trilogia O Senhor dos Anéis, ele nos presenteia com a produção deste drama camuflado de ficção científica. O cenário é Johanesburgo, na África do Sul, onde há vinte anos uma nave alienígena estacionou. Os seres que nela vieram foram segregados em um território chamado Distrito 9, que acabou por se tornar uma autêntica favela – com a miséria, superpopulação e violência características. Apelidados de camarões, devido a sua aparência, tais alienígenas são alvo de repulsa e horror da população. Na intenção de removê-los para um local isolado da cidade, o governo convoca o ingênuo e abobado burocrata Wikus Van De Merwe (o desconhecido e magnífico ator sul-africano Sharlto Copley) para iniciar tal processo, invadindo o gueto com seguranças armados e câmeras de TV (atenção para o aspecto documentarista da filmagem, uma estratégia brilhante do diretor para conferir veracidade aos fatos). Na busca de armamentos em um barraco (já que a principal intenção do governo é por as mãos no poderoso artefato bélico dos “camarões”), Wikus entra em contato com uma estranha substância que o transformará, em pouco tempo, no objeto do ódio que professa. É facilmente percebida a alusão do filme ao apartheid, que manchou a história sul-africana e ainda assombra o país. Mas a mensagem é universal: por que somos predispostos ao preconceito e à intolerância? Durante a exibição, por várias vezes nos sentimos revoltados diante da injustiça e da crueldade. Pior ainda é constatarmos que não há nada de inverossímil nas atitudes, o que nos enche de vergonha de nossa condição humana. Classificação: 14 anos.

AMOR SEM ESCALAS (Up in the air, EUA)
Gênero: Comédia / Drama
Direção: Jason Reitman
Tempo de duração: 109 min.
Ano: 2009

Jason Reitman é um diretor jovem com uma carreira recente, porém prolífica: são dele os ótimos Obrigado Por Fumar e Juno. Neste novo trabalho, ele prova que veio para se estabelecer entre os grandes. O multitalentoso George Clooney é Ryan Bingham, executivo especializado em demitir. Isso mesmo: as empresas o contratam para a difícil missão de anunciar a exoneração de seus empregados, e Bingham o faz com arte. Usa de suavidade, empatia, impessoalidade e firmeza. Para tal ofício, precisa viajar onze meses ao ano, fazendo da rotina dos aeroportos e hotéis sua vida e seu orgulho. Ensina em palestras motivacionais que cada laço afetivo é um peso inútil a mais que se carrega. Mas essa zona de conforto que criou em torno de si fica seriamente ameaçada quando duas mulheres entram em sua vida: Natalie (Anna Kendrick), uma estagiária que deseja modernizar e simplificar o modo como Bingham trabalha, e Alex (a excelente Vera Farmiga), uma mulher tão parecida com ele mesmo que o tirará de seu eixo. Levando-se em conta o título em português, parece se tratar de uma comédia romântica, mas não se engane: é, antes, uma confirmação de que toda alegria carrega em si a tristeza arrebatadora do prenúncio de seu fim. Classificação: 12 anos.

UP-ALTAS AVENTURAS (Up, EUA)
Gênero: Animação
Direção: Pete Docter
Tempo de duração: 96 min.
Ano: 2009

Pela segunda vez na história do Oscar uma animação concorre ao prêmio de melhor filme (a primeira foi A Bela e a Fera, em 1993), e não é por acaso. Pete Docter, do também encantador Monstros S.A. , realiza aqui um trabalho magistral. É um desenho feito para crianças, mas nem por isso elas são subestimadas em sua inteligência e capacidade de apreender sentimentos nobres e as grandes questões existenciais. O protagonista é o idoso Carl Fredricksen, cuja história é contada nos primeiros quatro minutos do longa: quando criança, ele se apaixona por Ellie, uma amante de aventuras como ele. Eles se casam, constroem uma linda casa, planejam ter filhos, frustram-se ao saber que não poderão tê-los, e passam a vida juntando dinheiro para, na velhice, conseguirem realizar o acalentado sonho de conhecerem o Paraíso das Cachoeiras, refúgio tropical sul-americano. Quando estavam prestes a fazer tal viagem, Ellie adoece e morre. O extraordinário é que Docter não utiliza uma fala sequer nessa sequência, abusando, sim, de refinadas metáforas visuais para exprimir perfeitamente cada emoção. O então ranzinza Carl (dublado por Chico Anysio nas cópias em português), ao não encontrar mais saída tanto para a impendente demolição de sua querida casa quanto para sua internação num asilo, arrisca-se numa fuga fantástica: tendo trabalhado a vida toda com a venda de balões de hélio, prende milhares deles à sua casa, a ponto de a mesma alçar voo pelos ares. Mas Carl não contava com um inusitado tripulante: o pequeno e gorduchinho escoteiro Russel, ávido por mais uma insígnia em seu uniforme. O menino se agarra à casa e parte com Carl para a América do Sul, onde farão novos amigos, enfrentarão perigos e viverão muitas aventuras. Adulto também pode. E deve. Classificação: Livre.

Trovão Tropical / Frost Nixon

11 de Fevereiro de 2010, por Carina Bortolini 0

Trovão Tropical

TROVÃO TROPICAL (Tropic Thunder, Alemanha/EUA)
Gênero: Comédia
Direção: Ben Stiller
Tempo de duração: 107 min.
Ano: 2008


Este filme me surpreendeu. Ben Stiller é conhecido por atuar em comédias escrachadas e geralmente tolas, motivo pelo qual costumo evitar os filmes em que o mesmo conste do casting. Mas a indicação de uma amiga me levou a (felizmente!) conhecer tal produção. Ben Stiller atua, dirige e ainda participa do roteiro brilhante dessa comédia de humor ácido. Já nos trailers de mentirinha que abrem o filme pode-se ter uma ideia do que virá. Stiller é Tugg Speedman, ator de filmes de luta (parodiando Sylvester Stallone na sequência Rambo) que tenta se livrar de tal estereótipo através da atuação em Trovão Tropical – épico sobre a Guerra do Vietnã que conta com outros dois famosos atores: Kirk Lazarus (Robert Downey Jr., impagável) e Jeff Portnoy (Jack Black). Lazarus goza de imenso prestígio por colecionar cinco Oscar, e para este filme se submeteu a um procedimento de pigmentação para interpretar um soldado negro – o que gera tiradas hilárias, mexendo com tabus americanos como o racismo. Portnoy é ator de comédias em que interpreta todos os personagens de uma família (tal qual Eddie Murphy), e se encaixa naquele tipo de celebridade constantemente envolvida em escândalos. O diretor do filme decide soltar esse grupo de egos em plena floresta à sua própria sorte, para tornar tudo mais “real” e fazer do longa um sucesso. Mas tal intento acaba por se revelar real demais, e os protagonistas se veem cercados por narcotraficantes armados até os dentes. No elenco há ainda Nick Nolte, Matthew McConaughey e um irreconhecível (e admiravelmente cômico) Tom Cruise, no papel de... Bem, vou deixar que vocês o encontrem. Repleto de referências inteligentes e piadas um tanto espirituosas, o filme se destaca em meio à imperante tolice das comédias hollywoodianas. Há que se saber, entretanto, identificar a ironia e a audácia contidas no roteiro, em que certa bagagem cinematográfica ajuda. E, convenhamos, um pouquinho de esculhambação garante boas risadas e não faz mal a ninguém. Classificação: 16 anos.


FROST/NIXON (Frost/Nixon, França/EUA/Inglaterra)
Gênero: Drama
Direção: Ron Howard
Tempo de duração: 122 min.
Ano: 2008


Desde o início de 2009, à época da corrida pelo Oscar, tento assistir a esse filme. Se ele chegou a ser exibido nos cinemas de BH, o foi em pouquíssimas salas, pois nem sequer tive notícia. Agora, com o lançamento em DVD, pude assistir àquele que fora considerado pela crítica o melhor dos filmes que concorreram ao referido prêmio no ano passado. E dizem, também, que fora o mais injustiçado: cinco indicações e nenhum prêmio. O roteiro refere-se ao episódio real acontecido em 1974, quando o presidente americano Richard Nixon renunciou ao mandato para escapar do impeachment a que se sujeitaria por seu envolvimento em atividades escusas na política de seu país. Foi o famigerado caso Watergate, vergonhoso incidente da história americana. O que todos sabem nos EUA mas poucos sabem por aqui é que a retratação e o pedido de desculpas pelos quais ansiava o povo americano foram arrancados de Nixon por David Frost, na célebre entrevista realizada em 1977. O mais notável é que Frost não era um jornalista, mas sim, um showman de programas de variedades. Frost acreditou tão cegamente na notoriedade e audiência que renderia tal série de entrevistas que apostou na realização da mesma todas as suas economias. Os vários dias de embate entre Nixon e Frost revelaram a travação de verdadeira batalha entre dois gigantes da comunicação. Se Nixon utilizou toda sua oratória e poder de intimidação para provocar e debilitar Frost, este último soube como ninguém nocautear o inimigo com seu dom de induzir e envolver. É impossível evitar a tensão durante tal duelo de palavras, gestos e idéias. Os responsáveis pelas mais admiráveis cenas do filme são os atores que dão vida aos nomes do título: Michael Sheen e Frank Langella (indicado ao Oscar de Melhor Ator), ambos fabulosos. Houve ainda as indicações a Melhor Filme, Direção, Roteiro Adaptado e Edição. Não deixem de assistir, nos extras do DVD, a trechos da entrevista real. Classificação: 12 anos.

