Descompasso entre ritmos de propagação do vírus e da vacinação preocupa


Saúde

José Venâncio de Resende0

A blitz educativa foi uma das ações promovidas pela Prefeitura Municipal no enfrentamento da Covid-19 (foto Prefeitura Municipal)

Junho foi o mês em que o Brasil ultrapassou meio milhão de mortes pela Covid-19, correndo o risco de superar os Estados Unidos já no início do segundo semestre, segundo alguns especialistas. Enquanto a propagação do coronavírus segue seu percurso, a vacinação caminha em ritmo lento, o que deixa o país vulnerável a surtos de variantes (mutações) mais contagiosas do vírus, como a Delta (ou indiana) que já foi identificada no Brasil. Com variantes mais transmissíveis, há especialistas na Europa considerando ser necessário vacinar (duas doses) mais de 90% da população para se atingir a imunidade de grupo.  

Em Resende Costa, o primeiro óbito pela Covid-19 foi registrado em 22 de janeiro deste ano, quase um ano depois do início da pandemia no Brasil. Porém, em 15 de abril, já eram quatro mortes, com o número mais que quadruplicando em 17 de junho (dados do Informe Epidemiológico). Ou seja, em menos de cinco meses, essa estatística fúnebre saltou de 1 para 17 óbitos. Em relação à propagação do coronavírus no município, o número de casos confirmados passou de 148, em 22 de janeiro deste ano, para 644, em 30 de junho; ou seja, mais de quatro vezes superior.

 

Vacinômetro

Até o início do mês (Vacinômetro, 2 de julho), foram aplicadas 6.272 doses, sendo que 1.759 pessoas estavam totalmente imunizadas (com duas doses e com a vacina de dose única), o equivalente a 15,2% da população. Na faixa etária acima de 60 anos, 1.294 idosos foram imunizados (pouco mais da metade dos que receberam apenas a 1ª dose). Quanto aos profissionais da saúde, 336 estavam imunizados (44 menos do que os 380 com a 1ª dose). Os idosos em instituições foram todos imunizados (63 ou 1 a menos, em relação à primeira dose). Pessoas com comorbidades (940 em 1ª dose e 1 em dose única) e com deficiência permanente (109 em 1ª dose e 1 em dose única), trabalhadores da educação (131 em 1ª dose) e outros grupos prioritários estavam praticamente restritos à primeira dose. 

Já o Vacinômetro nacional – plataforma criada pela Universidade Federal de Alagoas e pela USP a partir de dados do Ministério da Saúde – mostra que o município de Resende Costa concluirá a vacinação em 19/09/2022, enquanto a previsão para o país é 25 de dezembro do mesmo ano.

O portal oficial do município aponta recuo nos números da pandemia a partir de meados de junho, fruto do esforço do poder público municipal e da contribuição da população. Além da cidade não ter registrado nenhum óbito desde o dia 18 de junho, houve uma redução de 77% nos casos ativos entre o período de 13 a 25 de junho. Um esforço conseguido sem medidas drásticas, como o fechamento do comércio, disse o vice-prefeito Lucas Paulo. “Com certeza, os números estão ligados às medidas sanitárias adotadas pelo poder público e que a população seguiu.”

O último boletim do NEPE-UFSJ (30 de junho) confirma a tendência de redução no contágio pela Covid-19 em Resende Costa, com a média móvel indicando 2,43 casos em sete dias.

 

Gripe

Até o final de junho, 3.143 pessoas dos grupos prioritários foram vacinadas contra a Influenza, simultaneamente à vacinação contra a Covid-19. Entre esses grupos prioritários, destacam-se os idosos (1.733), crianças entre 6 meses e menores de 6 anos de idade (635), pessoas com comorbidades (374), trabalhadores da saúde (201), professores (68) e gestantes (63).

Como as duas campanhas comtemplam os mesmos grupos prioritários, houve alteração na cobertura vacinal para a Influenza, em comparação com o mesmo período do ano passado, diz a enfermeira Núbia Augusta Resende Vale. Assim, “quem ainda não foi vacinado contra Covid-19 e se enquadra nos grupos prioritários, preferencialmente deve receber a vacina contra Covid-19 e ter agendada a vacina contra a Influenza”. 

Apesar do frio, os casos de Covid-19 e de síndrome gripal (gripe comum) diminuíram em junho, principalmente no final do mês, em relação a maio “em que estava aquele horror”, constata Silvia Célia de Oliveira, enfermeira do PSF-1. “Há queixas respiratórias, de bronquite, de pessoas que já têm algum acompanhamento anterior.”

Silvia acredita que o maior cuidado por parte das pessoas (uso de máscaras, lavagem das mãos com frequência e mais tempo em casa) tem contribuído para a menor ocorrência de doenças. “Nessa época, por exemplo, aconteciam muitos casos de conjuntivite, todo mundo na cidade pegava conjuntivite. Desde o início da pandemia (março do ano passado), isso não ocorreu aqui. A gripe comum não tem aumentado; só mesmo a Covid, mas houve um decréscimo.”

 

Saúde mental

No momento, a maior preocupação tem sido o agravamento dos problemas de saúde mental, adverte Silvia Oliveira. “A gente percebe que as pessoas estão tensas, nervosas, precisando de um acompanhamento. As pessoas que têm depressão estão piorando. Algumas pessoas, por exemplo, estão tendo crises de coceira na pele, constatando-se aí a ansiedade; não é nada dermatológico. A pessoa fica ansiosa e começa a se coçar.” Por isso, a enfermeira do PSF-1 defende que se trabalhe mais a questão da saúde mental.

 

Texto finalizado em 02/07/2021.

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário