Chapecoense partiu rumo à eternidade


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Emanuelle Ribeiro0

O ano de 2016 não foi um bom ano para os brasileiros fãs de futebol. Mesmo se o seu time tenha ganhado o estadual, a Primeira Liga, a Copa do Brasil, o Campeonato Brasileiro – séries A, B, C e D, a Copa Sul-Americana. Especialmente esta última. Independente de qualquer conquista, ninguém teve motivos para celebrar. Você também não se importou muito com os insucessos - mesmo se o seu time tenha sido eliminado precocemente de alguma competição, não tenha se classificado para a Libertadores 2017 ou tenha caído para as divisões inferiores do Brasileirão. Nada disso fez diferença alguma para qualquer torcedor. Apesar de o futebol ser motivo de alegria para todos nós, a tristeza e a angústia sobressaíram-se este ano.

Que mês triste foi dezembro! Difícil de engolir para nós brasileiros. Especialmente para nós que trabalhamos com o Jornalismo, que amamos o futebol, que torcemos muito pela Chapecoense nessas últimas semanas. Queríamos todos ver a Chape jogar e ser campeã Sul-Americana! Mas, na madrugada do dia 29 de novembro de 2016 (horário de Brasília), o futebol saiu das quatro linhas. O avião da empresa boliviana LaMia, que levava a delegação da Chapecoense para Medellín, na Colômbia, nunca chegou ao seu destino final. Com 77 pessoas a bordo, a aeronave caiu provavelmente devido a uma pane seca - falta de combustível. Além de jogadores, comissão técnica e funcionários da Chapecoense, o voo levava jornalistas e tripulação. Apenas seis pessoas se salvaram.

A Chapecoense mostrou a todos os times do interior que é permitido sonhar e que sonhar é muito bom. Com poucos rivais e muitos simpatizantes, o time catarinense só conhecia os degraus de subida. Subiu tão alto que alcançou as mãos de Deus.

Como pode? Os jogadores estavam confiantes, motivados, felizes. E, agora, tudo acabou. As palavras têm força e eles deram mesmo a vida pelo título. Mas, por mais difícil que seja aceitar, acredito que tudo acontece porque deve mesmo acontecer. Deus tem um plano para todos nós e, vendo a grandeza da Chape, convocou seus jogadores para estar ao lado dele e desfrutar da vida eterna. Foram muitas as infelizes coincidências que levaram a esse fim. Serão mesmo coincidências? Prefiro acreditar em destino.

É possível existir algo de positivo no futebol brasileiro em 2016? Apesar de improvável, há um exemplo a ser seguido. O que acompanhei nas últimas semanas em questão de solidariedade e união foi tocante. Torcedor do Internacional escrevendo: “O que é a Série B perto disso?”. E realmente não é nada. O que quero dizer ao presidente colorado é que disputar a segunda divisão não mata ninguém. Também li palmeirense afirmando: “Desisto do título para podermos voltar no tempo”. Mas o que mais me doeu foi um fã da Chape lamentando a classificação: “Por que você foi impedir aquele gol aos 49 minutos do segundo tempo contra o San Lorenzo, Danilo? Por que foi se tornar o nosso herói? Hoje, poderíamos não ter nos classificado e precisado viajar”. A mãe do goleiro, Ilaíde Padilha, respondeu que a defesa salvadora era necessária, pois, caso não tivesse ocorrido, o filho estaria frustrado e todos pensariam o contrário: “Se essa bola não tivesse entrado, a Chapecoense teria sido campeã?”.

O que vi acontecer foi a união entre clubes e torcedores de todo o Brasil. Todos juntos vestiram uma mesma camisa. Mas por que foi preciso esperar um momento tão trágico para mostrar essa compaixão? É possível fazer um futebol mais humano, com mais rivalidade e menos inimizade. Não quero que esse sentimento mude quando a comoção terminar. Vamos lembrar sempre, em todo o mundo, que se todos usarem a camisa da paz e da esperança é possível.

Os clubes também mostraram sua grandeza. Todos mobilizados para reerguer a Chape. E a grandeza do Atlético Nacional? Abriu mão do título e o entregou a Chapecoense. Que gesto bonito! E que linda, também, a homenagem que o Nacional fez ao lotar as arquibancadas do seu estádio pelos guerreiros alviverdes. Emocionante, também, foi o gesto dos torcedores brasileiros no estádio Couto Pereira, no último dia 7. Haja lágrimas para isso tudo. Brasil, América, Mundo: não deixem a solidariedade terminar: ajudem, mesmo, a Chapecoense!

Hoje, somos todos Chape, mas e amanhã? Que tal sermos todos um só por um futebol mais acolhedor e respeitador? “Que escutem em todo o continente, sempre recordaremos, campeã Chapecoense”.

Peço desculpas ao leitor, mas não me sinto à vontade para falar sobre as conquistas e fracassos dentro das quatro linhas. Encerro o ano com o sentimento de que não houve jogos ou campeonatos. Apenas sinto a triste perda que sofremos. Que 2017 possa ser melhor.

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