Era um menino de oito anos. Se chamava João, calçava botas de canos longos... Vi seu rosto, mas não o conheci.
João se aproximou de mim espavorido, agressivo. Éramos muitos, mas no fim apenas João e eu. Em poucas palavras, João esbravejou contra sua mãe. Foi tudo que ouvi de uma voz fria e sem timbre.
Perguntei a João:
- Por que quer me agredir?
- (silêncio cabisbaixo).
João estava bêbado e segurava em suas mãos um boletim escolar rabiscado de vergonhosas notas vermelhas.
O menino bêbado de oito anos, de aparência frágil e indefesa e que não gostava da mãe, não me agrediu. Apenas me ouviu (cabisbaixo). Olhei em seus olhos e novamente perguntei:
- Por que quer me agredir?
Ele mais uma vez me mostrou o boletim vermelho com letras de criança.
Eu quis ajudar João, quando acordei e vi que era um sonho... Apenas um confuso e quase indecifrável sonho.
Mesmo assim, ainda no silêncio da madrugada e com o sono perdido, refleti: o rosto do João que eu nunca vi era o rosto de muitos meninos e meninas que já na adolescência perderam a batalha para o vício. Não reconhecem seus pais, ignoram a escola; suas casas é a rua; seus amigos o álcool, a cocaína, o crack...
Quantas mães de João devem sonhar neste fim de ano o mesmo sonho que sonhei, mas quando despertam se deparam com o mundo real - cruel e impiedoso das drogas, do crime e da violência - que extirpou prematuramente a vida e os sonhos dos seus filhos.
Que 2016 seja para todos nós um ano de bons sonhos. Que a coragem vença o medo, a esperança impulsione a vida e a paz reine no coração das famílias.