Em defesa do projeto educacional da EM João Pio


Editorial

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Em 2015, o JL descobriu que a Escola Municipal João Pio, nas Águas Santas, Tiradentes, adotava o modelo pedagógico da Escola da Ponte, de Portugal. Uma referência mundial em inovação no ensino.

No mesmo ano, o JL foi conferir de perto o trabalho desenvolvido na Escola da Ponte, cujo projeto inovador fora introduzido em 1976 pelo professor José Pacheco que a dirigiu por 30 anos. Tempo necessário para consolidar uma pequena revolução na educação.

Acabaram-se séries, ciclos, turmas, anos, manuais, testes e aulas. Não existem mais salas de aulas, e sim espaços educativos (humanística, ciências, educação artística e tecnológica) onde o aluno busca pessoas, ferramentas e soluções, testa seus conhecimentos e convive com os outros, resumiu o professor Pacheco em uma de suas entrevistas.

“Uma escola pública de educação básica (do pré-escolar ao 9º ano) que valoriza a responsabilidade, a autonomia, a prática democrática e a solidariedade entre os alunos. Uma escola que está além do seu tempo”, publicávamos na edição de Julho de 2015 a reportagem com o título “Com quase 40 anos, Escola da Ponte continua sendo exemplo para o mundo”.

Na mesma edição, o JL descrevia também a experiência levada a campo em Tiradentes a partir de 2014. Em Janeiro de 2016, voltamos a publicar outra reportagem sobre a EM João Pio, nesta oportunidade para destacar a confraternização anual de alunos, professores e pais, bem como uma exposição dos projetos desenvolvidos pelos alunos.

Mas, a partir do ano passado, o projeto da EM João Pio vem funcionando de forma precária, com várias atividades suspensas e, mais recentemente, o fim do período integral. O que, na prática, significa a extinção do projeto educacional inovador. 

Mas entrou em campo a forte mobilização dos pais de alunos da escola, reforçada pela articulação política do ex-prefeito Ralph Justino com os atuais prefeitos José Antônio do Nascimento (Tiradentes) e Nivaldo Andrade (São João del-Rei). Reacendia assim a esperança que, no entanto, ainda não foi concretizada.    

O professor José Pacheco, em várias oportunidades, tem destacado o caráter inovador da Escola da Ponte - e dos seus filhotes – que representa a mudança do foco do ensino para a aprendizagem, com a abolição do quadro negro, a ênfase em projeto e pesquisa e o trabalho em equipe. É o que podemos chamar de mudança de paradigma em relação ao ensino tradicional.     

O professor Dener Luiz da Silva, coordenador do programa de extensão Psicoeducar da UFSJ e voluntário na EM João Pio, lembra que, “na Europa, conseguiu-se algo que aqui ainda estamos a caminho: a compreensão do poder público de que Educação não é gasto público, é investimento na qualidade de vida. Também lá as famílias, apesar de a Escola da Ponte ser pública, estão sempre disponíveis e ativas, não esperando tudo do poder público”.

A EM João Pio foi um dos cerca de 200 projetos inovadores que o professor José Pacheco, agora consultor em educação, ajudou a criar no Brasil. Esperamos que não venha a ser um dos mais de 100 projetos que foram extintos pela “ignorância e o autoritarismo de políticos e gestores”, como bem definiu o fundador da Escola da Ponte.

Sempre há espaço para esperança. O JL apoia, incondicionalmente, a continuação do projeto pedagógico inovador da EM João Pio.  

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