O quinto Beatle
12 de Maio de 2016, por Renato Ruas Pinto 0
As crônicas sobre os Beatles sempre lembram as histórias daqueles que foram Beatles, mas que não fizeram parte da glória do grupo. Como Stuart “Stu” Sutcliffe, o baixista sem talento que logo abandonou o grupo quando ainda estavam em Hamburgo, Alemanha, antes da fama. Ou Pete Best, o baterista que acompanhou John, Paul e George na busca do primeiro contrato. Quando a Parlophone, subsidiária da EMI, se interessou pelo grupo, logo notaram que o baterista não era do mesmo nível dos demais e exigiu sua substituição por um melhor, impasse que os Beatles resolveram com a dispensa de Pete Best e o convite para Ringo Starr se juntar ao time.
A história do produtor dos Beatles, George Martin, que se encantou no último mês de março, é exatamente o oposto. Ele não era um Beatle, mas fez parte de toda história e glória do grupo. Tamanha foi sua contribuição para o som da banda que sempre foi lembrado como o quinto Beatle. George Martin se interessou por música ainda criança e na juventude estudou piano e oboé. Após se formar começou a trabalhar na Parlophone, braço da EMI. O selo andava desprestigiado quando Martin ajudou a reerguê-lo e assumiu sua direção. Martin buscava diversificar o catálogo e entrar na onda do rock, quando resolveu dar uma chance aos Beatles, que haviam sido recusados pela gravadora Decca. No primeiro instante Martin não se impressionou com os Beatles, musicalmente falando. Achou-os bons, mas se encantou principalmente com o carisma, humor apurado e energia do grupo. A primeira chance no mercado veio com o compacto “Love me Do”, que chegou ao 17º lugar nas paradas britânicas. Nada mau, mas ainda longe de ser um grande sucesso.
Martin garimpou músicas com chances de sucesso e ofereceu para os Beatles “How do you do it”. Eles gravaram, mas insistiram que queriam lançar uma música de autoria própria e mostraram ao produtor “Please please me”. Ao fim da gravação Martin profetizou: “vocês acabaram de gravar o seu primeiro ‘número um’ nas paradas”. E Martin provou-se duplamente certo. “Please please me” chegou ao primeiro lugar, assim como “How do you do it”, essa, porém, interpretada pelo grupo Gerry and The Pacemakers, que tinha o mesmo empresário dos Beatles, Brian Epstein. Começou aí um relacionamento com os quatro rapazes que duraria por toda a vida de Martin. Como Lennon disse em uma entrevista, foi também um aprendizado mútuo por conta da inexperiência dos Beatles com estúdios e de Martin com o rock’n’roll em si. À medida que os Beatles evoluem na qualidade de suas composições, George se mostra fundamental em ajudar a materializar no estúdio as ideias do quarteto e a história que melhor ilustra suas contribuições é a do clássico “Yesterday”.
Após Paul apresentar a música, Martin logo propôs gravá-la somente com o violão e um quarteto de cordas. Paul se opôs, dizendo que eles eram uma banda de rock e que não ficaria bom, mas deu um voto de confiança para Martin tentar. Como um professor, Martin mostrou a Paul como fazer um arranjo a partir dos acordes da música e esse se empolgou com o resultado final, gravando uma música que entraria para história e que seria depois imitada por vários outros grupos. Daí em diante o trabalho dos Beatles se sofistica cada vez mais até chegar no álbum lendário “Sergeant Pepper’s”, onde Martin foi mais uma vez posto à prova e contribuiu com arranjos primorosos e experimentais.
Por tudo isso, George Martin foi uma peça essencial da revolução musical liderada pelos Beatles, assinando, inclusive, toda a trilha instrumental do desenho “Yellow Submarine”. E continuou contribuindo com o legado do quarteto, em pleno século XXI, ao assinar a trilha sonora para o espetáculo “Love”, do Cirque du Soleil, um fantástico remix de clássicos dos Beatles que embala o show. Após seu “encantamento” em março, Paul McCartney escreveu com propriedade: “se alguém mereceu o título de quinto Beatle, esse foi George Martin.” Vá em paz, George. E se prepare para trabalhar, pois John Lennon e George Harrison devem ter muitas composições prontas esperando por um bom produtor.
