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Jean Charles / Foi apenas um sonho

13 de Dezembro de 2009, por Carina Bortolini

JEAN CHARLES (Brasil/Inglaterra)
Gênero: drama
Direção: Henrique Goldman
Tempo de duração: 90 min.
Ano: 2009


O cinema brasileiro está mesmo numa fase muito boa. Henrique Goldman, brasileiro radicado em Londres há anos, transformou a trágica história de Jean Charles de Menezes – o eletricista mineiro assassinado por policiais ingleses no metrô londrino ao ser confundido com um terrorista –, num filme excelente. O enredo acerta em cheio ao não tentar fazer de Jean Charles um mártir, nem mitificá-lo, mas usá-lo como um fiel retrato dos milhares de brasileiros que tentam a vida no exterior. Ele saiu de uma cidadezinha do interior de Minas Gerais para tentar “subir na vida”, conheceu as agruras que um estrangeiro enfrenta e não deixou de visitar as ilegalidades tão presentes na vida dos que vivem essa situação. O que diferenciava Jean Charles da massa dos imigrantes é a vontade de aprender a língua, a admiração pelo país em que vivia e o desejo de lá se realizar profissionalmente. Daí o motivo de nos revoltarmos ainda mais quando um ato irresponsável da polícia de Londres extermina cruel e definitivamente esses sonhos. Selton Mello (sempre presente nas melhores produções do país) é o protagonista e Vanessa Giácomo é Vivian, a prima que ele traz do Brasil e se torna tão próxima dele. Atenção para Luís Miranda - que aqui é Alex, o primo de Jean -, um fabuloso ator (responsável pela cena mais hilária de Meu Nome Não É Johnny, onde interpreta o presidiário Alcides). O toque realista do filme se dá com a participação de diversos não-atores: uma das primas de Jean, Patrícia Armani, interpreta a si mesma, assim como o empreiteiro para quem ele trabalhava e tantos outros. A história do eletricista é entremeada por flashes dos noticiários da época, estampando o pânico que se instaurou desde o ataque terrorista ao metrô de Londres. Esse trágico acontecimento merecia um filme assim. Classificação: 14 anos.


FOI APENAS UM SONHO (Revolutionary Road, EUA/Inglaterra)
Gênero: drama
Direção: Sam Mendes
Tempo de duração: 119 min.
Ano: 2008


Depois de 11 anos, Kate Winslet e Leonardo DiCaprio voltam a contracenar, mas agora em algo muito melhor que Titanic (para quem prefere inspiradas atuações a fantásticos efeitos especiais, é claro). Sam Mendes é marido de Kate na vida real e se mostrou primoroso em retratar a hipocrisia da vida nos subúrbios americanos (lindas casas, lindos jardins, famílias felizes) com sua obra-prima, o premiadíssimo Beleza Americana. Foi Apenas Um Sonho não chega a tal brilhantismo, mas tem muito a dizer. Frank (DiCaprio) e April (Winslet) moram em uma bela casa, têm dois filhos e carregam profundas frustrações: ela, a de não conseguir estabelecer uma carreira bem-sucedida de atriz; ele, a de trabalhar na mesma empresa em que o pai trabalhou por toda a vida, exercendo um trabalho medíocre. Tais descontentamentos afetam profundamente a vida conjugal do casal, na qual ambos se ofendem e se maltratam a maior parte do tempo. Depois de uma briga que deixa ambos destroçados, April sugere a Frank uma solução mirabolante para seus problemas: usarem todas as economias que têm para se mudarem para Paris e começarem a vida do zero. O título em português do filme se refere a esse curto período em que o casal se reconcilia e é feliz na perspectiva de uma vida nova, diferente, promissora. Nada como a expectativa da felicidade, dizem. Como é um filme do pessimista Sam Mendes, sabe-se que nada terminará tão maravilhosamente. A diferença abismal entre April e Frank é que ela possui um espírito realmente revolucionário, inconformado, romântico, inconsequente. Frank está mais para um admirador desse estilo de vida do que alguém que, de fato, assuma os riscos de vivê-lo. Ele tem em si um certo tradicionalismo e dará asas a ele quando vislumbrar uma chance de sustentá-lo. O grande mérito do filme está em expressar a angústia e a inquietação femininas. O homem é, naturalmente, mais pragmático e resignado. Freud não conseguiu compreender o que querem as mulheres e quem compreenderá? O grande mistério feminino reside em sua insatisfação, em suas contradições. E ninguém melhor que Kate Winslet pra representá-las. Classificação: 16 anos.

Comentários

  • Author

    Há muito não via filmes nacionais, depois de Se Eu Fosse Voce resolvi assistir Jean Charles e fiquei muito impressionado com a produção do filme. Gostei das panoramicas de Londres e da fotografia do filme. A história é interessante e ficou claro a intenção de mostrar como vivem os brasileiros na Inglaterra. Sofrida a vida dos imigrantes brasileiros.


  • Author

    Verdade, Rubens. O cinema brasileiro tem mostrado seu valor nos últimos anos, com produções de alto nível.


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