Anamnese do tempo


Editorial

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Em cada findar de ano é comum que nos esforcemos para refletir sobre o que de bom fizemos, o que não conseguimos realizar, quais foram as frustrações que mais nos marcaram e quais vitórias alcançamos na vida pessoal e profissional. Tudo isso podemos resumir numa palavra: retrospectiva - uma anamnese do tempo que começamos a contar em janeiro e terminamos em dezembro.

Na retrospectiva que fazemos de 2024, podemos olhar para o tempo e, nesta viagem existencial, certamente encontraremos fatos sombrios digladiando-se com conquistas valiosas. É o tempo nos ensinando, num eterno movimento de construção e desconstrução, a olhar para a vida e aprender com cada acontecimento.

Ao longo da história, a filosofia refletiu sobre o tempo, desde a antiguidade grega até os dias atuais. Segundo Aristóteles, “o passado não existe, o futuro, da mesma forma, também não existe – ainda – e o presente se torna pretérito continuamente”. Para o filósofo grego, tempo é contínuo movimento de ser e deixar de ser. Se analisarmos, portanto, a nossa existência, veremos essa dinâmica presente nas perdas e nos ganhos que marcaram a nossa vida e a história que nos circunda.

É cada vez mais recorrente ouvirmos pessoas dizerem, “como este ano passou rápido”, ou “de repente é dezembro” e “ainda ontem celebrávamos o Natal”. A sensação de que o tempo está acelerado é perceptível, sem dúvidas. As múltiplas atribuições e atividades que realizamos, seja no trabalho ou na família, consomem nosso tempo diário e deixam-nos a impressão de que o relógio está com os ponteiros apressados. O consumo exacerbado do tempo com atividades laborais e na busca incessante pelo lucro impedi-nos de olhar para as coisas mais belas e simples da vida e nelas contemplar o tempo e sua essência.

Quem já parou um instante sequer em um campo e sentiu a brisa leve balançar a relva, tal qual o movimento contínuo de uma elegante dança? Quem já se pôs a observar um lento pôr do sol? O sol que, sem pressa, nasce e adormece, demonstrando, cotidianamente, que para a natureza não há pressa, mas vida; vida em eterno movimento de ser e deixar de ser.

Neste último editorial do ano, convido você, leitor, a fazer uma retrospectiva diferente. Ao invés de recordarmos fatos políticos, sociais e culturais que marcaram o ano que está terminando, façamos uma avaliação do tempo da nossa existência. Usamos bem o nosso tempo para a construção de boas relações? O tempo nos foi útil para evoluirmos em nossos projetos de trabalho? Aproveitamos o tempo para descansar e gozar de um bom ócio criativo?

Na sua reflexão sobre o tempo, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche nos ensina que é impossível viver sem esquecer. Sendo assim, o tempo constitui-se um exercício de saber esquecer. Esqueçamo-nos, pois, ao concluir este ano, de tudo de ruim que consumiu nosso tempo e vamos nos apegar às energias que colaboraram para o nosso amadurecimento pessoal, coletivo e existencial.

Em 2025, reflitamos mais, amemos mais. Preenchamos, enfim, o calendário da nossa vida com ações que nos tornem humanos, essencialmente humanos.

Em nome de toda equipe do JL, desejo a você, leitor, um tempo de Natal profícuo de amor, de paz e saúde. Que 2025 seja um ano de grandes e numerosas realizações.

Feliz Natal! Feliz Ano Novo!

 

André Eustáquio
Editor-chefe do Jornal das Lajes

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