Mais um bom lançamento: AR
14 de Abril de 2016, por Renato Ruas Pinto 0
Comentei recentemente que a virada do ano trouxe bons lançamentos. No fim de 2015 a dupla Almir Sater e Renato Teixeira colocou nas prateleiras o ótimo “AR”, selando em um álbum uma parceria de muitos anos. A dupla pode ser considerada uma das últimas linhas de defesa da chamada música caipira e que resistiu às diversas transformações (ou deformações?) pelas quais o estilo passou desde os anos 90. Em comum os dois artistas carregam uma característica importante: foram responsáveis, em momentos diferentes, por lembrar ao Brasil que existe uma música bonita e profunda que vem do interior e canta as belezas da terra, a luta diária do sertanejo e a integração desse com a natureza.
Renato Teixeira foi revelado nos anos 70, com o apoio de Elis Regina e sua antológica interpretação de “Romaria”, integrando a temática caipira à chamada MPB. Almir Sater, por sua vez, apareceu em festivais nos anos 80, mas teve sua música levada ao grande público através das suas atuações em novelas. Violeiro virtuoso, levou seu instrumento para a telinha e é creditado como um dos responsáveis pelo renascimento da viola caipira, ao despertar o interesse em vários jovens, que foram atrás de professores para aprender, como relata o violeiro Ivan Vilela no ótimo livro “Cantando a Própria História: Música Caipira e Enraizamento”.
A dupla se conhece de longa data e a parceria já rendeu clássicos como “Tocando em frente”. Porém, ainda não haviam lançado um disco juntos. E “AR” foi gestado lentamente, com composições acumuladas ao longo de 6 anos, até que resolveram dar forma final ao trabalho. Curiosamente, quem “costurou” o disco foi o respeitado produtor norte-americano Eric Silver, como os artistas revelaram em entrevista ao crítico Júlio Maria, do Estadão. Eric Silver é um nome reconhecido no meio Country nos Estados Unidos e por conta disso trouxe para esse trabalho uma sonoridade interessante, fazendo uma bem-vinda fusão daquele estilo com o som de Almir e Renato. E falando em fusão, talvez seja essa a palavra que melhor define o clima de “AR”. Renato e Almir fizeram um disco que passeia pelo caipira, pelo folk e vai até outras bandas mais distantes.
As temáticas da roça estão presentes em músicas como “Espelho d’água”, “Peixe frito” e “Noite dos sinos”. Esta última, aliás, ilustra bem o que eu falo de fusão. É uma música cujo tema é a Folia de Reis, uma das grandes manifestações caipiras, mas cuja sonoridade poderia ter saído muito bem de um disco de Crosby, Still, Nash & Young. A faixa “Bicho feio”, por sua vez, fala de lendas do nosso folclore, como o Saci e o Curupira, sobre uma base que remete à música celta, também conhecida por falar de criaturas fantásticas. Ainda sobre estilos, a faixa que abre o disco, “D de destino” tem um pé no folk – cujo nome diz respeito às suas origens folclóricas – e que faz lembrar o som que no Brasil ficou conhecido nos anos 70 como “rock rural”, que teve como expoente o trio Sá, Rodrix & Guarabira.
Falando de letras, essas merecem elogios à parte. A tônica do disco são canções bem intimistas e confessionais. Daquelas que dão a sensação de que os artistas estão abrindo o coração, como nas faixas “A primeira vez”, “A flor que a gente assopra” ou “Amor leva eu”. Seria uma influência de Renato Teixeira nas letras? Talvez, se lembrarmos outras do artista, como “Amora” ou seu clássico “Romaria”. De fato, é um disco que valoriza a canção e suas belas letras, de modo que Almir Sater, um violeiro genial, botou sua viola a serviço das bases e abriu mão de desfilar suas habilidades em solos.
“AR” pode até não ser considerado um disco inovador, mas a criatividade dos artistas andou em alta. Seja na mistura de estilos, seja na qualidade das letras, Renato e Almir fizeram um registro de primeiríssima. O toque do produtor Eric Silver trouxe um tempero extra que fez diferença no resultado, mostrando que em música sempre é saudável abandonar purismos e buscar influências em outras águas. Audição mais do que recomendada, para lembrar que a música brasileira ainda anda muito bem.
