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As mulheres e as eleições municipais de 2020 em Resende Costa

13 de Dezembro de 2020, por Edésio Lara

Itane Batista, do PDT, foi a candidata mais votada, porém, não conseguiu se eleger (foto redes sociais - reprodução)

A primeira Câmara de Vereadores de Resende Costa tomou posse no ano de 1912, quando o então distrito da Lage se emancipou de Tiradentes. Tomaram posse naquela época e sob a presidência do Coronel Francisco Mendes Rezende homens das famílias Gonçalves Pinto, Souza Santos, Rezende Mendonça, Coelho, Oliveira Braga e Reis. O quadro de fotografias exposto na sala do plenário da Câmara Municipal nos apresenta homens de cor branca, todos usando bigode, cabelos bem cortados e vestidos de alinhados ternos e gravatas.

A ausência quase absoluta de negros e a de mulheres no Legislativo Municipal é uma triste realidade durante 108 anos de sua existência. E se nos colocarmos diante do painel com fotografias de prefeitos e vice-prefeitos afixado na Biblioteca Municipal, não vemos um negro. Nem uma mulher.

Ao longo do tempo, dos 18 prefeitos que teve a cidade, somente três foram eleitos mais de uma vez. Gilberto José Pinto assumiu o Poder Executivo por três vezes. Depois, Ocacyr Alves de Andrade e Aurélio Suenes de Resende emplacaram dois mandatos cada um. Entre eles há ainda um fato: dois irmãos, de partidos diferentes, tornaram-se prefeitos municipais: Gilberto José Pinto (PMDB e, posteriormente, pelo PSDB) e Luiz Antônio Pinto (PT). Foi durante o mandato deles e, antes, no mandato do então prefeito Adenor de Assis Coelho, entre 1963 e 1967, que a cidade viu mulheres sendo eleitas vereadoras.

Em 21 de fevereiro de 1963, tomou posse, como primeira vereadora eleita no município de Resende Costa, Maria Raimunda da Conceição, a dona Maroca, do distrito de Jacarandira. Dona Maroca, porém, cumpriu somente um ano do seu mandato, renunciando no fim do primeiro ano. Em 1983, Maria Luíza Cesconi foi eleita vereadora pelo PMDB e ocupou uma das cadeiras na Câmara de Resende Costa, presidindo-a entre 1985 e 1986, quando Gilberto Pinto se elegeu pela primeira vez. Posteriormente, ao vencer as eleições em 1992, Luiz Antônio Pinto viu sua colega de partido, Cidinha do Posto (Geralda Aparecida R. Sousa), ser eleita e tornar-se a terceira vereadora do município. Por fim, e também pelo Partido dos Trabalhadores, Maria das Dores Silva, a Maria do Pedro, foi a quarta representante do sexo feminino na Câmara de vereadores, por duas vezes, entre os anos de 2001 e 2008.

Atualmente, quando um partido político busca entre seus filiados os interessados em participar do pleito destinado à escolha de vereadores, é preciso que 30% das vagas sejam do sexo feminino. Portanto, não é possível uma legenda lançar candidatos sem que seja cumprida essa regra. Trata-se de uma estratégia adotada para fomentar a presença feminina na política e estimular a participação das mulheres nas eleições deste ano. Nas eleições 2020 em Resende Costa, tivemos 71 candidatos a vereador, sendo 23 mulheres, isto é, 32,85% do total. Juntas, obtiveram 1.120 votos. Já os 47 homens somaram juntos 5.133 votos, 78,19% dos votos válidos. Novamente não elegemos uma mulher.  

A mais bem votada entre elas, com 182 fotos, foi Itane Trindade de Jesus. Filha da Regina da Lilica e artesã, ela completou 21 anos no último dia 4 de setembro. Itane mora no centro da cidade e estudou nas escolas Conjurados Resende Costa e no Assis Resende. Atualmente, faz curso técnico de Controle Ambiental no IFMG, em São João del-Rei. Filiada ao PDT, Itane, orgulhosamente, apresenta-se como líder do Movimento de Empoderamento Feminista Negro – Pretas Presentes. Quando lhe perguntei o que a levou a se candidatar a vereadora nas últimas eleições, ela respondeu: “A falta de representantes mulheres pretas no Poder Legislativo e no Executivo e, também, a insatisfação com o nosso sistema fizeram-me pensar que a diferença e a representatividade partiriam de mim.”

Itane, terminado o pleito, disse ter sido “bem recebida por todos durante a campanha eleitoral. Achei interessante, pois, se fizermos comparações por causa do sexo, eu fiquei como 2ª suplente, poderia ter chegado a uma das cadeiras. Adorei participar da campanha, conheci pessoas fantásticas, recebi apoio de mulheres que não imaginava; fica aqui minha gratidão por vocês.”

Nossas cidades vizinhas, Coronel Xavier Chaves, Ritápolis e Desterro de Entre Rios elegeram três mulheres, cada, nas eleições do último dia 15 de novembro. Duas representantes do sexo feminino vão assumir seus mandatos em Lagoa Dourada e São Tiago. Já os eleitores de Entre Rios de Minas e da nossa Resende Costa não conseguiram eleger uma mulher sequer.

A persistente ausência de mulheres, e também de negros, tanto no Legislativo, quanto no Executivo municipal, deve ser motivo de estudo, merece ser bem avaliada.

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