O Brasil se despede do gênio da televisão: Silvio Santos (1930-2024)


Editorial

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Silvio Santos e seu icônico microfone sobre o nó da gravata (foto Veja - internet)

A televisão brasileira perdeu no sábado, 17 de agosto, um dos seus maiores ícones: Silvio Santos. O empresário, comunicador e apresentador faleceu em São Paulo aos 93 anos, vítima de uma broncopneumonia após infecção por influenza (H1N1). Nascido Senor Abravanel, de família judia, em 12 de dezembro de 1930, no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, Silvio Santos (nome artístico adotado por ele) construiu uma trajetória de vida e de trabalho que poucos “mortais” conseguem trilhar. De camelô na década de 40 nas ruas do Rio, vendendo canetas e capas para título de eleitor, a dono de um império das comunicações, o Patrão, como era conhecido no SBT, deixa, com sua morte, um vazio gigantesco na televisão brasileira. “A sua partida deixa um vazio na televisão dos brasileiros e marca o fim de uma era na comunicação do país”, manifestou-se em nota o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva.

Silvio Santos ficou no ar na televisão de 1960 a 2023. Seus famosos bordões (“Ma ôe!”, “Quem quer dinheiro?”, “É com você, Lombardi!”, “Minhas colegas de trabalho”, “É namoro ou amizade?”, “Vamos abrir as portas da esperança”), o carisma inigualável de um comunicador voraz, capaz de segurar no ar uma audiência de domingo que chegava a 10 horas com o “Programa Silvio Santos”, fizeram dele o maior apresentador da televisão brasileira de todos os tempos. “Assim como Pelé e Ayrton Senna, Silvio Santos deixou um legado e uma marca, o verdadeiro e único rei da TV”, disse o ex-colega de profissão Fausto Silva, o Faustão. A imprensa internacional também repercutiu a morte do apresentador: “Ícone da televisão brasileira”, se referiu o jornal português Diário de Notícias; “Uma lenda do entretenimento brasileiro”, declarou o periódico La Nación, da Argentina.

Os domingos com Silvio Santos eram únicos. O “Programa Silvio Santos”, na verdade um agrupamento de diversos programas gravados em auditório com a presença e a participação da plateia, preenchia toda a grade de programação dominical do SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), do qual Silvio era dono. “Topa Tudo por Dinheiro”, “Em Nome do Amor”, “Show de Calouros”, “Baú da Felicidade”, “Qual é a Música” e “Porta da Esperança” foram quadros do Programa Silvio Santos, o qual conquistou o telespectador e se manteve líder e soberano na audiência dominical na TV, especialmente nas décadas de 1980 e 1990.

Eram outros tempos da televisão. Tempos de célebres e talentosos comunicadores que usavam de linguagem simples e carismática para atrair os telespectadores. Silvio Santos, Gugu Liberato, Hebe Camargo, Chico Anísio, Chacrinha, Jô Soares são exemplos de apresentadores que fizeram da TV parte integrante da vida social e cultural do brasileiro. Silvio foi gênio dessa estirpe. A presença única no palco, o gigantismo de uma fala conquistadora, o sorriso marcante, elegância sedutora e inteligência sagaz fizeram dele um comunicador completo.

O estilo criado por Silvio Santos e aplicado em seus programas marcou a televisão e o gênero de programa de auditório que ainda hoje sobrevive na grade de programação das emissoras abertas no Brasil, como a Rede Globo com o Domingão com Huck e Caldeirão. Mas na atualidade a TV não goza mais do prestígio e da audiência dos tempos áureos de Silvio Santos e da hegemonia dos programas de auditório. O advento das plataformas de streaming e a nova linguagem da mídia de entretenimento revolucionaram rapidamente o modo de se fazer televisão e, com isso, lançam dúvidas hoje acerca do amanhã da televisão aberta, sobretudo da sua capacidade de se reinventar a fim de atingir a um público eclético e consumidor das novas tecnologias.

O futuro da televisão e da comunicação somente o tempo dirá. O que hoje temos a destacar e lamentar é a perda de um dos maiores gênios da televisão brasileira, sem dúvidas a maior lenda dos programas de auditório que a TV no Brasil já produziu. Silvio Santos transcendeu o seu tempo. Enquanto a idade biológica o permitiu, a sua genialidade e carisma único o mantiveram no palco encantando plateias de diferentes idades, gêneros e curtições.

Silvio foi um dos construtores da televisão brasileira e seu legado será decisivo para que a TV sobreviva num cenário incerto de novas tendências e programações que se arvoram com conteúdo no mínimo questionável quando o assunto é qualidade. Aliás, falando em qualidade na televisão, neste quesito o Patrão também foi mestre e gênio!

 

André Eustáquio

Editor-chefe do Jornal das Lajes

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