Voltar a todos os posts

A guarda e o uso de documentos antigos

15 de Setembro de 2021, por Edésio Lara

Documentos antigos que registram parte da história da música em Resende Costa (foto Edésio Lara)

Para esta coluna, nas últimas edições do Jornal das Lajes, tenho me dedicado a informar sobre alguns trabalhos que ora realizo com documentos antigos. São papéis de música, fotografias, correspondências, certidões diversas, notícias de jornal... enfim, tudo o que temos e que nos fala, nos remete a uma Resende Costa antiga, dos séculos XIX e XX.

Material produzido na segunda metade do século XVIII não é tão fácil de ser encontrado. Muito se perdeu em virtude da degradação natural pela qual passam os papéis, principalmente. Mantê-los bem guardados e conservados não é tão fácil; aliás, é tarefa bastante difícil. Mesmo os que conseguiram sobreviver ante o ataque de cupins, traças e variação climática, quando encontrados precisam passar por tratamento adequado, realizado por especialistas no assunto.

Em nossa cidade, não temos um arquivo público destinado à guarda de fontes documentais produzidas por órgãos públicos ao longo do tempo. O que foi guardado se encontra espalhado em secretarias, escolas, outros setores da administração pública ou mesmo em mãos de particulares. Os cartórios de registro civil, de notas ou de imóveis, por obrigação, mantêm toda a documentação que produz sob guarda própria, já que dependem continuamente do que produzem para atender às demandas de pessoas físicas ou jurídicas, quando solicitados. Apesar de prestar alguns serviços que outros países já aboliram, tais como autenticação de documentos e reconhecimento de firmas, eles, de acordo com a Lei Federal nº 8.935, em seu artigo 1º, têm por finalidade “garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos”. Portanto, os cartórios precisam guardar todos os documentos que geram e cuidar bem deles.

A Paróquia de Nossa Senhora da Penha de França se empenha em manter na casa paroquial alguns documentos, tais como os livros de tombo ou de atas das mesas diretoras das irmandades, se não os envia para serem guardados no arquivo da Arquidiocese, em São João del-Rei. Outros órgãos são também produtores de documentos: escolas, hospitais, associações, clubes, agremiações ou bibliotecas são depositárias de informações de grande interesse público. Acessá-los, no entanto, não é fácil, já que não estão preparados para atender aos que os procuram em busca de informações.

A pessoas que se dedicaram a escrever livros, compor música ou textos para teatro, em boa parte, não se empenharam, não tiveram seus trabalhos bem cuidados, muito menos o fizeram os seus herdeiros. Deixados sob a guarda de familiares ou de amigos, muito se perdeu ou foi sumariamente jogado fora, como coisa velha, sem valor. Onde é que podem estar textos para teatro, poesias ou contos escritos por gente dessa terra? E os trabalhos de historiadores, memorialistas ou outros que destacam nossa cidade em seus escritos e que ainda aguardam uma revisão para serem publicados?

Sobre música não nos é difícil falar. Ela, a arte das musas, esteve e continua presente entre nós desde o nascimento do povoado, em 1749. Surgida a primeira capela, não é possível imaginar qualquer cerimônia litúrgica ou paralitúrgica sem música. Quais foram os músicos que aqui estiveram e em quais condições ainda não sabemos, estamos a pesquisar.

Do Arraial Velho de Santo Antônio, atual cidade de Tiradentes, certamente músicos vieram junto com os sacerdotes para abrilhantar as festas de cá. Depois começaram a vir também os maestros, instrumentistas, cantores e compositores de São João del-Rei para se juntarem aos da Vila de Resende Costa, para comporem os conjuntos incumbidos de participar com música das cerimônias religiosas celebradas aqui.  

Por sorte e uma boa dose de cuidados, parte do repertório musical que serviu ao Coral e Orquestra Santa Cecília e também à banda de música que ainda leva o nome da santa padroeira dos músicos, ficou guardada. E é partir desse acervo, que não é grande, que podemos contar um pouco da história do lugar, da religiosidade do povo, dos seus artistas músicos, por fim, de certos costumes que permanecem vivos entre nós desde que foram estabelecidos há muito tempo.

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário