O macaco voltava para sua terra, depois de certa ausência. Saiu de lá ainda muito cedo para batalhar a vida na grande cidade. E conseguiu. Nunca mais voltou para sua zoolândia. Nos primeiros anos trabalhou e se divertiu muito. Ia a festas, bailes, campos de futebol, bares. Participava de tudo. Depois, as coisas mudaram. Aonde ia, passou a não ir: só confusão, brigas, bebidas, fumos e por aí a fora... Só TV, só computador, só internet.
Vieram as saudades dos brinquedos de sua infância e adolescência. De subir nas árvores. De roubar jabuticabas na horta dos vizinhos. De ver novamente como os canarinhos trinavam para suas namoradas. De jogar uma partida de futebol nos campos improvisados dos povoados. Lembrava-se muito dos campeonatos: havia um time de leitões disputando com um time de frangos, ambos muito bons. E um time de raposos contra vários outros. Havia encrenca, mas só nos jogos.
Chegou ao anoitecer. Pouca gente na rua. Quase nenhum conhecido. Foi para a casa de um irmão. Sobrinhos e cunhada, frente à TV, torciam por um grupo de bichos de ambos os sexos (macacos, gatos, cães, galinhas, porcos e muitos mais) presos numa jaula luxuosa, servindo de espetáculo para todo o mundo. Foi muito bem recebido, mas todos estavam curiosos para saber se ele conhecia pessoalmente algum dos animais.
No dia seguinte, domingo, foi assistir às peladas. Os campos? Ah! Vazios, cheios de mato. Foi, então, visitar os outros parentes. Na casa de um: TV. Roíam unhas por um time de porcos de uma grande cidade; na casa de outro, também TV: um time de galos. Na próxima casa: que novidade! TV de novo. Era um time de raposos bem uniformizados: camisetas verdes, azuis, listradas, numeradas com símbolos.
E as brincadeiras de crianças e jovens? Onde estavam os bandos? Todos nas salas de games.
Cadê as frutas? Tomavam sucos de pacotinho. Cadê as músicas? Os conjuntos? Ninguém cantava mais. E a jabuticabeira do vizinho, tão bonita? Há tempo o dono metera-lhe o machado...
Nada contra. Era o mundo. Era direito de todos. Não chegou a desfazer as malas. Afinal, trocar o sessenta e seis por seis era ficar no prejuízo. Voltou para sua grande cidade.
Para terminar, uma história do livro “Evangelizando através de histórias”, do Padre Odair Ângelo Agostin. São 97 histórias, imitando parábolas. Reproduzo a história da cobra e o passarinho:
“Num galho de árvore, o passarinho chocava tranquilo sua ninhada, quando se perturbou pela presença de uma cobra que ameaçava a atacar o ninho. O que o minúsculo passarinho podia fazer? O jeito era pedir socorro. Passou um macaco e se ofereceu para atirar uma pedra na cobra. Respondeu o passarinho: - Assim não, as pedras poderiam atingir também os ovos.
Passou um elefante e se ofereceu para arrancar a árvore com sua poderosa tromba: -Também não! Decidiu o passarinho - com esta violência toda, você poderá abalar o meu ninho e derrubar os ovos.
Os grandes da floresta não tinham condição de socorrer o passarinho. Ele recorreu então aos pequeninos. Chamou as formigas que passavam ali perto: - Irmãzinhas, me ajudem. - Vieram centenas, milhares. Subiram na árvore, atacaram a serpente por todos os lados.
Um lavrador que ia passando com sua enxadinha no ombro viu aquilo e comentou: -Quem socorre o pobre é sempre o pobre.”
Depois dessa narrativa, o padre Odair comenta em sua homilia: “Essa é uma grande lição para nossa vida. Às vezes, achamos que quem nos socorre são os grandes, que somente deles vem a solução. Esperamos que os grandes resolvam os problemas do país. Mas a verdade é que a solução vem dos pequenos, que nem sempre valorizamos. Para manter um casamento em pé, uma família em pé, são importantes os pequenos gestos e as pequenas coisas. No dia em que nós, os pequenos, acreditarmos em nossa força, nos tornaremos grandes. Mas é preciso que um esteja sempre unido ao outro. O macaco atira a pedra, o elefante arranca a árvore, mas são as formigas que dão a solução certa para os problemas do pequeno passarinho. Se os milhares e milhares de pobres deste país se unissem, mudariam a situação da sociedade. A solução está sempre nos pequenos. Pensemos nisso e acreditemos em nós”.
Concordo com o padre. É o que penso. E você?