Discernimento e inteligência na hora do voto


Editorial

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Escolher o Presidente da República que governará o Brasil nos próximos quatro anos é missão primordial dos brasileiros neste mês de outubro. Na última edição (ed. 233), o editorial do JL refletiu sobre a liberdade de escolha do eleitor ante o chamado “voto útil”, que, em nossa opinião, não faz bem para a democracia. Afinal, coagir o eleitor a votar “no menos pior” empobrece o debate de ideias e limita o sagrado direito da livre escolha.

O resultado das urnas no primeiro turno mostrou, no entanto, o que já era previsto, isto é, a força majoritária da polarização entre o candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro, que tenta se reeleger pelo PL. Aliás, a nova sigla partidária do presidente Bolsonaro revelou-se forte e elegeu inúmeros parlamentares de perfil direitista e conservador.

Analisando ainda o resultado do primeiro turno, chama a atenção a força do Bolsonarismo. Analistas políticos apontam que a onda conservadora, representada pelo presidente que tenta a reeleição, vem ganhando musculatura no Brasil. Um fenômeno que precisa ser observado e estudado. Trata-se de um fenômeno passageiro ou o conservadorismo está de fato “saindo do armário”?

Após décadas de governo da centro-esquerda, entre PSDB e PT, o Brasil está flertando com a direita como modelo de governo e a pauta conservadora como parâmetro e orientação moral. Desde as eleições de 2018, pululam, aqui e ali, ideias conservadoras, algumas anacrônicas e inconstitucionais, como fechamento do Congresso Nacional, intervenção militar, fechamento do STF (Supremo Tribunal Federal).

No início, essas bravatas de palanque eram vistas de forma despreocupada pela opinião pública, levando-nos a crer que se tratava de uma comédia bufa encenada por poucas pessoas alienadas, radicais e que, em sua maioria, demonstram desconhecimento acerca da história do Brasil. Ora, uma pessoa minimamente esclarecida que defende golpe militar e implantação de regime ditatorial em pleno século XXI, revela total desconhecimento do que foi o brutal regime de 1964 a 1985 no Brasil e em países vizinhos, como Chile e Argentina, que sofreram os anos de chumbo.

Porém, de comédia bufa esse movimento conservador que está se espalhando pelo Brasil não tem nada. A votação expressiva que Jair Bolsonaro obteve no primeiro turno e o crescimento vertiginoso da bancada parlamentar do centrão e de partidos de Direita confirmam que o Brasil, sim, está caminhando para o lado oposto do caminho político ideológico que vinha se consolidando desde a redemocratização. As ideias políticas de estadistas como Tancredo Neves, Ulisses Guimarães, Leonel Brizola, Fernando Henrique e Lula estão dando lugar a uma pauta eminentemente conservadora, retrógrada e anacrônica num país laico e plural.

As discussões nas redes sociais e a propaganda eleitoral corroboram justamente o que prevíamos que aconteceria no primeiro turno das eleições: a polarização entre Lula e Bolsonaro, um raso debate de ideias e a consequente privação do eleitor de escolher quem de fato está PREPARADO para governar o país num momento de tensão internacional (guerra na Ucrânia), crise econômica no pós-pandemia, além dos desafios impostos pela agenda ambiental.

Neste atual cenário político eleitoral de polarização e debate ácido de ideias conservadoras apaixonadas, o eleitor conseguirá, antes de fazer sua escolha, separar o que é superficial do que é essencial para o país nos próximos anos? É o que esperamos que aconteça nesta reta final de campanha.

O voto útil ficou para trás. Lula e Bolsonaro chegaram ao segundo turno com suas ideias claras e cristalizadas. O eleitor conhece ambos e sabe das consequências da sua escolha. Qual caminho seguir? O que o Brasil espera de nós? Quais propostas devemos priorizar e o que verdadeiramente importa para o futuro do país?

É hora de votar! Precisamos escolher! O Brasil precisa, como nunca, do discernimento, da maturidade e da inteligência dos brasileiros.

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