Trilha sonora

Destinos musicais: Liverpool

17 de Dezembro de 2015, por Renato Ruas Pinto 0

Há um tempo atrás, escrevi sobre cidades que têm por atração turística a música. Na ocasião falei de Conservatória, a cidade da seresta que fica na Mantiqueira fluminense onde já fui duas vezes. Recentemente pude realizar um grande sonho e visitar outra cidade fortemente ligada à música: Liverpool. Quem me conhece ou já leu meus textos por aqui sabe o que os Beatles representam para mim. Muito mais do que admirador, sou um beatlemaníaco, como se diz por aí. Conheci os Beatles ainda bem novo com uma fita cassete gravada por minha tia Rejane, a quem até hoje chamo de “culpada” por essa paixão. Foi amor à primeira audição. Aquele som mexeu comigo de tal maneira que entrei em um caminho sem volta.

Da fita, que se enroscou no toca-fitas de tanto uso, fui atrás dos discos e não parei até ter a discografia completa do grupo. Esse fascínio que os Beatles causam é difícil de explicar, mas, como vou direi mais à frente, é algo que atravessou gerações e ainda continua forte. Liverpool é uma cidade portuária e sempre teve importância histórica e econômica para a Inglaterra. Hoje em dia, entretanto, a história milenar da Inglaterra fica ofuscada pelos últimos sessenta anos, quando aqueles rapazes se conheceram e começaram a tocar ainda adolescentes e ganharam o mundo. Sonho de todo fã, a cidade respira Beatles e estima-se que o turismo ligado ao quarteto injeta anualmente na economia local um bilhão e meio de dólares.

Mais do que ser somente a cidade natal dos “quatro fabulosos”, Liverpool tem uma relação muito estreita com a sua música. Assim, todo beatlemaníaco quer conhecer Penny Lane e tentar entender como um tema aparentemente corriqueiro, um dia típico de uma rua com seu barbeiro, transeuntes e o bombeiro que limpa seu caminhão, rendeu uma canção tão especial. Ou imaginar o que significavam as memórias daquele muro e o portão vermelho de Strawberry Fields, um orfanato próximo à casa de John Lennon. E na verdade não há o que se entender. São a vida e as memórias que acompanharam os artistas. Uma vez em Liverpool pode-se conhecer as atrações por conta própria, de ônibus ou carro, ou se encaixar em alguns dos passeios de algumas horas que visitam esses e outros lugares, como as casas onde os Beatles nasceram ou viveram e suas escolas. O ponto alto da “peregrinação”, na minha opinião, é o lendário Cavern Club, o clube associado ao começo da carreira, quando eles começaram a ficar famosos.

No Cavern Club os Beatles tocaram por noites a fio, às vezes em mais de uma apresentação por dia (foram 292 performances entre 1961 e 1963), inclusive quando suas primeiras músicas já estavam estouradas no rádio e nas vendas. A casa se tornou um ícone e, a partir de então, atraiu shows de outros artistas que despontavam nos efervescentes anos 60. A casa, que lembra uma cave de vinhos e fica no subterrâneo a dois andares abaixo do nível da rua, foi desmanchada em 1973, por conta de uma obra pública do metrô da cidade. Anos mais tarde os planos mudaram e foi possível reconstruir o local, mantendo sua planta e reutilizando boa parte dos tijolos originais para a felicidade dos fãs. Hoje é um bar agitado, onde a música começa ainda de tarde e não fica sem uma banda tocando até altas horas da noite. A plateia é a prova do que eu disse antes: várias gerações reunidas, desde os que viveram os anos da beatlemania até adolescentes. Em um dos dias em que estive lá fiquei impressionado com a empolgação de um grupo de senhoras idosas que dançaram e cantaram ao som das músicas que provavelmente embalaram sua juventude. Em suma, é o lugar ideal para se celebrar tudo de belo que aqueles rapazes, que um dia chocaram o mundo com suas cabeleiras, produziram e nos deixaram de legado.

 

Não bastasse tudo isso, Liverpool é uma cidade interessante e com atrações não ligadas aos Beatles como museus, igrejas, uma bonita zona portuária revitalizada e o futebol do tradicional time que leva o nome da cidade. De quebra, nos finais de semana tem uma vida noturna agitadíssima e bons bares e restaurantes. Diversão garantida e, é claro, boa música. Boa não. A melhor. “Roll up for the mistery tour”.

