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A educação superior no Brasil em crise?

25 de Outubro de 2023, por Edésio Lara

Recentemente, o Ministério da Educação (MEC) apresentou resultados da Educação Superior no Brasil, relativos ao ano de 2022. E os números são preocupantes. Os números relativos à evasão e baixa procura por cursos de graduação se ampliaram. Há os que culpam a pandemia da Covid-19. Outros pensam diferente: veem uma mudança relacionada aos estudos no Brasil e iniciada antes do surgimento do coronavírus.

É certo, no entanto, que, durante os anos de 2020 e 2022, muitos alunos optaram por abandonar os cursos presenciais que faziam a fim de trocá-los por um que pudesse ser feito a distância. Ou, então, simplesmente desistir dos que haviam iniciado para buscar emprego em momento crítico da vida de todos nós.

O Censo da Educação Superior, realizado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), revela uma situação inquietante. Vê-se, antes do acesso aos cursos de graduação, que 32,3 milhões de estudantes não concluíram o Ensino Médio, o que indica uma quantidade expressiva de alunos que abandonaram os estudos.

No ano passado, 72% dos alunos que ingressaram no Ensino Superior privado optaram por estudar a distância (EaD). Nas licenciaturas, cujos cursos se destinam à formação de professores para atuar nos Ensinos Fundamental, Médio e Profissionalizante, sobre a área de conhecimento na qual se formaram, o índice foi ainda maior: 93,2%. Estudar a distância é mais barato, possibilita ao estudante permanecer na sua cidade de origem e tem ainda a condição de organizar o horário de estudos de acordo com a agenda de outras obrigações que possui.

Houve um crescimento de 20% daqueles que optaram por fazer faculdade a distância entre 2021 e 2022. Isso reflete o número de alunos que saltou de 3,9 para 4,7 milhões nesse período. Nota-se, portanto, um afastamento expressivo dos que preferem o EaD ao invés dos cursos presenciais, quando a quantidade de cursos não presenciais triplicou de 3.177 em 2018, para 9.186 em 2022.

A empregabilidade para quem se gradua em licenciatura é grande. O que desmotiva os que optam por ela são as condições de trabalho, baixa remuneração e desvalorização da carreira docente. Isso colabora para que muitos cursos não consigam preencher as vagas que disponibilizam aos interessados. Dois cursos lideram essa lista: Física e Química. Em 2022, nas escolas privadas, houve percentual absurdo de 97,6% em Física e 97% em Química de vagas não preenchidas. Nas escolas públicas, sejam elas federais ou estaduais, esses índices são menores, mas alarmantes: os cursos de Física não conseguiram preencher 49,8% de suas vagas e os de Química, 46,4%. Até mesmo para Medicina, um dos cursos mais concorridos do país, há 5% de vagas disponíveis entre as escolas públicas e privadas.

Em 2022, mais de 70% dos novos alunos do Ensino Superior privado, segundo o Inep, optaram por estudar a distância. Essa é uma realidade que diz respeito aos estudantes resende-costenses? Não sabemos. Nossos conterrâneos que cursam licenciaturas podem seguir a tendência nacional que tem visto crescer o desinteresse daqueles que poderiam se formar e atuar como professores. Leonardo Cássio da Silva (21 anos) está no 5º período de Pedagogia na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Ele representa grupo de alunos UFSJ, Ifet e Impacto junto à Associação dos Estudantes Universitários de Resende Costa. Leonardo observa que o número de alunos que se deslocam de Resende Costa para São João del-Rei, ao longo da semana, mantém-se como nos anos anteriores. Porém, para ele, os cursos de formação de professores têm sofrido redução.

O MEC, no momento, depois das claras intenções de desmantelamento do Ensino Superior vistas nos últimos anos, tende a reverter a situação, privilegiando o ensino presencial. Especialistas lembram a importância que tem o convívio, a troca de experiências e práticas, que nem sempre são possíveis de serem realizadas a distância. Há em bom número nos cursos superiores brasileiros estrutura, corpo técnico e docente bem preparado para formar professores. Por isso, fica-nos uma pergunta: é mais adequado formar-se para professor em curso a distância sabendo que, na educação destinada às crianças e jovens, o ensino é presencial?

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