O Verso e o Controverso

A arte homenageando os falecidos

23 de Novembro de 2022, por João Magalhães 0

Quando estas linhas chegarem aos olhos do leitor, o Dia de Finados (2 de novembro) já terá passado. Contudo, o mês de novembro marca-se pelo costume praticamente universal de culto aos falecidos.

Embora os locais de lembrança mais intensa, os cemitérios, tenham modificado muito e a pandemia de Covid-19 forçado muito esta modificação, impedindo até a despedida última dos familiares, acho que um modo de homenagear nossos antepassados levados pela morte talvez seja curtir as maravilhas da arte funerária: arquitetura, escultura, literatura e música.

Há cemitérios que são verdadeiros museus ao ar livre. Dos que conheço, cito especialmente o Cemitério da Consolação e o Cemitério São Paulo, em São Paulo capital; o Cemitério do Imigrante, em Joinville; o Cemitério de Praga (e aproveito para aconselhar a leitura do romance do saudoso Umberto Eco com o mesmo título), que vi só pelo portão de entrada por causa do tempo; e, é claro, a catacumba de São Calixto, em Roma.

Se você curte literatura, ao visitar um campo santo veja os epitáfios – do grego “epi” (posição superior) e “tafos” (túmulo ou tumba). Epitáfio: frase colocada sobre o túmulo, lápide ou monumento funerário para homenagear a pessoa que morreu.

Há epitáfios para todo gosto: poéticos, engraçados, piedosos, descritivos, históricos... Muitos em latim, como este no túmulo de um sacerdote: “Pascebat amore, ore, re” (apascentava com o amor, com a palavra e com a ação); ou este escrito pelo José Procópio, um dos maiores latinistas que Resende Costa teve, no túmulo de seus familiares aqui no cemitério de baixo, num latim clássico e poético que acho uma raridade: “Parentes, interitu adempti, quae inhabitatis nunc, non licet ire nisi ad astra, praeces  (Pais, arrebatados pela morte, onde habitais agora, não é lícito ir senão pelos astros, [nossas] preces).

Este é o epitáfio que dom Pedro Casaldáliga quis que se colocasse em sua tumba no Cemitério dos Excluídos de São Félix do Araguaia: “Para descansar/ eu quero só/ esta cruz de pau/ com chuva e sol/estes sete palmos/ e a Ressurreição”.

No cemitério São Paulo, dito acima, você lê até um soneto clássico, num italiano perfeito, saudando uma mãe ali sepultada.

Que tal, fazer uma visita, ouvindo o espetacular “Epitáfio”, dos Titãs?

Para os aficionados em arquitetura, há túmulos muito bem desenhados, até um ou outro mausoléu e os túmulos-capela; para os fãs de escultura, obras de artistas famosos, como Brecheret, Emendabilli, Bruno Giorgi no cemitério da Consolação, em São Paulo, e tantos outros.

E a música? Difícil achar um ouvinte de música sacra que não tenha se emocionado com algum dos numerosos “réquiens”.

E estendo tudo isso às maravilhosas necrópoles das irmandades de cidades históricas de nossa Minas Gerais

Tempos bem longínquos, quando ainda em sala de aula, lecionando Literatura, levava os alunos a visitar os cemitérios-museus de São Paulo. Para isso, fiz um curso de arte tumular com o especialista no tema, professor Délio Freire dos Santos.

Como a arte tumular trabalha muito com a simbologia, transcrevo da apostila do curso uma lista desses símbolos.  Poderá ajudar o leitor numa visita. Muitos deles tiveram origem na simbologia cristã. Anjo: mensageiro de Deus. Ampulheta: tempo inexorável. Âncora: esperança. Coluna: vida. Concha: apostolado, batismo, remissão dos pecados. Cornucópia: riqueza. Livro: pureza. Tíbias cruzadas: a morte.Tochas: voltadas para baixo, morte; para cima, vida. Santíssima Trindade: Jesus, Maria, José. Triângulo: signo trinitário. XP: Xispisto – a Cristo, em grego. Cachorro: fidelidade. Coruja: sabedoria. Elefante: mansidão. Galo: vigilância. Morcego: incredulidade. Serpente: ódio, inveja, profissão, luxúria. Leão: vigilância. Abelha: trabalho. Águia: glória. Pelicano: amor materno, ressurreição. Pomba: paz, castidade. Coroa de louros: martírio. Girassol: realeza de Cristo. Palma: castidade, alegria, martírio. Papoula: sono eterno. Trevo (ou Trigo): pão divino. Olho deDeus: o que tudo vê. Compasso: cada coisa tem que ser feita a seu tempo, no giro do compasso. Esquadro: retidão de conduta. Esfera: universo. Foice: a que põe termo à vida. Martelo e pregos: crucificação. Alfa e ômega: primeira e última letras do alfabeto grego, o princípio e o fim. Chama: luz de vida. Lírio: pureza. Pira fumegante: homenagem à glória. Vela: vida

É o que penso. E você?

Datas comemorativas de outubro

25 de Outubro de 2022, por João Magalhães 0

Hoje em dia, há dias comemorativos para tudo e para todos e o mês de outubro é muito rico nessas datas: Dia da Criança; do Professor; de Nossa Senhora Aparecida; do Idoso; do Dentista; da Abelha; da Natureza; da Promulgação da Constituição de 1988; do Atletismo; do Vendedor; do Compositor; do Prefeito; do Deficiente Físico; do Pintor; do Poeta; do Paraquedista; do Aviador; do Servidor Público; do Folclore; das Bruxas (Halloween); da Fundação da Cruz Vermelha etc.

Antes de falar sobre algumas datas pouco comemoradas, como o Dia do Idoso, o Dia da Fundação da Cruz Vermelha e o dia da Promulgação da Constituição Brasileira de 1988, convém destacar o Outubro Rosa – campanha realizada mundialmente para conscientizar a população sobre o diagnóstico precoce do câncer de mama. O laço rosa, símbolo do movimento para incentivar essa prevenção, precisa ser divulgado.

Outras datas, como o Dia Mundial da Alimentação (16/10), o Dia da Vacinação (17/10) e o Dia da Criação da Cruz Vermelha são oportunidades para uma conscientização nossa de cidadãos acerca da situação de nosso país: fome grassando, pessoas não vacinadas, sobretudo crianças.

Quanto ao Dia da Fundação da Cruz Vermelha: importante lembrar-se do grande humanitário suíço Jean Henri Dunant, vendo as barbaridades na batalha de Solferino em 24 de junho de 1869 na Itália. A Cruz Vermelha é instituição internacional sem vinculação estatal que atua em defesa de pessoas em situação de vulnerabilidade causada por fenômenos adversos, como inundações, terremotos, tsunâmis e, sobremaneira, pelos conflitos armados (a guerra da Rússia contra a Ucrânia que o diga). Entidade muito cara a mim, pois fui professor por dez anos na escola de Enfermagem da Cruz Vermelha Brasileira, filial São Paulo.

O Dia Internacional do Idoso é comemorado anualmente no dia primeiro de outubro. A data foi instituída pela ONU (Organização Mundial das Nações Unidas) em 1991, com o objetivo de sensibilizar a sociedade para questões do envelhecimento e da necessidade de proteger e cuidar da população idosa. A mensagem desse dia é a de passar mais carinho, cuidado, respeito e atenção a essas pessoas, muitas vezes esquecidas e até exploradas pela sociedade e pela própria família. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), idoso é todo indivíduo com 60 anos ou mais nos países em desenvolvimento, ou com 65 anos ou mais em países desenvolvidos.

O Brasil tem uma boa legislação de proteção ao idoso, que é o Estatuto do Idoso, mas a prática anda longe, bem longe!

Dia 20 de outubro é o Dia do Poeta. Origem: em 20/10/1976, na casa do jornalista, romancista, pintor e também poeta (veja “Juca Mulato”), Paulo Menotti Del Picchia, surgia o Movimento Poético Nacional. A data homenageia e lembra esse momento para os poetas do Brasil, incluindo, portanto, os poetas de Resende Costa.

Minha homenagem especial, nessa data, vai para o franciscano frei Gotardo Boom, que foi vigário da paróquia de Ritápolis. Poeta, deixou um soneto: “Saudação a Resende Costa”, que reproduzo.

 

“Mira esta cidade serrana, assentada sobre uma laje/ Uma “urbe” construída num monte, não ficará escondida/ Como Jerusalém e Diamantina sempre uma imagem/ Dum farol, como arco de paz, constante ascendida.

Palco ilustre de preclaros inconfidentes mineiros/ Não de um, mas de dois, pai e filho juntamente/ Hás de falar por todos os séculos dos pioneiros/ Da liberdade tardia, que jamais esmaece justamente/

Antes de ambos partirem para o longínquo degredo/ Ouro debaixo dos botões a esposa lhes costurava/ Deste modo fidelidade e coragem singular inspirava/

Resende Costa aprumada para o alto te elevas/ Teu povo, joelhos na laje, mãos para o céu sustenta/ Como Moisés na batalha, a vitória no peito acalenta”.

 

Escreveu esse soneto em Ritápolis, no dia 26 de outubro de 1968. O frei merece elogio. Dentro de uma forma difícil, pois, curta, fixa, rimada e travada do soneto clássico, transmitiu aspectos bem significativos de nossa cidade, com chave de ouro e tudo!

É o que penso. E você?

“Maritê”, de Stela Vale e Alair Coêlho: impressões de uma leitura

21 de Setembro de 2022, por João Magalhães 0

Pelo que conheço, reconhecendo, porém, que posso estar desatualizado, Resende Costa prima por ter muitos bons poetas (alguns poetando até num latim clássico, como no caso de Miled Hannas e no de José Procópio), muitos memorialistas, muitos cronistas, muitos historiadores, mas poucos contistas, novelistas e romancistas.

Na realidade, só conheço o Evaldo Balbino, com seu excelente “Fios de Ícaro”, e o Alai Coêlho, com seus “Casos e causos do vovô Totonho da Chapada” e “Embuçado, agente da Conjuração Mineira”. Agora, “Maritê”, de Stela Vale Lara e Alair Coêlho de Resende. Se o leitor conhecer outros mais, por favor, atualize-me.

Ao modo de alguns clubes de leitura, partilho com o leitor algumas impressões que a leitura de “Maritê” deixou em mim. Não é uma análise literária e sim impressões bem pessoais, lembrando o princípio de Santo Tomás de Aquino (1225-1274); “tudo o que se recebe, recebe-se ao modo do recipiente” (quidquid recipitur ad modum recipientis recipitur).

“Maritê”, escrito a 4 mãos, mas com simbiose perfeita, como escreve Vivien Gonzaga e Silva no prefácio, remeteu-me ao primeiro livro que li quando aprendi a ler no Assis Resende – 1947 –,  cujo título jamais se apagou em mim: “Contos pátrios”. Escrito por Olavo Bilac e Coelho Neto, portanto a 4 mãos. Só bem mais tarde, trabalhando com literatura, consegui distinguir os textos de Bilac e os de Coelho Neto. Com “Maritê” foi mais fácil, pois já conhecia o teor do Alair em seus escritos publicados.

Minha leitura emoldura “Maritê” num quadro de romance histórico sobre nossa Resende Costa. Ela aparece na descrição das serras, dos morros, dos córregos e cachoeiras, dos seus locais urbanos mais frequentados (“quatro cantos”), das viagens a São João del-Rei, dos institutos onde os remediados iam estudar: os internatos de São João del-Rei e o Caraça, dos ritos de batizados, casamentos e primeira comunhão, das festas religiosas etc.

A excelência dos textos descritivos, como a Serra da Jiboia, a tempestade que dociliza o Sultão, os carros de boi levando as mudanças para as casas alugadas na Semana Santa e muitos outros, a meu gosto, marca o livro e cumpre bem uma das finalidades da descrição, segundo o xará do protagonista Alonso Schokel, S.J: “Provocar em nossa imaginação uma impressão equivalente à impressão sensível”.

Com uma agradável e fácil narrativa, através da Roncador, fazenda semelhante a outras fazendas do município, informa ao leitor jovem como era a vida numa grande fazenda colonial mineira, como era a formação educacional, a vida social.

Como escreveu o jornalista argentino Tomás Eloy Martinez, “talvez a maior maravilha do livro seja sua capacidade de transfiguração, de ser primeiro a voz que vai se enriquecendo ao passar de geração para geração, até que alguém, com medo de que a voz se perca nos ventos do tempo, ordena retê-la em páginas manuscritas para que seja mais tarde folha impressa.” Stela e Alair o fizeram e com muito talento.

Os contemporâneos, ou seja, os que nasceram e cresceram na época da narrativa (tempo do enunciado), sobretudo na roça, terão suas lembranças bem excitadas. É o meu caso. Revivi o sítio em que fui criado, as visitas aos meus tios na Restinga, Pintos, Água Limpa, Jabuticaba e tantos outros.

Os não contemporâneos terão uma noção do meio de vida, dos comportamentos, do lazer e até das fofocas de seus antepassados.

Outra impressão muito positiva da leitura é o estilo dos dois narradores, adotando as características do nosso Romantismo literário, lembrando até explicitamente Bernardo Guimarães (1825-1884) com seu “O Seminarista”.

Mais ainda os temas e características do Arcadismo mineiro: aproveitar o presente sem se preocupar com o futuro (“carpe diem”); contenção frente aos acontecimentos e uma vida equilibrada, sem exageros (“aurea mediocritas”); comunhão com os lugares agradáveis da natureza, sobretudo o bucolismo dos campos (“locus amoenus”). 

Loas também para o livro sob o aspecto editorial: apresentação gráfica, capa e fotos ilustrativas.

É o que eu acho. E você?

Mês de agosto: uma lembrança triste

17 de Agosto de 2022, por João Magalhães 0

Difícil achar uma pessoa que não tenha alguma lembrança significativa – positiva ou não – que marca uma data do ano, mês, semana, dia. Mais significativa ainda se o episódio lembrado aconteceu na infância. No meu caso, é o mês de agosto.

Quando vejo os cães de rua, aqui em Resende Costa, tranquilamente dormindo ou descansando na calçada, felizmente até bem nutridos pela população amiga dos animais, o episódio me volta à mente. A memória tem esta vantagem, como escreve Santo Agostinho, em “Confissões”: traz do passado para o presente um acontecimento sofrido, mas sem a dor do momento em que se deu ou até com um certo gosto de vitória.

Mês de agosto era o mês de cachorro zangado. Zangar era o termo que se usava na minha infância, lá no Tijuco, para o cachorro que pegava a raiva. A palavra sinônima – hidrofobia – era desconhecida.

Um pouco de informação, oferecida pela médica-veterinária, Dra. Kelli Nicida: a raiva é uma velha conhecida dos humanos. Muito perigosa, atinge todos os mamíferos, incluindo ruminantes, felinos e até morcegos. Trata-se de uma doença infecciosa causada por um vírus. O vírus se liga aos nervos do hospedeiro e, por dentro deles, migra até o cérebro, causando inflamação dos tecidos afetados. Com uma evolução muito rápida, a raiva mata quase 100% dos pacientes infectados; não só os cães, mas também seres humanos. Mas, você já se perguntou por que a doença é tão associada aos cachorros? Até o ano de 2003, os cães eram os principais transmissores da raiva para os humanos no Brasil.

Como acontece o contágio? O vírus da raiva se aloja, entre outros tecidos, nas glândulas salivares do doente. Como a doença causa agressividade, a mordida é a principal forma de animais infectados, como cães e morcegos, passarem o vírus adiante. No entanto, o que muita gente não sabe é que a doença também pode ser contraída a partir de outros animais, como guaxinins e gambás. Por isso, todo cuidado é pouco com pets que vivem em áreas externas, em sítios ou casas de campo.

No imaginário popular, a principal imagem da raiva em cães e gatos é um animal babando, com a boca cheia de saliva esbranquiçada. Isso se deve, principalmente, a sintomas de uma das etapas da doença. Popularmente, fala-se em “raiva furiosa” e “raiva paralítica”. Na verdade, é a mesma doença, em etapas distintas. O período conhecido como “raiva furiosa” é a primeira fase. Com duração de 1 a 4 dias, ela costuma causar alterações de comportamento no cão, como: excitação, agressividade, medo, depressão, ansiedade.

Apesar de ser uma doença extremamente perigosa, a prevenção da raiva é bastante simples: a vacinação. Com uma taxa de proteção muito próxima a 100%, ela é a melhor forma de manter o vírus longe do seu amigo.

O Tijuco de minha meninice era um pequeno arraial, separado da “Vila” (como chamávamos a cidade) por uma dupla estrada de terra de quase três quilômetros e meio: uma para automóveis e outra para carros de boi. Quase todo mundo tinha cães e gatos, mas, diferentemente de muitos donos de hoje, os cachorros viviam soltos. Entravam na casa, porém nunca dormiam dentro dela. Os mais bravos eram treinados para obedecer aos habitantes da casa. Os indomáveis raramente sobreviviam.

Era um pavor lá no Tijuco quando corria a notícia de um cachorro zangado, seguindo, babando e mordendo outros cachorros ou quem vinha pela frente pelas trilhas por onde circulávamos. Os cães “ofendidos” (palavra daquele tempo = mordidos) eram sumariamente mortos e muitas casas, preventivamente, os eliminavam para evitar o contágio. Caso nosso.

Daí a minha lembrança trágica, embora nunca tenha visto um cachorro louco. Muito novo ainda, mais ou menos entre 7 a 10 anos, vi meu pai saindo com um machado, indo em direção ao Laporte, nosso cão amigo. Só vi a cena de meu pai enterrando-o no quintal, todo ensanguentado e com a cabeça rachada. Era o mês de agosto!

Só xingar, vale pouco

21 de Julho de 2022, por João Magalhães 0

Pelas voltas que o mundo dá, a inflação veio com tudo, trazendo fome e elevando ao máximo a pobreza nos países já pobres. Voltas energizadas pela ganância, pela maldade humana, pelo poder político interesseiro e egocêntrico, pelo vantagismo (o leitor lembra da “lei de Gerson”?). A guerra da Rússia contra a Ucrânia, os assassinatos na Amazônia, a destruição de recursos de sobrevivência pelo tráfico, pelo garimpo, pela pesca e caça ilegais, pelas minerações etc. que o digam.

Confirmando o que já sentimos na carne. No momento em que escrevo (19/06/2022), leio a manchete do Estadão: “Fila para o Auxílio Brasil (benefício de 400 reais por mês para cada família) dobra e já tem 2,78 milhões de famílias”. O xingatório maior agora é contra a Petrobrás por causa dos aumentos nos combustíveis, que impedem o controle do efeito dominó no meio de vida econômico do(s) país (es). Reclamar, criticar, xingar, é preciso, porém não basta. Faz-se necessário apontar soluções.

É minha opinião quanto à Petrobrás, desde que supurou a crise ocidental do petróleo do momento atual. Opinião que não está sozinha. Veja a matéria de Vinícius Neder no caderno de Economia, também no Estadão de hoje (19/06/2022). Quem sabe você concorde? “Petrobras repassa mais R$ 8,8 bilhões ao governo federal, seu maior acionista.” Especialistas avaliam que, em vez de atacar a empresa, o governo deveria usar essa parcela de lucro em políticas sociais. Dizem economistas: “A estatal, que reduziu a sua dívida, pode ser ainda mais rentável com a receita do pré-sal”.

Apesar das críticas ao lucro da Petrobras já feitas pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, o governo federal está entre os maiores beneficiários dos resultados financeiros da petroleira. A União recebeu mais uma parcela, de R$ 8,8 bilhões, do lucro da estatal. A cifra faz parte de um total, já anunciado este ano, de R$ 32 bilhões em dividendos que serão pagos até julho ao governo, maior acionista da companhia.

Entre 2019 e 2021, a União já tinha embolsado em dividendos outros R$ 34,4 bilhões, a valores atualizados, segundo levantamento de Einar Rivero, da TC/Economática. Quando se somam, ao lucro destinado à União, os impostos e os royalties, a Petrobras injetou nos cofres federais R$ 447 bilhões de 2019, início do governo Bolsonaro a março deste ano, conforme dados dos relatórios fiscais da companhia, revelados pelo Estadão em maio. Considerando-se estados e municípios, o montante chega a R$ 675 bilhões. Só o montante pago à União corresponde a aproximadamente cinco vezes o orçamento do Auxílio Brasil previsto para este ano, em torno de R$ 89 bilhões.

Desde o início do ano, para rebater as críticas de Bolsonaro e de líderes do Congresso Nacional, a Petrobras vem ressaltando que seus ganhos retornam para a sociedade. A empresa informou que, em 2021, recolheu R$ 203 bilhões em tributos próprios e retidos, maior valor anual já pago pela companhia, um aumento de 70% em relação a 2020. No primeiro trimestre de 2022, pagou mais R$ 70 bilhões aos cofres públicos entre lucro, tributos e participações governamentais, praticamente o dobro do valor recolhido no mesmo período de 2021. PROBLEMA OU SOLUÇÃO?

Não falta dinheiro aos três poderes da nação e a seus funcionários categorizados. Há partidos políticos com dificuldades para gastar a quantia a eles destinada pelo Fundo Partidário! Pode?!! Viva o orçamento secreto!!

Falta, sim, aos cidadãos comuns que são a maioria. Todos contribuem para o bolo. A injustiça está na distribuição das fatias.

Como diz o economista Luís Eduardo de Assis, ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, a fome tem rosto, tem nome e tem endereço. Tem também origem. Essa catástrofe que nos envergonha deriva da pérfida combinação entre erros da política econômica e desprezo pelos mais pobres. E informa: em 2022, 60 milhões de pessoas sofrem de insuficiência alimentar grave, ou seja, passam fome (Oesp 20/6/2022).

É o que penso. E você?