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Sonho numa noite de fim de ano

31 de Dezembro de 2015, por André Eustáquio

Era um menino de oito anos. Se chamava João, calçava botas de canos longos... Vi seu rosto, mas não o conheci.

João se aproximou de mim espavorido, agressivo. Éramos muitos, mas no fim apenas João e eu. Em poucas palavras, João esbravejou contra sua mãe. Foi tudo que ouvi de uma voz fria e sem timbre.

Perguntei a João:

- Por que quer me agredir?

- (silêncio cabisbaixo).

João estava bêbado e segurava em suas mãos um boletim escolar rabiscado de vergonhosas notas vermelhas.

O menino bêbado de oito anos, de aparência frágil e indefesa e que não gostava da mãe, não me agrediu. Apenas me ouviu (cabisbaixo). Olhei em seus olhos e novamente perguntei:

- Por que quer me agredir?

Ele mais uma vez me mostrou o boletim vermelho com letras de criança.

Eu quis ajudar João, quando acordei e vi que era um sonho... Apenas um confuso e quase indecifrável sonho.

Mesmo assim, ainda no silêncio da madrugada e com o sono perdido, refleti: o rosto do João que eu nunca vi era o rosto de muitos meninos e meninas que já na adolescência perderam a batalha para o vício. Não reconhecem seus pais, ignoram a escola; suas casas é a rua; seus amigos o álcool, a cocaína, o crack...

Quantas mães de João devem sonhar neste fim de ano o mesmo sonho que sonhei, mas quando despertam se deparam com o mundo real - cruel e impiedoso das drogas, do crime e da violência - que extirpou prematuramente a vida e os sonhos dos seus filhos.

Que 2016 seja para todos nós um ano de bons sonhos. Que a coragem vença o medo, a esperança impulsione a vida e a paz reine no coração das famílias.

 

 

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