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ZAIA, a última lavadeira?

12 de Marco de 2019, por Edésio Lara

Costureiras, cozinheiras, parteiras, faxineiras, passadeiras de roupas, diaristas, babás, empregadas domésticas, bordadeiras, professoras primárias, principalmente, são algumas profissões nitidamente assumidas por mulheres. Muitas delas, bastante antigas, continuam existindo; outras vão sendo extintas, como é o caso das lavadeiras.  As máquinas de lavar roupas acionadas por motor elétrico, inventadas no início do século XX, vieram para facilitar o trabalho das mulheres e pôr fim ao árduo trabalho manual de lavar roupas.

Aquelas cenas de mulheres sentadas à beira do rio, colocando peças brancas para quarar sobre pedras, ou dependuradas no varal, vão ficando para trás. Lavar roupas sobre lajes e usar produtos como anil e sabão em pedra também são práticas que vão sendo esquecidas. Há no mercado produtos que prometem resolver problemas de sujeira e tirar manchas que antes demandavam paciência e esforço fisco das lavadeiras para deixar tudo limpinho.

Tal como ocorreu com os sapateiros e alfaiates, que viram suas atividades sendo substituídas pelas indústrias de calçados e confecções, a de lavadeiras é uma profissão a ser extinta. É comum vermos mulheres andando pela cidade com trouxas de roupas na cabeça para buscar e entregar aos seus fregueses? Não, não é mais comum. Aqui em Resende Costa, só conheço uma que ainda presta seus serviços de lavadeira. Ela busca as roupas sujas na casa dos outros para devolvê-las lavadas, passadas e dobradas, prontas para serem colocadas nos guarda-roupas: a Zaia. Eu ainda era menino e ela ajudava a lavar a roupa da nossa casa. Assim, tornou-se amiga de minha mãe, uma pessoa de casa para nós. Atualmente, há aquelas famílias que, mesmo com maquinário moderno de lavar roupas, não dispensam os trabalhos da Zaia ou da Carmelita, outra lavadeira, que mora no bairro do Tijuco.

Maria do Rosário de Souza (64), apelidada de Zaia da Vovó, começou a trabalhar como lavadeira na década de 1960, ao completar 10 anos de idade. Segundo ela,“para ajudar os pais a sustentar os oito filhos do casal.” O trabalho era todo feito na Fonte da Mina, até a água encanada começar a ser servida com regularidade na cidade. Ela, que com seu passo lento, ligeiro sorriso e discrição que lhe é peculiar, atravessou décadas indo de um lado para o outro da cidade com as roupas de cama, banho e vestuário, não deixa transparecer o cansaço resultante da labuta diária que a lavação de roupas causa. Zaia me disse que divide os trabalhos com sua irmã Maria José de Souza (74) e gosta do que faz. Não se sente cansada. “Enquanto tiver saúde, a gente vai levando. É bom para a cabeça”, completou.  

Zaia nasceu poucos anos antes de década de 1960, que ficou marcada pelo movimento feminista, o qual tinha como bandeira direitos que estavam para serem alcançados, tais como: direito à educação, ao divórcio, à vida política, ingresso ao mercado de trabalho com tratamento equânime àquele dado aos homens. Naquele momento, as mulheres tiveram acesso à pílula anticoncepcional, que refletiu positivamente no seu comportamento sexual.

Pouco tempo depois,a Organização das Nações Unidas (ONU) designou o ano de 1975 como o Ano Internacional da Mulher, com o dia 8 de março para celebrar seu dia. Nos anos que se seguiram ao de 1980, governos perceberam que havia chegado o momento de assumir a responsabilidade de garantir às mulheres direitos conquistados ao longo do tempo, através de instituições governamentais que criaram. Tudo isso se deveu ao fato de as mulheres, desde meados do século XIX, terem iniciado movimentos de luta por melhores condições de trabalho e de vida.

A Zaia conviveu com todas essas mudanças sem, no entanto, deixar de desempenhar a função que assumiu para a sua vida: a de lavadeira. É possível que, quando chegar o momento de parar de exercer esse seu ofício, não haja mais quem a substitua na cidade. Dificilmente surgirão novas lavadeiras de roupas em Resende Costa.

Este texto, portanto, no mês em que celebramos o Dia Internacional da Mulher, eu o redigi para homenagear tantas Zaias que existem por aí. São trabalhadoras que, através de suas atividades, desempenham papel social relevante sem, muitas vezes, ter o merecido reconhecimento pelo que realizam.

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