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Devoção à Santa Cecília, sua representação e a música em Resende Costa

16 de Dezembro de 2021, por Edésio Lara

No final do século XVI, em 1594, Santa Cecília foi declarada protetora da música pelo Papa Gregório XIII. Diz-se que ela, Cecília de Roma, morreu sob tortura enquanto cantava hinos religiosos a Deus. A história do seu martírio começa quando ela, uma cristã da alta nobreza romana, foi prometida em casamento pelos pais a um jovem chamado Valeriano. No dia das núpcias, ela revelou ao marido que havia consagrado sua virgindade a Cristo e que um anjo aguardava a sua decisão. Valeriano, apesar de não ser cristão, compreendeu e acatou a decisão da esposa, deixando-se converter ao ser batizado.

Cecília viveu numa época em que inexistia liberdade religiosa plena, quando cristãos eram martirizados pelo Império Romano. Desprovida de ambições, doou o que tinha aos mais pobres. Viu seu marido Valeriano e o cunhado realizarem sepultamentos dignos de cristãos que eram abandonados a céu aberto e não acatarem a ordem de entregar ao prefeito de Roma parte da herança que herdariam de Cecília. Também negaram abandonar a fé cristã. Por isso, foram julgados e condenados à morte.

Quanto à jovem Cecília, que também se negou a acatar ordens de imperadores, foi submetida a seções de tortura e condenada à morte de forma bárbara, sendo deixada queimando-se em água fervente. Túrcio Almáquio, prefeito de Roma, vendo que ela resistia bravamente e cantava hinos em louvor ao Senhor, mandou que lhe cortassem a cabeça.

Ao longo do tempo, principalmente entre o fim da Idade Média e o início do Renascimento, artistas começaram a retratá-la em óleo sobre tela, afrescos, mosaicos e esculturas. Com feições de mulher jovem e rosto sereno, Santa Cecília aparece sempre segurando um instrumento musical: harpas, de corda friccionada, como são hoje os violinos, ou um órgão positivo. Um bom exemplo é o quadro “Santa Cecília” (1606), obra de Guido Reni (1575-1642), músico e pintor do período barroco italiano. Outra obra importante é a escultura “O martírio de Santa Cecília”, de Stefano Maderdo (1576-1636), concluída em 1600, depois de ele ter visto seu corpo ainda inteiro e incorrupto deitado em urna na Basílica de Santa Cecília, em Trastevere, na Itália, em1599.   Em se tratando de texto e música, houve um poeta que escreveu várias poesias intituladas “Odes a Santa Cecília”, que mais tarde foram musicadas por dois importantes compositores ingleses: Purcell e Haendel.

Desde o século XVIII, no Brasil, confrarias foram criadas com o nome de Santa Cecília. As Irmandades de Santa Cecília passaram a abrigar músicos. Elas funcionavam como se fossem um sindicato. Ligadas à Igreja Católica, tinham estatutos e regulamentos. Ao longo do tempo, com o incremento da devoção à santa, surgiram grupos musicais que passaram a ter o nome dela. A banda de música municipal de Resende Costa, por exemplo, chama-se Santa Cecília. O mesmo nome tinha nossa orquestra e o coro sacro.

Nossa orquestra, no entanto, teve outros nomes, como Orchestra Nossa Senhora da Penha, quando padre Heitor foi nosso vigário. Em 1988, a professora e maestrina Aleluia Chaves, dando continuidade aos trabalhos dos grupos no âmbito da igreja Matriz, deu-lhe o nome de Coro e Orquestra Mater Dei, atualmente dirigidos por Wagner Barbosa da Silva.  

Apesar de ter perdido o nome de Santa Cecília, o Coro e Orquestra Mater Dei mandou esculpir uma imagem da santa, que agora ocupa lugar de destaque na sala do grupo. A imagem esculpida por Wellington Reis, da cidade de Carmópolis de Minas, foi benzida no último dia 1º de setembro. Agora, ainda mais motivado, o grupo pretende realizar solenidades em honra à santa a cada ano, tocando e cantando músicas de autores resende-costenses e da região do Campo das Vertentes.

A experiência, realizada no último mês de novembro, foi coberta de êxito. Sob a proteção e as bênçãos da santa padroeira, o grupo demonstrou o quanto tem melhorado seu desempenho, ao ponto de colocá-lo em condições tão boas quanto a de outras orquestras e corais sacros de cidades vizinhas à nossa. Os sons que nos chegam do Coro e Orquestra Mater Dei são repletos de esperança frente à baixa qualidade e ao estado crítico em que se encontra a música praticada na Igreja Católica.

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