O fazedor de rios

19 de Novembro de 2015, por Renato Ruas Pinto 0

Sempre digo nesta coluna que a música brasileira vai bem. Criativa, original e ainda emocionando. Porém, sempre alerto de que o caminho para encontrar essa boa música não são mais os tradicionais (rádio, TV ou prateleiras de disco nas grandes lojas de varejo). O caminho tradicional foi tomado, com raríssimas exceções, por títulos das grandes gravadoras, que investem pesadamente em marketing para oferecer ao grande público trabalhos de qualidade nem sempre garantida. O mundo digital abriu novas possibilidades não só para a gravação, mas também para o financiamento, divulgação e difusão. O disco, objeto dos comentários desta coluna, é o melhor retrato desse novo caminho trilhado pelo artista independente.

Em uma passagem recente por BH vi o anúncio do show de lançamento do álbum “O fazedor de rios”, do artista mineiro Luiz Gabriel Lopes. Bem recomendado pelo amigo e “informante musical” Luiz Henrique Garcia (dono do ótimo blog sobre música “Massa Crítica Música Popular” - confira em http://massacriticampb.blogspot.com.br/), fui eu para o show. Chegando lá, ao ver algumas figuras relevantes da cena musical atual de BH no público, logo pensei: “vai ser coisa boa”. E foi ótimo. Um show leve e de ótimo astral, excelente banda acompanhando um artista com muita presença de palco e artistas convidados que agregaram muito. Não conhecia o trabalho de LG Lopes, a não ser alguma coisa que já havia escutado do grupo do qual ele faz parte, o “Graveola e o Lixo Polifônico”, e fui surpreendido pelo trabalho de um artista completo. Afinal, não é sempre que se vê alguém que canta e toca bem e é um compositor de primeira, tanto em termos de letras, quanto música (ele assina, sozinho ou em parceria, todas as 12 faixas do álbum).

Saí do show com o CD na mão e pude ouvir com cuidado suas as músicas e o seu trabalho. A base instrumental do disco é razoavelmente enxuta. LG Lopes é acompanhado, na maioria das faixas, além do seu próprio violão, por alguns sopros, a base de um cavaco ou o charango (instrumento de cordas típico dos Andes) e uma competente e empolgante “cozinha” de contrabaixo, bateria e percussão. Base enxuta, porém, muito bem arranjada e que garante uma cama e tanto para LG Lopes desenvolver suas ótimas melodias e letras. Destaque para os ótimos trabalhos de sopro, bateria e percussão. O disco tem várias faixas vibrantes como “Maio de Isabel” (que conta com a participação de Chico César nos vocais), “Miúdo” ou “Resistir e Fraquejar”, prato feito para um bom arranjo de sopros ou uma percussão que faz vibrar o corpo e dá vontade de se mexer. O disco ainda tem algumas participações relevantes como os cantautores Gustavitto na ótima “O Homem que Engoliu a Própria Voz” e Laura Catarina, na sublime “Pro Sol Sair”. Em suma, é um disco excelente da primeira à última faixa. LG Lopes se mostra um compositor inspirado e original. Naturalmente, pode-se perceber influências no disco, mas tudo soa com uma marca pessoal muito forte, fator que diferencia grandes artistas da mídia.

 

E qual foi o caminho que LG Lopes seguiu até chegar a esse disco? Como disse, o caminho do artista independente hoje segue trilhas novas. Produção feita de forma colaborativa, contando com a ajuda de amigos desde a produção até o toque final. Além dos recursos de editais públicos, o artista usou também o financiamento coletivo (a tal da “vaquinha virtual” ou crowdfunding, mais um anglicismo que está pegando por aqui). E fez questão de agradecer no show nome a nome, quem contribuiu via internet. Ficou claro para mim que a turma trabalhando no evento (portaria, venda de CDs e afins) eram amigos. Assim como os músicos da banda, já que alguns tocam com LG Lopes em outros projetos. E eu ainda me lembro de ver nas vésperas do show um post do artista pedindo a ajuda de alguém para fotografar o evento. E assim se lança um artista independente nos dias de hoje: no peito e na raça. Só espero que LG Lopes siga firme no caminho e traga logo mais um belo trabalho. Quer conhecer o disco? Confere lá no site do artista o download gratuito: http://www.lglopes.com/. Satisfação garantida.