Leituras musicais: o rock brasileiro nos anos 80
17 de Marco de 2016, por Renato Ruas Pinto 0
De tudo que andei lendo sobre música e resenhando por aqui, andava sentindo falta de algum livro que tratasse mais a fundo de um período interessante de nossa música, a dos anos 80. Foi quando o rock nacional desabrochou e revelou tantos nomes, uns notáveis e outros que não conseguiram romper a barreira de um disco ou uma canção. “Noites Tropicais” de Nelson Motta, já discutido aqui, trata do tema, porém, de forma superficial e restrito à cena carioca. Eis que topei com o livro “Dias de Luta – o rock e o Brasil dos anos 80”, de Ricardo Alexandre, crítico de música e escritor, que lançou o livro em 2002 e traz agora uma edição revista.
É uma leitura interessante, principalmente por conta da excelente pesquisa do autor. Pesquisa calçada não só em farto material escrito, mas também em entrevistas com artistas do período, acrescentando um ótimo sabor de histórias que só estando naquela época para saber. Mais que só um registro da cronologia dos eventos, o autor faz análises relevantes sobre aqueles tempos. Entender o que foi o movimento, seu alcance e sua decadência frente aos lambadeiros e “neossertanejos” não é tarefa simples – para não dizer impossível – visto a complexidade da cena e suas partes: artistas, público, indústria fonográfica, meios de divulgação e crítica especializada. E o livro é extremamente feliz ao retratar a dinâmica desses que considero como os pilares de um movimento pop dessa dimensão.
O livro começa com os primórdios e mostra a transição de uma fase inocente e juvenil da Jovem Guarda, passando pelos tempos psicodélicos de “Os Mutantes” e chega a meados dos anos 70, quando o rock começa a ganhar contornos mais pop graças a artistas como Rita Lee e Raul Seixas. A partir daí, começa a mostrar a ruptura que marcou a época, primeiro sob influência do Punk Rock, estilo que influenciou desde os jovens de classe média de Brasília como Renato Russo, aos jovens inconformados da periferia paulistana e ABC. E depois, já sob a bandeira do que ficou conhecido como Pós-punk ou New Wave, quando se traz para o rock, estilo até então com uma sonoridade muito bem definida, quase ortodoxa, ares da música eletrônica e de sons mais diversos como o reggae e ska.
A explosão da geração dos anos 80 é um movimento interessante de subversão da ordem da todo-poderosa indústria fonográfica. Essa última, com seus esquemas de jabá e divulgação massiva, estava acostumada a ditar o que a juventude iria escutar no rádio. E aí aconteceu o contrário. Bandas que começaram a se destacar em pequenas casas de show ou em espaços como o Circo Voador, no Rio, aumentam o público graças a demo tapes gravadas precariamente que correm de mão em mão e chegam a rádios alternativas como a carioca fluminense ou as paulistanas 97 Rock e 89 FM. A partir dessa aprovação do público jovem, as gravadoras se mexem e começam quase a recrutar qualquer um que tivesse uma banda. Daí a profusão de nomes lançados na época, mas que, como seria de se esperar, o filtro do tempo se encarregaria de separar o joio do trigo.
O livro então mostra o rock brasileiro se tornando adulto e virando um grande negócio. Do choque cultural causado pelo Rock in Rio de 1985, que apresenta aos artistas brasileiros o que é um show de grande porte e a estrutura com a qual contavam estrelas como Iron Maiden, a turnê meticulosamente produzida de Rádio Pirata, do RPM, cujo disco ao vivo vendeu mais de três milhões de cópias, recorde absoluto até então. Nesse ponto o movimento entra em decadência, perde público e espaço nas rádios e a análise do autor dos fatores que levaram à essa queda, desde a falta de identificação do público com os novos trabalhos até a crise econômica no fim dos anos 80, provê elementos para se entender o contexto.
Sem dúvida, um período interessantíssimo da nossa música e que produziu muita coisa boa, músicas e artistas que ainda mexem com muita gente. E Ricardo Alexandre foi extremamente feliz em não só retratar, mas também em analisar o movimento. Leitura mais do que recomendada para se entender aqueles tempos e a intrincada dinâmica da indústria musical.
