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Shows caríssimos em discussão: o caso envolvendo Gusttavo Lima

21 de Julho de 2022, por Edésio Lara

Causou tititi enorme a notícia de que um show do cantor Gusttavo Lima, agendado para ser realizado na cidade de Conceição do Mato Dentro/MG, no último dia 20 de junho, havia sido cancelado. O motivo do cancelamento: a repercussão negativa ante o cachê milionário que o cantor receberia no valor de R$ 1.200.000,00. Isso mesmo: um milhão e duzentos mil reais. Tudo isso para uma apresentação que geralmente dura em torno de uma hora.

Fazendo uma conta fácil, um trabalhador brasileiro que recebe por mês R$ 1.212,00 (mil e duzentos e doze reais), que corresponde a um salário mínimo, precisaria trabalhar exatos 990 meses, ininterruptos 30 anos, para atingir o valor cobrado pelo cantor para apresentar seu show na cidade mineira. E esse grupo de trabalhadores não é pequeno, ele corresponde a 38,22% do total da força de trabalho brasileira. É muita gente, uma loucura. 

Não entram aqui outras despesas relacionadas ao transporte, alimentação e hospedagem para grupo de 40 profissionais que acompanha o artista e que exige hotel mais luxuoso da região e comida “de primeira”.

A cidade de Conceição do Mato Dentro, considerada a capital mineira do ecoturismo, fica a 169 km da capital mineira, em local bastante procurado por turistas interessados nas belezas naturais da Serra do Cipó. Com 18.126 habitantes, conforme apurado pelo IBGE em 2017, cada morador iria pagar, de forma indireta, o valor correspondente a R$ 66,21 por ingresso. Por que tanto dinheiro para um show? Convenhamos, é muita grana. Por isso mesmo o Ministério Público entrou em cena, com o intuito de investigar este e tantos outros que também foram cancelados em cidades pequenas e pobres da região Nordeste brasileira. Afinal de contas, por que gastar tanto dinheiro que, se aplicado em ações artísticas e culturais, mais saúde, educação e segurança, traria resultados positivos para todos ao longo de um ano?

Não discutimos aqui quanto vale um show do Gusttavo Lima. Preço pelo trabalho que realiza, cada um põe o seu. Cabe-nos aceitar ou não. Também não colocamos para reflexão as qualidades artísticas do cantor e seu repertório. Afinal, gosto não se discute, cada um tem o seu.  Ele, ante tantos shows cancelados, sente-se perseguido, injustiçado. Nas redes sociais manifestou interesse em ir embora do país, quando muitos responderam: pode ir.

O bafafá, que teve início ao longo do primeiro semestre desse ano, deixou empresários e artistas insatisfeitos. Afinal de contas, vozes começam a ser ouvidas vindas daqueles que se preocupam com o bem-estar da população. Muitos desses municípios pequenos não produzem riqueza. Eles dependem de verbas que chegam do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) para custeio de despesas fundamentais, como manutenção de serviços públicos de saúde e educação. Portanto, não é incorreto questionar gastos exorbitantes como é o do caso citado aqui. É preciso considerar ainda que as verbas que recebem as prefeituras municipais vêm carimbadas, forma de dizer que não podem ser desviadas a fim de outros serviços, como pagamento de cachês a artistas.

Nossos grupos artísticos vivem de pires na mão, lutam bravamente para poderem manter sua programação de aulas, ensaios e apresentações quase que sem recurso financeiro algum. Alguma verba chega e, principalmente, às vésperas de eleições para vereadores, prefeitos, deputados.

Esses 38,22% da população composta de trabalhadores que recebem mensalmente até um salário mínimo merecem do poder público a atenção de lhes proporcionar momentos de lazer. Além de saúde e educação gratuita, não devem ser deixadas à margem a promoção de festas, sendo que muitas delas são realizadas por grupos organizados dos próprios municípios.

A última edição da festa do artesanato (VIII Mostra de Artesanato e Cultura de Resende Costa) nos serve de exemplo. Foi possível realizá-la ouvindo boa música interpretada por bandas da região sem, com toda certeza, gastar uma fortuna para contratá-las. Já para a Festa do Parque do Campo, nós participamos pagando ingressos para poder assistir aos espetáculos, sabendo que a prefeitura municipal cobre parte dos gastos com a promoção do evento. Em se tratando de dinheiro público, não é incorreto buscar informações sobre todas essas transações.

Enquanto isso, neste momento, há 33 milhões de brasileiros desempregados, na miséria, passando fome.

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