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Notas sobre ações do Conselho Municipal de Patrimônio e Cultura de Resende Costa/MG

13 de Julho de 2017, por Edésio Lara

Desde o último mês de abril, tornei-me membro do Conselho Municipal de Patrimônio e Cultura de Resende Costa/MG. Este conselho é composto de quatorze membros entre titulares e suplentes e tem mandato com duração de dois anos. Cabe a este conselho que presido, a responsabilidade de acompanhar, analisar ou propor ações que preservem o patrimônio histórico e cultural do município. Destaco aqui, parágrafo de texto publicado pela prefeitura municipal e que descreve o conceito de patrimônio histórico: “Por patrimônio histórico entende-se o conjunto de bens móveis e/ou imóveis existentes em nosso território vinculados a fatos históricos memoráveis ou fatos atuais que agregam valor cultural ao patrimônio. Também são considerados patrimônio histórico os bens de natureza imaterial que constituem a cultura de nossa cidade e acrescentam valor ao nosso patrimônio. Esses bens devem ser protegidos contra ações de natureza prejudicial decorrente da atividade humana ou mesmo pelo decorrer do tempo”.

Os atuais membros do conselho, já no dia em que tomaram posse, chamaram para si a incumbência de dar mais visibilidade às suas ações e, também, de discutir com os moradores da cidade sobre a importância do trabalho de tombamento e preservação de bens históricos do município. E há muito por ser feito.

Atualmente o conselho está empenhado em ver as obras fundamentais de preservação do que já foi tombado sendo iniciadas. Não basta tombar um imóvel, por exemplo, mas acompanhar e fiscalizar todas as ações que devam preservá-lo. Em paralelo, quer o conselho que seja feito um trabalho de esclarecimento, de conscientização da importância do que nos restou de épocas passadas e merece ser preservado. São imóveis, móveis, documentos, enfim, um conjunto de bens materiais ou imateriais que dizem respeito às nossas origens.

Cito uma ação que exemplifica bem o que pretendemos. Em 1944, o então Padre Nelson Rodrigues Ferreira, recém chegado à Resende Costa, notou que documentos importantes da paróquia estavam espalhados, completamente desorganizados. Eram tantos escritos, havia anotações de registro de batismo e de óbito, que datam dos séculos XVIII e XIX. Pois bem, o novo padre, preocupado com a conservação desses documentos, mandou encaderná-los. São seis livros e, em dois deles, registrou sua preocupação. No livro de óbitos deixou escrito: “Mandei encadernar este livro para não se perderem as folhas que se acham esparsas aqui e acolá quando assumi esta paróquia de Resende Costa”. Noutro livro, o de batismo, mudou um pouco o texto, deixando claro que, pelo mal acondicionamento do material, algumas folhas já haviam sido perdidas: “... as folhas como perdidas algumas estão que se acham soltas e espalhadas aqui e acolá”.  Por fim, como exemplo do que contém esses livros, transcrevo aqui um registro de batismo: “Aos 11 de maio de 1796 nesta capella da Lage baptismei solenmte a Thereza nascida a 27 de abril, filha natural de Vitória, escrava de Francisco José de Mesquita. Foram padrinhos Joaquim José de Aquino e sua mulher Maria Silveira desta aplicação. O Pe. João José”. Junto a este registro de batismo, o padre Nelson anotou ao lado do nome do pai da criança: “Envolvido na Inconfidência Mineira.”

Esses livros que pretendemos tombar são um patrimônio da cidade, precisam ser bem cuidados. Antes, porém, devem ser apreciados por especialistas para que seu conteúdo seja transcrito e disponibilizado. São informações importantíssimas e que interessam principalmente a estudiosos – historiadores, notadamente – que dependem muito dessas informações para o pleno desenvolvimento de suas pesquisas.

Desde meados da década de 1990, os livros antigos de batismo e de óbito se encontravam fora da Paróquia de Nossa Senhora da Penha. Uma ação conjunta da Paróquia e do Conselho de Patrimônio trouxe-os de volta para onde jamais deveriam ter saído. Um bem público como esse não pode ficar em mãos de uma pessoa mas, sim, guardados em local apropriado e à disposição de todos, para consultas. Agora, de posse desses documentos desde o último dia 16 de junho, iremos, na próxima reunião do conselho, encaminhar a indicação de tombamento dos mesmos.

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