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Os “turcos” em Resende Costa VIII

14 de Dezembro de 2010, por João Magalhães

Miguel Salomão

A família Salomão

Nossa série sobre os “Turcos” em Resende Costa termina com a família Salomão.

A raiz “Salomão” em Resende Costa foi Miguel Salomão, conhecido de todos como “Miguel Turco”.
 
De seus filhos, viva só está a Filomena, infelizmente, sem condições de relatar suas vivências. Como não se conseguiu qualquer documento, só nos restou o recurso a lembranças, aliás, muito esparsas, de quem com ele conviveu. Nossas fontes principais são, por coincidência, duas Terezinhas.
 
Terezinha Hannas, sua sobrinha por parte da esposa dona Maria (Marin, no Líbano), informa que ele nasceu em Halet, no Líbano. Seus pais: Simão e Dunna Salomão. Portanto, conterrâneo do João Daher e dos El-Corab, sobre cuja trajetória já escrevemos.
 
Veio para o Brasil nos inícios do século XX (1900-1910), com um grupo de conhecidos, entre eles, João Daher, Chicre Salomão, Bichara, Abraão e Alfredo Hannas, Sebastião Nagib Roman, Nacif, Zacarias e outros.
 
Motivos? Os mesmos de todos: busca de melhores condições de vida, fuga da opressão turca etc.
 
Sua nora, Terezinha (82 anos), filha do Sérgio Procópio, viúva de seu filho, Alberto Salomão, relata que, aos 12 ou 13 anos, vindo morar na cidade, ouvia o povo falar que Miguel “depois voltou na Turquia (sic). Casou com dona Maria e veio morar em Santos. Lá morou, não sei quanto tempo. Lá em Santos, tiveram Amélia, Adélia, Florinda e o Zé. Acho que tiveram quatro filhos em Santos”
 
Por informações da filha de Chicre Salomão, via Terezinha Hannas, sabe-se que ambos trabalharam juntos na venda de cereais e na criação de carneiros. Miguel morou com Chicre em Capelinha, depois em Garça (Morro da Garça?). Tinha, na ocasião, cerca de 20 anos.
 
Como o primeiro filho seu a nascer em Resende Costa foi o Alberto, em 29 de julho de 1911, conclui-se que entre os anos 1909 e 1910 já se estabelecera aqui na cidade.
 
Montou seu negócio nos “Quatro Cantos”, atualmente esquina da Av. Mons. Nelson com a Rua Assis Resende, uma parte, ainda propriedade de seus descendentes. Era a “Loja Árabe”. Um cartaz de sua loja, ao que parece muito antigo, contém as palavras seguintes, ao pé da letra: “Completo sortimento de Fazendas, Roupas, Chapéos, Calçados, Armarinho, Ferragens, Louças, Generos do Paiz, etc, etc. Miguel Salomão & filho. Villa Rezende Costa – E. de Minas” .
 
Tal como os demais sírio e libaneses por aqui, cresceu economicamente. Além do comércio, tinha um terreno, lá na “Fonte da Ilha”, mais tarde, propriedade do filho caçula, Antônio Salomão.
 
Criou numerosa família: Amélia, Adélia, Florinda, Filomena, Jamile, Dalila, Olga (falecida ainda criancinha), José, Alberto, Simão, Clemenceau (Sossó) e Antônio.
 
Conforme Terezinha Hannas (Lembranças Esparsas, p.66), Amélia foi a maior tristeza da vida de Dona Maria. Por volta de 1913, Miguel, contra a vontade da mulher, enviou Amélia e Adélia para o Líbano, a fim de cuidar da mãe dele. Explodiu a 1ª Guerra Mundial (1914/1918) e Amélia desapareceu no Líbano e sobre ela ninguém jamais ouviu falar.
 
Cedo espaço para a prodigiosa memória do Gentil Vale (Escavações no tempo, p.116): “Nos quatro cantos também duas outras lojas abriam suas portas. A do Miguel Turco e a do Calixto Hannas. Vendiam tecidos, armarinhos. Seu Miguel, como o tratávamos, era natural do Líbano. A casa do Sr. Miguel ficava na esquina, ao lado da do Osório. No amplo quintal, duas imensas paineiras e muitas jabuticabeiras. Casa farta e sempre cheia de gente. Nela também moravam o Pedro turco, seu irmão Joaquim e o Zacarias”
 
Miguel Turco era um homem alto e forte. Na mocidade, era chamado de Miguelão. Trabalhador inquieto e sempre pronto. Homem correto com indiscutível crédito no comércio. Afável e muito brincalhão.
 
Dos costumes árabes, parece que só manteve os hábitos culinários mais tradicionais: quibes de carne de carneiro, charutinhos etc. A Filomena do Dezinho (mãe do Luís Ezequiel de Resende, o Bacarini) lembra-se de uns figos cristalizados deliciosos que faziam. Devia ser novidade, na época, em Resende Costa. Antônio de Paula Pinto (Tonico do cartório), que por amizade com o Antônio Salomão, frequentava muito a casa, diz que dependuravam numa porta perto da cozinha um carneiro abatido e limpo. Embaixo, uma baciinha com sal e uma faca. Cortava-se uma tira de carne (crua) passava-se no sal e comia-se.
 
Miguel não gostava de falar o árabe, nem para xingar, mas dominava-o, pois, morando com o Chicre, traduzia para a mulher dele, brasileira, cartas chegadas do Líbano. Gostava de acompanhar os acontecimentos: sobre o balcão, sempre um jornal do Rio de janeiro.
 
Faleceu em sete de janeiro de 1956, na faixa dos 80 anos. Ainda lúcido, sempre controlando suas contas. Só então se livrou do suplício de uma ferida na perna, incicatrizável, que o acompanhava nos últimos tempos.
 
Seu numeroso clã familiar movimentou bastante a roda social e política de nossa cidade. E ainda gira, através de netos e bisnetos.
 
O espaço nos permite citar apenas alguma atuação ou acontecimento. A opção foi para os mais lembrados nas entrevistas.
 
Está na memória da cidade o Sossó, que tinha um nome próprio incomum: Clemenceau. Poderia ser uma homenagem ao famoso primeiro-ministro George Clemenceau, que governou a França durante a 1ª. Guerra Mundial (1914-1918). Foi o melhor goleiro que o mítico time dos “Expedicionários” já teve. Teve convite para jogar no Rio de janeiro. Não foi por oposição do pai.
 
Escreve Terezinha Hannas: “não me lembro em que ano, a filha Jamile resolveu ser rainha na festa do Rosário, que aconteceria no final do mês de outubro. As rainhas eram sempre escolhidas entre mulheres da raça negra, cuja comunidade local não gostou da presença de uma rainha branca”.
 
Alberto Salomão, fanático pelo ex-presidente da República Jânio Quadros, de vassourinha na lapela, marcou presença por ter sido delegado de polícia e juiz de paz.
 
E claro, na História política de Resende Costa, não se pode omitir o Antônio Salomão, por sua longa atuação na Câmara Municipal. Vereador secretário da câmara no mandato do prefeito Geraldo Monteiro (1950-1954). Novamente, no mesmo cargo, no mandato do prefeito Antônio Honório (1955-1959). Presidente da Câmara, no biênio 1989-1990, no mandato do prefeito Camilo Lélis (1989-1992).

Comentários

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    Sou um legítimo salomão fazo parte testa familia queria fazer a comunocacao sou brasileiro bisneto de turco o ser Alfredo salomão deixo meu contato 929 91124923 what sap


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