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Luan Santana e a música clássica

22 de Julho de 2014, por André Eustáquio

Os comentários sobre a apresentação do cantor Luan Santana movimentaram os bastidores e o público da 35ª Exposição Agropecuária de Resende Costa, que aconteceu entre os dias 17 e 20 de julho último. Ouviu-se de tudo, desde críticas e elogios, até decepção e frustração. O cantor de música pop e sertaneja, natural de Campo Grande (MS), foi apresentado como a grande sensação do evento e desde a confirmação da sua presença na festa, o frisson do seu imenso fã clube já se fazia sentir. A expectativa para o show era muito grande. Luan é um dos artistas brasileiros com maior presença na mídia e, aos 23 anos, já traz em sua bagagem dois discos de platina.

Nas redes sociais o que mais se viu foram postagens dos fãs querendo saber sobre o preço do ingresso; nas rádios da região, sorteios de ingresso para uma breve passagem pelo camarim do cantor. Míseros segundos ao lado de Luan já era a glória para quem esperou por essa oportunidade única de estar perto do ídolo. Horas antes do início do show, marcado para começar à meia-noite, o entorno do palco do Parque do Campo já estava repleto de fãs que aguardavam Luan com faixas e cartazes suplicando por uma foto.

À meia-noite em ponto o clímax aconteceu. Luan Santana subiu ao palco de Resende Costa em meio a luzes, fumaça e grande produção, para delírio do seu fã clube. E o que se viu a partir daí?

Aí começa este artigo, que tem um tom pessoal. Não sou fã de Luan Santana, muito menos da música que ele apresenta. Mas nem por isso deixei de prestigiar a noite de festa em Resende Costa. Pensei: Afinal o que Luan Santana tem que agita tanta gente, mobiliza centenas de pessoas de várias cidades da região e até de outros estados a vir a Resende Costa numa noite fria de inverno? Esta curiosidade me fez olhar para o palco e observar.

Sou um apaixonado pela música. Meu gosto número 1 é pela música erudita: sinfonias, sonatas, concerto, óperas etc. Mas não me privo de ouvir outros estilos e me deleitar com eles. Inclusive a música sertaneja. Passei boa parte da infância ouvindo um LP do Trio Parada Dura e o saudoso Barrerito, o cantor das Andorinhas. Guardo até hoje este LP. Uma raridade. Por volta dos 16 anos de idade, me apaixonei perdidamente pela música erudita - Beethoven, Mozart, Bach, Brahms, Puccini, entre tantos outros -, a qual preenche grande parte do tempo que dedico à fruição da arte.

Por coincidência, na semana do show do Luan Santana, assisti pelo canal Arte 1 a um concerto gravado no início da década de 1980. O lendário maestro austríaco Herbert Von Karajan regendo a belíssima 9ª Sinfonia de Antonin Dvorák, conhecida também por “Do Novo Mundo”. Uma hora de puro êxtase diante da renomada Filarmônica de Viena. Karajan regeu o segundo movimento (Largo) com os olhos fechados. Ali se via e ao mesmo tempo ouvia-se a música em sua sublime e majestosa manifestação. A música enquanto arte suprema se deixava ver em sua forma perfeita, pura e bela. Karajan e a Filarmônica de Viena, com sua austera solenidade, apresentaram a música em sua essência. Agito, pulos e efeitos especiais no palco da sede da Filarmônica? Nada disso. Apenas o bailado sincrônico dos músicos embalados pelos contrapontos, solos e temas da sinfonia.

Inevitavelmente caí na terrível e promíscua tentação de comparar o incomparável. De um lado estava a música em sua linguagem pura, austera e sem adereços. Do outro, Luan Santana tentando agitar seus fãs através de roupas apertadas, palco grandioso, fumaça, luzes, espelhos, cabelo espetado etc.

O que há em comum? A necessidade vital que cada um de nós tem de se deixar arrebatar pela música. Necessitamos de música, dos ídolos, dos palcos, das orquestras, do som, da dança, sem julgamentos e preconceitos difamatórios. A cultura estética contemporânea faz com que Luan Santana consiga emocionar milhões de fãs com seu jeito, talento e estilo. Já a sua música, bom, é difícil para um fã de Beethoven classificá-la.

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