Pedras que (ainda) rolam

17 de Outubro de 2015, por Renato Ruas Pinto 0

Ao falar de música sempre há que se pagar um tributo aos clássicos. Ainda mais quando um clássico volta em edição especial, que traz um “gostinho” da reunião de dois ícones. Um dos ícones é um dos maiores guitarristas de rock e blues de todos os tempos: Eric Clapton. O segundo, e dono desse relançamento, são os Rolling Stones. Nos agitados anos 60 os Rolling Stones “rivalizavam” com os Beatles, como uma espécie de anti-Beatles. Enquanto esses, com seus terninhos bem cortados, ainda tinham uma aura de bons moços, os Rolling Stones eram o oposto. A imagem da rebeldia e a personificação do espírito do rock.

Essa rivalidade, porém, era mais imagem e rixa de fãs empedernidos e os membros das bandas eram próximos. Dizem as lendas que os Beatles teriam dado um empurrão para a assinatura do primeiro contrato dos Stones com a gravadora Decca. Em um dos maiores erros da história dos negócios, a Decca ficou famosa como a gravadora que recusou os Beatles por não acreditar no seu futuro. Um dos Beatles teria alertado a Decca para não deixar passar outra banda. Saindo do terreno das lendas para o dos fatos, o segundo compacto dos Stones seria lançado com a faixa “I wanna be your man” de autoria de....... John Lennon e Paul McCartney.

O disco do relançamento é “Sticky Fingers”, que acho um dos melhores dos Stones. Em 1968 a banda havia dispensando um de seus fundadores, o guitarrista Brian Jones, que sofria com problemas possivelmente ligados às drogas e ao álcool. Para seu lugar foi recrutado um jovem guitarrista que havia se destacado na banda de John Mayall, Mick Taylor. Antes de Mick Taylor entrar, haviam lançado o excelente disco “Beggar’s Banquet”, prenúncio da ótima fase que viria. Com a nova formação começavam os que foram, na minha opinião, os melhores anos dos Rolling Stones em termos de qualidade dos discos. Na sequência viriam “Let it bleed”, “Sticky fingers” e “Exile on Main Street”. Não por acaso “Exile…” recebeu recentemente uma reedição de luxo e agora chega a vez de “Sticky Fingers”.

Lançado em 1971, o disco veio com uma capa inovadora, de autoria do renomado artista Andy Warhol. A calça retratada na capa vinha com um zíper de verdade. Provocante e insinuante como só os Stones sabiam ser. O disco, porém, vai muito além da capa e traz uma sequência de faixas incríveis, com os Stones em sua melhor forma. As principais influências da banda estão lá: o blues tradicional de “You gotta move”, o country de “Dead flowers”, belas baladas como “Wild horses” e o mais puro rock’n’roll de “Brown sugar” ou “Can’t you hear me knocking”. O disco fez sucesso instantâneo e alcançou o primeiro lugar na Inglaterra e Estados Unidos rapidamente. Essa reedição trouxe um segundo disco com versões alternativas e algumas ao vivo. É curiosa a participação de Eric Clapton em “Dead flowers”, tocando um slide (quando se usa uma peça de metal ou vidro no dedo e a faz deslizar sobre as cordas ao invés de pressioná-la contra o braço da guitarra). Primeiro, porque Eric Clapton nunca foi propriamente um especialista desta técnica e segundo porque a faixa alimenta outra lenda da época, de que Clapton teria sido cogitado para o lugar de Brian Jones. Se é verdade ou não, é impossível não pensar como teria sido os Rolling Stones com Clapton na guitarra. Ainda há uma versão “Super Deluxe”, com um terceiro CD com faixas gravadas ao vivo em um show em 1971, logo antes do lançamento do disco. Não poderia faltar a versão em vinil, que voltou a moda com tudo. Essa versão, porém, veio sem o famoso zíper. Falta de criatividade? Ou seria porque nos dias de hoje ninguém mais se choca com o que aquele zíper sugere?

 

Voltando à inevitável comparação entre os Beatles e os Stones, eu diria que Mick Jagger e Keith Richards nunca fizeram um disco elaborado e da qualidade de “Abbey Road” ou o “Sergeant Pepper’s Lonely Hearts Club Band”. Porém, os rapazes de Liverpool não conseguiram fazer um álbum com tanta energia e que fosse uma injeção de rock na veia, tal como “Sticky Fingers”. Só mesmo os Stones para criar faixas tão vibrantes como “Bitch” ou “Brown sugar”. Na dúvida entre os Beatles e o Stones, não pense: vá com as duas bandas. E não deixem de ouvir “Sticky Fingers”.

Carbono

17 de Setembro de 2015, por Renato Ruas Pinto 0

Tenho sempre escrito aqui na Trilha Sonora sobre a boa qualidade de trabalhos recentes da música e não podia deixar de comentar um excelente lançamento deste ano, o álbum “Carbono” do cantautor Lenine. Para os padrões midiáticos dos dias de hoje, nos quais o sucesso de artistas é medido em milhões de views, curtidas ou seguidores em redes sociais, Lenine poderia até ser considerado um artista “alternativo” ou algum adjetivo parecido. Porém, quando se olha a extensão da sua obra, os artistas que já o gravaram e, principalmente, aqueles que se dizem influenciados por ele é que se tem a noção da sua grandeza e importância na nossa música. E ainda merece alguns pontos extra pela maneira independente como ele produz seu trabalho, sem amarras com fórmulas para sucesso automático ou modas passageiras. Em outras palavras, um artista autêntico.

Lenine saiu de sua cidade natal, Recife, com 20 anos e foi levar sua música para o Rio de Janeiro. Após participar de um festival na Rede Globo, lançou o seu primeiro disco, “Baque solto” em 1983, em uma parceria com Lula Queiroga. Lenine começa então a ser reconhecido como compositor e tem músicas gravadas por Elba Ramalho e trabalha também em trilhas sonoras. Somente em 1993 viria mais um álbum, desta vez em parceria com o respeitado percussionista Marcos Suzano. O primeiro disco solo, “O dia em que faremos contato” só viria em 1997, mas já chegaria com o devido reconhecimento através de dois prêmios Sharp. E depois viria uma sucessão de álbuns premiados e uma carreira que decolaria no Brasil e exterior, além do reconhecimento dos seus pares, com vários artistas consagrados como Milton Nascimento e Gilberto Gil gravando músicas suas.

Lenine agora traz “Carbono”, um disco excelente e de sonoridades surpreendentes. Em uma entrevista recente, Lenine se definiu como um roqueiro, fã de grupos como Led Zeppelin. Mas, ao mesmo tempo, ele se diz muito influenciado pelo Clube da Esquina. E talvez a palavra que melhor define seu trabalho seja justamente “fusão”. Logo na faixa de abertura, “Castanho”, Lenine já mostra que é difícil rotular o seu estilo: uma música de levada rock, mas com uma percussão que lembra as suas origens nordestinas Lenine e a base conduzida por uma viola caipira. Daí para frente, o disco alterna entre estilos, como o rock explícito de “O impossível vem pra ficar”, o maracatu de “À meia noite dos tambores silenciosos” ou o frevo de “Cupim de ferro” (que conta com a participação da Nação Zumbi).

E a partir daí vem uma sucessão de ótimas faixas que vão de baladas como “Simples assim” ou, fazendo jus ao autodeclarado título de roqueiro, “Quem leva a vida sou eu”, cuja letra é uma brincadeira com a música de Zeca Pagodinho. E falando em letras, mais uma nota dez para o disco, que capricha nas poesias. Suas músicas vão do intimista a canções com mensagens engajadas como “Quede água”, que trata de uma questão atual, o mau uso da água, sem resvalar para o óbvio ou lugar comum. Some-se todos estes elementos a uma produção de primeira linha e arranjos bem elaborados e não fica a dúvida da audição obrigatória. Em suma, um disco moderno e corajoso, que segue provando que ainda se produz material de primeira linha em terras brasileiras. Basta procurar nos lugares certos.