A Duquesa / Marley & Eu

14 de Janeiro de 2010, por Carina Bortolini 0

A Duquesa

Indico dois lançamentos neste fim de ano: um drama histórico e uma comédia dramática, ambos baseados em histórias reais. Confiram!

A DUQUESA (The Duchess, Inglaterra/França/Itália)
Gênero: Drama
Direção: Saul Dibb
Tempo de duração: 110 min.
Ano: 2008


Ah, os ingleses! Salvo engano, não há outro povo tão autêntico neste mundo, com suas idiossincrasias e comportamento típico. A Inglaterra produziu, portanto, vários personagens interessantíssimos, entre outros, Charles Darwin, Winston Churchill, Elizabeth I, William Shakespeare, Charlie Chaplin, Hugh Grant (ha-há, esse é por minha conta!). A duquesa do título é Georgiana Spencer (Keira Knightley), uma nobre que, na adolescência, fica exultante com o pedido de casamento de William Cavendish, o duque de Devonshire (Ralph Fiennes), iludida que ele o fazia por amor e não pelas conveniências. Logo na noite de núpcias, ela tem provas da frieza do marido, que só deseja um herdeiro homem. Após aceitar criar como sua uma filha bastarda do duque, dar à luz a duas meninas, fazer o aborto de dois meninos e se sentir humilhada pelas mulheres vulgares que visitavam a cama de seu marido, Georgiana encontra consolo na amizade de Lady Bess. Mas seus infortúnios estavam apenas começando: essa melhor amiga protagonizará a maior traição da vida da duquesa, e quando ela enfim encontra o verdadeiro amor nos braços do político Charles Grey (futuro primeiro ministro inglês), sofrerá terrivelmente com uma cruel decisão do duque. A duquesa de Devonshire foi extremamente influente na política de sua época, sendo a mais poderosa arma do partido que apoiava. O que ela vestia ou o penteado que usava num evento eram copiados imediatamente por toda a nobreza. Era carismática, inteligente e bonita, e talvez por isso o duque a desprezasse: ele ficava absolutamente apagado ao lado dela. Uma máxima da época dizia que toda a Inglaterra amava Georgiana, à exceção de seu marido. Ah, os ingleses. Classificação: 14 anos.


MARLEY & EU (Marley & Me, EUA)
Gênero: Comédia / Drama
Direção: David Frankel
Tempo de duração: 120 min.
Ano: 2008


Não tive o interesse em alugar esse filme na locadora, tampouco li o livro que deu origem ao mesmo (um best-seller, diga-se de passagem). Mas quando vi a chamada anunciando sua estréia na TV por assinatura, resolvi assisti a ele. O resultado? Uma boba se acabando de chorar enquanto as letras subiam. Trata-se do relato real de um jornalista americano sobre suas aventuras com um cachorro muito especial: Marley. A história de vida do casal John (Owen Wilson) e Jane (Jennifer Aniston) se confunde com a do labrador, intitulado como “o pior cachorro do mundo” por seu próprio dono. Explica-se: Marley era daquele tipo de cachorro que devora tudo à sua frente, não obedece a ordens e faz muito, muito barulho. Para se ter uma idéia, o pobrezinho foi expulso do programa de treinamento de cães no primeiro dia de aula. Em compensação, Marley soube como ninguém honrar a máxima de que o cachorro é o melhor amigo do homem, mostrando comovente sensibilidade nos momentos mais difíceis da vida de seus donos. Só quem teve um bicho de estimação realmente especial, que marcasse sua vida, pode compreender a mensagem do filme. Eu tive um vira-lata chamado Snoopy que me acompanhou dos 9 aos 20 anos. Até hoje choro sua perda, e sinto muitas saudades dele. Era temperamental, não tinha o espírito sabujo da maioria dos cães. Mas sabia amar como poucos, era fiel, protetor e muito expressivo. Nem preciso dizer que me lembrei dele durante os 120 minutos, daí a choradeira. Hoje prefiro os gatos, talvez por defesa. Marley & Eu não se trata de um primor da sétima arte, mas cumpre bem sua função de entreter e tocar os espíritos mais sensíveis. Classificação: Livre.