De rock também vive a viola
16 de Fevereiro de 2016, por Renato Ruas Pinto 0
O ano de 2016 começou animado com o lançamento de discos. No último dia 17 de janeiro a dupla de violeiros Ricardo Vignini e Zé Helder lançou o álbum Moda de Rock II, de viola instrumental. Viola no rock? Isso mesmo. E a mistura dá liga e é saborosa. O Moda de Rock é um trabalho que estreou em 2011, quando os violeiros resolveram trazer para a linguagem da viola caipira uma paixão comum, o rock. No primeiro disco a dupla apresentou clássicos como “Kashmir” (Led Zeppelin), “Kaiowas” (Sepultura) e “In the Flash” (Pink Floyd). Mais do que simplesmente versões executadas na viola, eles primam por incorporar aos arranjos os ritmos tradicionais de viola como o cururu, cateretê e o pagode de viola, promovendo uma verdadeira fusão dos estilos. A combinação deu certo e agradou, fato que rendeu à dupla diversas aparições em programas de TV, além de centenas de shows que contaram até com participações de guitarristas consagrados como Pepeu Gomes, Kiko Loureiro e Andreas Kisser.
E agora, cinco anos após o sucesso do primeiro disco, eles surpreendem com outro álbum excelente no qual retomam a fórmula viola-rock, mas sem se repetir ou parecer mais do mesmo. Falando primeiro do lançamento, assisti ao show no Teatro Paulo Autran em São Paulo e já fiquei feliz por ver casa cheia e saber que ainda tem muita gente que sai de casa para assistir a um show de música instrumental. E de viola caipira, em plena metrópole de concreto de São Paulo. A dupla desfilou virtuosismo e entrosamento em um show de primeira, com direito à participação especial do lendário Robertinho do Recife. Sobre o disco, o mais importante de que se pode dizer é que talvez tenha sido até mais corajoso do que o primeiro, já que a dupla colocou um pouco mais de peso no repertório com a escolha de vários clássicos do Heavy Metal.
Quando se pensa em viola caipira, em um primeiro instante vem à lembrança seu caráter melódico, solos sentidos e cheios de emoção, fato que casa muito bem com baladas de rock, que a dupla soube explorar em versões de “Laguna Sunrise” (Black Sabbath), “I Want To Break Free” (Queen) e “Why Worry” (Dire Straits). Essa última virou uma toada na viola, e a conexão dos estilos ficou clara no show, com um belo incidental instrumental de “Chico Mineiro”. A viola, porém, tem também um outro lado de instrumento de acompanhamento rítmico e sua tradição carrega ritmos vigorosos como o pagode de viola, o chamamé e o recortado, que incorporam elementos de efeito percussivo como o rasqueado, de origem ibérica, e o abafamento das cordas com a própria mão do ritmo. Ritmos complexos, mas que os violeiros Vignini e Zé Helder executam com perfeição e conferem peso ao juntar a viola com o Heavy Metal de “Refuse/Resist” (Sepultura), “Raining Blood” (Slayer), “Thunderstruck” (AC/DC) ou “Wasted Years” (Iron Maiden). Além disso, a dupla ousa em arranjos complexos e ricos como “Diary Of a Madman” de Ozzy Osbourne.
A beleza e originalidade das versões, porém, não poupam os artistas de críticas e, volta e meia, eles são atacados por fãs mais radicais de um estilo ou outro. Os caipiras, que não aceitam a viola se prestando para música de gringo, ou roqueiros que não admitem outro instrumento que não guitarras distorcidas. Felizmente, estes “fundamentalistas” são exceção, como eu mesmo pude testemunhar em outro show da dupla, que reuniu na mesma plateia a turma do chapelão, no melhor estilo Tião Carreiro, e os metaleiros com suas tradicionais camisas pretas. Afinal, que instrumento melhor do que a viola para fazer uma ponte entre extremos aparentemente irreconciliáveis? A viola tradicionalmente sempre conviveu entre opostos, como o religioso e o profano, ou Deus e o Sem Nome. O mesmo violeiro que louvava os santos em festas religiosas era quem agitava os bailes e recorria a pactos com o Coisa Ruim para apurar sua técnica. E assim Ricardo Vignini e Zé Helder mantêm a tradição fazendo uma ponte bonita e original da nossa viola com rock. Para se conferir e não se arrepender.