E falando em procurar, sabem o que é o melhor de tudo? O autor disponibilizou o

 

álbum para audição gratuita. Confiram lá na página da Trilha Sonora: https://www.facebook.com/TrilhaSonoraBR.

As competições musicais na TV

13 de Agosto de 2015, por Renato Ruas Pinto 0

Terminou recentemente na Rede Globo mais uma edição do programa “Superstar”, competição entre bandas e artistas disputando um lugar ao sol na indústria fonográfica e nos nossos HDs e memória dos celulares. Volta e meia em conversas com amigos a pergunta recorrente é: qual a contribuição para a música de programas como “The Voice”, “Ídolos” ou “Superstar”? É uma pergunta um tanto quanto difícil de responder, mas não vou me furtar de dar minha opinião, que é um misto de crítica com alguns elogios.

O formato de competição musical na TV é algo que faz parte da nossa história, desde os tempos dos mitológicos festivais dos anos 60. Naqueles tempos, a torcida por essa ou aquela música gerava debates apaixonados quase futebolísticos, opondo “A Banda” de Chico Buarque e “Disparada” de Geraldo Vandré e outras tantas finalistas de festivais inesquecíveis. Eram outros tempos, de uma ditadura opressora que tinha na música uma válvula de escape e canal de manifestação. Tempos de lutas políticas que levaram o público a proferir uma vaia monstruosa à belíssima “Sabiá” de Chico e Tom Jobim, que havia vencido a engajada “Pra não dizer que não falei das flores” de Vandré no Festival Internacional da Canção de 1968. Foram festivais que revelaram grandes artistas e músicas, porém os próprios músicos indicaram o desgaste do formato de competição e aos poucos se afastaram. Dizia-se que havia sido criada uma fórmula de “música de festival”, para fisgar o gosto do público e aumentar as chances de vitória, que estaria podando a criatividade e fechando portas para a novidade.

Minha primeira crítica vai por essa linha: para conquistar o público – que tem mais peso ou é quem decide sozinho nos programas de hoje – os artistas apelam para um repertório sem novidade, de músicas batidas ou que estão na moda. Ou abusam de interpretações vocais virtuosas e de certa forma exageradas, mas que na maioria das vezes soam como uma imitação de Celine Dion ou de Joe Cocker. Neste quesito, vai um ponto para o programa “Superstar”, no qual ainda aparecem artistas com peito de mostrar música autoral, já que nos programas de formato mais individual como “The Voice” ou “Ídolos” é muito raro isso acontecer.

Minha segunda crítica é de cunho técnico. Nos programas da Globo até hoje não é claro para mim duas coisas: o papel dos jurados-padrinhos e os critérios de seleção dos participantes. O que mais se vê dos jurados são comentários inócuos ou só elogios e que nada acrescentam, tanto para quem compete quanto para nós que assistimos. Talvez eles devessem aprender a ser um pouco mais “maus” como os jurados do Masterchef para o público entender melhor as dificuldades de ser cantor: desde a escolha do repertório até como fazer uma boa interpretação do ponto de vista de técnica de voz e presença de palco. Sobre a escolha dos participantes, gosto do esquema do “Ídolos” (ou “American Idol” na versão americana), o famoso “vai quem quer”. As seletivas em várias cidades são abertas para quem quiser tentar, o que me parece mais democrático e, estatisticamente falando, aumenta a chance de aparecer alguém que sabe cantar para valer. Nos programas da Globo, não fica claro o critério da seleção, o que abre espaço para diversos rumores sobre apadrinhamentos e indicações de gravadoras.

Tendo feito essas críticas, ainda assim vejo um ponto positivo. Ao menos um espaço razoavelmente nobre da TV está aberto para músicas de boa qualidade e revelando alguns artistas novos. E se pensarmos na penetração que a Globo tem nos lares pelo país afora, isso não é pouca coisa. Porém, não espero descobrir a próxima revelação da música brasileira em um show tão pasteurizado assim. Aliás, falando em pasteurização, nota zero para a Globo que não deixa as bandas tocarem ao vivo no “Superstar”, como ficou evidente nessa última edição.

 

(vejam aqui: https://www.youtube.com/watch?v=keAd0Vj5Q8c). Mesmo assim, não deixo de assistir alguns dias e ainda me divirto quando a música é boa.