No final do século XVI, em 1594, Santa Cecília foi declarada protetora da música pelo Papa Gregório XIII. Diz-se que ela, Cecília de Roma, morreu sob tortura enquanto cantava hinos religiosos a Deus. A história do seu martírio começa quando ela, uma cristã da alta nobreza romana, foi prometida em casamento pelos pais a um jovem chamado Valeriano. No dia das núpcias, ela revelou ao marido que havia consagrado sua virgindade a Cristo e que um anjo aguardava a sua decisão. Valeriano, apesar de não ser cristão, compreendeu e acatou a decisão da esposa, deixando-se converter ao ser batizado.
Cecília viveu numa época em que inexistia liberdade religiosa plena, quando cristãos eram martirizados pelo Império Romano. Desprovida de ambições, doou o que tinha aos mais pobres. Viu seu marido Valeriano e o cunhado realizarem sepultamentos dignos de cristãos que eram abandonados a céu aberto e não acatarem a ordem de entregar ao prefeito de Roma parte da herança que herdariam de Cecília. Também negaram abandonar a fé cristã. Por isso, foram julgados e condenados à morte.
Quanto à jovem Cecília, que também se negou a acatar ordens de imperadores, foi submetida a seções de tortura e condenada à morte de forma bárbara, sendo deixada queimando-se em água fervente. Túrcio Almáquio, prefeito de Roma, vendo que ela resistia bravamente e cantava hinos em louvor ao Senhor, mandou que lhe cortassem a cabeça.
Ao longo do tempo, principalmente entre o fim da Idade Média e o início do Renascimento, artistas começaram a retratá-la em óleo sobre tela, afrescos, mosaicos e esculturas. Com feições de mulher jovem e rosto sereno, Santa Cecília aparece sempre segurando um instrumento musical: harpas, de corda friccionada, como são hoje os violinos, ou um órgão positivo. Um bom exemplo é o quadro “Santa Cecília” (1606), obra de Guido Reni (1575-1642), músico e pintor do período barroco italiano. Outra obra importante é a escultura “O martírio de Santa Cecília”, de Stefano Maderdo (1576-1636), concluída em 1600, depois de ele ter visto seu corpo ainda inteiro e incorrupto deitado em urna na Basílica de Santa Cecília, em Trastevere, na Itália, em1599. Em se tratando de texto e música, houve um poeta que escreveu várias poesias intituladas “Odes a Santa Cecília”, que mais tarde foram musicadas por dois importantes compositores ingleses: Purcell e Haendel.
Desde o século XVIII, no Brasil, confrarias foram criadas com o nome de Santa Cecília. As Irmandades de Santa Cecília passaram a abrigar músicos. Elas funcionavam como se fossem um sindicato. Ligadas à Igreja Católica, tinham estatutos e regulamentos. Ao longo do tempo, com o incremento da devoção à santa, surgiram grupos musicais que passaram a ter o nome dela. A banda de música municipal de Resende Costa, por exemplo, chama-se Santa Cecília. O mesmo nome tinha nossa orquestra e o coro sacro.
Nossa orquestra, no entanto, teve outros nomes, como Orchestra Nossa Senhora da Penha, quando padre Heitor foi nosso vigário. Em 1988, a professora e maestrina Aleluia Chaves, dando continuidade aos trabalhos dos grupos no âmbito da igreja Matriz, deu-lhe o nome de Coro e Orquestra Mater Dei, atualmente dirigidos por Wagner Barbosa da Silva.
Apesar de ter perdido o nome de Santa Cecília, o Coro e Orquestra Mater Dei mandou esculpir uma imagem da santa, que agora ocupa lugar de destaque na sala do grupo. A imagem esculpida por Wellington Reis, da cidade de Carmópolis de Minas, foi benzida no último dia 1º de setembro. Agora, ainda mais motivado, o grupo pretende realizar solenidades em honra à santa a cada ano, tocando e cantando músicas de autores resende-costenses e da região do Campo das Vertentes.
A experiência, realizada no último mês de novembro, foi coberta de êxito. Sob a proteção e as bênçãos da santa padroeira, o grupo demonstrou o quanto tem melhorado seu desempenho, ao ponto de colocá-lo em condições tão boas quanto a de outras orquestras e corais sacros de cidades vizinhas à nossa. Os sons que nos chegam do Coro e Orquestra Mater Dei são repletos de esperança frente à baixa qualidade e ao estado crítico em que se encontra a música praticada na Igreja Católica.