Jean Charles / Foi apenas um sonho

13 de Dezembro de 2009, por Carina Bortolini 2

JEAN CHARLES (Brasil/Inglaterra)
Gênero: drama
Direção: Henrique Goldman
Tempo de duração: 90 min.
Ano: 2009


O cinema brasileiro está mesmo numa fase muito boa. Henrique Goldman, brasileiro radicado em Londres há anos, transformou a trágica história de Jean Charles de Menezes – o eletricista mineiro assassinado por policiais ingleses no metrô londrino ao ser confundido com um terrorista –, num filme excelente. O enredo acerta em cheio ao não tentar fazer de Jean Charles um mártir, nem mitificá-lo, mas usá-lo como um fiel retrato dos milhares de brasileiros que tentam a vida no exterior. Ele saiu de uma cidadezinha do interior de Minas Gerais para tentar “subir na vida”, conheceu as agruras que um estrangeiro enfrenta e não deixou de visitar as ilegalidades tão presentes na vida dos que vivem essa situação. O que diferenciava Jean Charles da massa dos imigrantes é a vontade de aprender a língua, a admiração pelo país em que vivia e o desejo de lá se realizar profissionalmente. Daí o motivo de nos revoltarmos ainda mais quando um ato irresponsável da polícia de Londres extermina cruel e definitivamente esses sonhos. Selton Mello (sempre presente nas melhores produções do país) é o protagonista e Vanessa Giácomo é Vivian, a prima que ele traz do Brasil e se torna tão próxima dele. Atenção para Luís Miranda - que aqui é Alex, o primo de Jean -, um fabuloso ator (responsável pela cena mais hilária de Meu Nome Não É Johnny, onde interpreta o presidiário Alcides). O toque realista do filme se dá com a participação de diversos não-atores: uma das primas de Jean, Patrícia Armani, interpreta a si mesma, assim como o empreiteiro para quem ele trabalhava e tantos outros. A história do eletricista é entremeada por flashes dos noticiários da época, estampando o pânico que se instaurou desde o ataque terrorista ao metrô de Londres. Esse trágico acontecimento merecia um filme assim. Classificação: 14 anos.


FOI APENAS UM SONHO (Revolutionary Road, EUA/Inglaterra)
Gênero: drama
Direção: Sam Mendes
Tempo de duração: 119 min.
Ano: 2008


Depois de 11 anos, Kate Winslet e Leonardo DiCaprio voltam a contracenar, mas agora em algo muito melhor que Titanic (para quem prefere inspiradas atuações a fantásticos efeitos especiais, é claro). Sam Mendes é marido de Kate na vida real e se mostrou primoroso em retratar a hipocrisia da vida nos subúrbios americanos (lindas casas, lindos jardins, famílias felizes) com sua obra-prima, o premiadíssimo Beleza Americana. Foi Apenas Um Sonho não chega a tal brilhantismo, mas tem muito a dizer. Frank (DiCaprio) e April (Winslet) moram em uma bela casa, têm dois filhos e carregam profundas frustrações: ela, a de não conseguir estabelecer uma carreira bem-sucedida de atriz; ele, a de trabalhar na mesma empresa em que o pai trabalhou por toda a vida, exercendo um trabalho medíocre. Tais descontentamentos afetam profundamente a vida conjugal do casal, na qual ambos se ofendem e se maltratam a maior parte do tempo. Depois de uma briga que deixa ambos destroçados, April sugere a Frank uma solução mirabolante para seus problemas: usarem todas as economias que têm para se mudarem para Paris e começarem a vida do zero. O título em português do filme se refere a esse curto período em que o casal se reconcilia e é feliz na perspectiva de uma vida nova, diferente, promissora. Nada como a expectativa da felicidade, dizem. Como é um filme do pessimista Sam Mendes, sabe-se que nada terminará tão maravilhosamente. A diferença abismal entre April e Frank é que ela possui um espírito realmente revolucionário, inconformado, romântico, inconsequente. Frank está mais para um admirador desse estilo de vida do que alguém que, de fato, assuma os riscos de vivê-lo. Ele tem em si um certo tradicionalismo e dará asas a ele quando vislumbrar uma chance de sustentá-lo. O grande mérito do filme está em expressar a angústia e a inquietação femininas. O homem é, naturalmente, mais pragmático e resignado. Freud não conseguiu compreender o que querem as mulheres e quem compreenderá? O grande mistério feminino reside em sua insatisfação, em suas contradições. E ninguém melhor que Kate Winslet pra representá-las. Classificação: 16 anos.