Gravadoras lendárias
13 de Janeiro de 2016, por Renato Ruas Pinto 0
Os mais jovens não vão se lembrar, mas houve um tempo em que se comprava música em discos ou fitas. Ou se aguardava ansiosamente para ouvir a música favorita no rádio. Naqueles tempos, quando copiar uma música era um processo demorado e não muito barato (fitas boas não eram tão acessíveis, além de comportar no máximo 90 minutos), quem ditava o rumo da indústria musical eram as gravadoras e selos com seus esquemas de distribuição e divulgação (inclui-se aí o nefasto “jabaculê”, que envolvia pagamentos e presentes aos canais de rádio e TV para favorecer algumas músicas).
Se desde um bom tempo o que guia o trabalho dos artistas das grandes gravadoras é o retorno financeiro, houve uma época na quala qualidade artística era o critério principal para se decidir o lançamento de um álbum ou compacto. Algumas gravadoras se tornaram lendárias por serem dirigidas por quem entendia de música e, sem deixar o lucro de lado, tinha a sensibilidade para saber o que era música boa. Tempos em que diretores e produtores percorriam casas de show atrás de novos talentos e do próximo sucesso. Invariavelmente, essas gravadoras colocavam à disposição dos seus artistas produtores brilhantes, músicos de estúdio competentes e compositores consagrados. Entre essas, podemos citar as estrangeiras Atlantic Records, Chess Records e a Tamla Motown. No Brasil tivemos a EMI-Odeon, a Philips/Phonogram e a Elenco.
A Atlantic foi fundada pelos irmãos turcos radicados nos EUA Ahmet e Nesuhi Ertegun. Nos anos 50 se notabilizou pelos trabalhos de jazz, Rhythm & Blues e soul. Nesse período, teve no seu time artistas como Aretha Franklin, Ray Charles e Otis Redding. No final dos anos 60 abraçou o rock e foi a gravadora que lançou o Led Zeppelin, o trio Crosby, Stills & Nash (e depois quarteto, com Neil Young) e ainda contou com artistas como o The Cream (cujo álbum histórico “Disraeli Gears” foi gravado nos estúdios da Atlantic em Nova Iorque) e o Yes. A Atlantic trabalhou com produtores do calibre de Phil Spector, Tom Dowd e a dupla Jerry Lieber e Mike Stoller, os autores de clássicos como “Hound Dog”, “Stand by Me” e “Jailhouse Rock”.
A Chess foi fundada pelos irmãos Phil e Leonard Chess em Chicago e é creditada pelo resgate do blues americano nos anos 50, além de abrir as portas para artistas negros nos primórdios do rock, como Chuck Berry. Nos anos 50 e 60, com o panorama da música pop em mudança, a Chess promoveu nomes do tradicional blues como Howlin’ Wolf, Muddy Waters e Willie Dixon. A influência desses artistas chegaria ao outro lado do Atlântico, causando uma revolução no rock inglês com a “eletrificação” do blues promovida por Eric Clapton, os Rolling Stones e outros. Os Stones inclusive pagariam um tributo aos mestres gravando um disco no estúdio mais famoso da Chess, localizado no número 2120 da South Michigan Avenue. Do time de músicos de estúdio da Chess ainda saiu o núcleo do renomado Earth, Wind & Fire.
Um traço comum a esses selos era o fato de que os seus donos se envolviam profundamente na seleção de artistas e produção dos trabalhos. Porém, à medida em que a música pop se tornava um negócio milionário, esse panorama foi se alterando. Os custos crescentes para divulgação, distribuição de discos e assinaturas de contratos naturalmente empurraram esses selos para os braços de corporações maiores como a Warner, que comprou a Atlantic. Gradualmente a liberdade artística foi substituída pela busca de fórmulas mágicas que garantissem o sucesso instantâneo de músicas e novos artistas. E produtores e diretores que conheciam música foram trocados por executivos engravatados preocupados só com os números financeiros. Tempos tristes para a música.
Aqui no Brasil também passamos por transformações parecidas: de tempos nos quais álbuns sem compromisso comercial algum, como o “Clube da Esquina”, ainda eram lançados para dias de música quase padronizada. Mas essa história fica para outra oportunidade, assim como a de outra gravadora lendária que virou praticamente adjetivo do som que produzia, a Motown. Que 2016 seja um bom ano para todos e para a música.