Famoso galo do tempo português ganha nova companhia: o Cristo Redentor


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José Venâncio de Resende0

O Cristo Redentor que muda de cores é mais recente novidade. Foto José Venâncio

Uma miniatura do Cristo Redentor cuja cor muda de acordo com o tempo (azul para tempo seco e rosa para o úmido ou húmido em Portugal) – a exemplo do famoso galo do tempo – já está à venda na cidade do Rio de Janeiro. O Cristo Redentor do tempo começou a ser fabricado este ano pela empresa J. Dias Cardoso Ltda., em parceria com o Grupo Afonseca, do Rio de Janeiro.

“Fomos descobertos pelo empresário André Afonseca e então decidimos fazer uma parceria que permitiu criar a empresa Redentor”, conta José Manuel Pestana Dias Cardoso. “Para fabricarmos o Cristo Redentor do tempo, André conseguiu licença da Arquidiocese do Rio de Janeiro, para comercializar o produto, e da Prefeitura carioca para ser o embaixador dos Jogos Olímpicos de 2016”.

A primeira remessa já foi enviada e a miniatura começou a ser vendida ao pé do Cristo Redentor no Rio. Segundo José Manuel, uma percentagem de cada unidade comercializada será revertida para a manutenção do Cristo Redentor e também para causas sociais.

Além do Cristo, o Grupo Afonseca vai relançar no Brasil os produtos da J. Dias Cardoso, principalmente a série de galos do tempo.

 

65 anos. José Dias Cardoso começou sua trajetória em 1950, em Torres Novas, distrito de Santarém, com a criação de um higrômetro para medir a umidade do ar. A invenção constituía-se de uma ripa de madeira de 15 centímetros com uma tela ao meio, que mudava de cor, lembra o empresário.

O processo é o seguinte: uma composição química que contém sal vai absorvendo a umidade presente na atmosfera. A cor altera de acordo com as mudanças no tempo, ou seja, o azul no tempo seco fica rosa com a umidade. “A presença de umidade é um indicativo de chuva”, observa seu filho José Manuel.

Por volta de 1964, José Dias criou um higrômetro mais sofisticado, com 22 telas que apresentavam diferentes composições químicas e níveis de sensibilidade. “Cada uma tem a sua sensibilidade.” Em outras palavras, ao longo do dia ou de um dia para o outro é possível prever em detalhes, na escala de sensibilidade, a concentração da umidade do ar.

José Dias começou a fazer publicidade direta, o que despertou o interesse de suecos pela importação do higrômetro. “Isso aconteceu porque a Suécia era o único país na época que tinha serviço de cobrança postal.” Assim, ele considera-se o pioneiro em Portugal na venda pelo correio, à frente, por exemplo, da revista Seleções (editora Readers Digest) e da Editorial Verbo. As exportações do higrômetro duraram dois a três anos.

 

Galo de sucesso. Por volta de 1960, aconteceram dois fatos marcantes na vida da empresa: a mudança da sede da J. Dias Cardoso para Fetais, conselho de Loures, perto de Lisboa, e a criação do galo “multicolor” pequeno (12 cm), popularmente conhecido como galo do tempo.

Como estratégia de marketing, José Dias fez uma campanha, em 1966, em Lisboa. Comprou uma “carrinha” (furgão) e contratou seis empregadas, que percorreram Lisboa distribuindo o galo pequeno e uma circular na qual explicava que voltariam alguns meses depois para receber o dinheiro ou o produto de volta. A campanha, que se repetiu na cidade do Porto, foi um sucesso, principalmente pela divulgação que aumentou o número de clientes.

O “boom” de vendas aconteceu até a década de 1970, quando a empresa vendia cerca de 60 mil galos por mês, a maior parte para o Brasil. Apenas uma mulher da cidade de Santos, dona Marcina, que tinha agência de viagens, comprava 1.200 unidades por mês. Numa única vez, ela levou 200 sacos (2.400 galos) para o Brasil, recorda José Dias. Mas a maior parte era vendida para turistas que visitavam Portugal. E há o caso do comandante de navio que levava os galos no porão (4.000 a 5.000 unidades por viagem).

Essa explosão de vendas do galo pequeno durou até por volta de 1980. O produto era patenteado em Portugal, mas não no Brasil. Aí surgiram os imitadores do galo do tempo no Brasil, principalmente em São Paulo, lamenta José Dias. “Só que o galo que eles fabricavam não mudava de cor, o que desacreditou o negócio”. Então, apareceu o mercado espanhol. E em Portugal, o galo pequeno sempre foi muito procurado; continua a vender bem até hoje.

Entre 1980 e 81, José Dias decidiu fabricar o famoso Galo de Barcelos, em nove tamanhos diferentes (tradicional e multicolor), com foco nos turistas. “É o símbolo do turismo português”.

Além disso, a empresa desenvolveu novos tamanhos do galo do tempo, como o “galo grande” e os galos super 2000 e vidro, estes últimos também em versões pequena e grande.

 

A vez das imagens. Nos anos 1980, a empresa lançou imagens de Nossa Senhora de Fátima, em vários tamanhos e versões (multicolor, bordadas, luminosas etc.). Em Portugal, é grande a procura, sobretudo nos períodos de peregrinações. Além disso, são vendidas para a Polônia e um cliente de Macau (China) e começam surgir solicitações de países da Ásia como Índia e Indonésia.

Mas foi a imagem de Nossa Senhora Aparecida um dos grandes fracassos da empresa. José Dias visitou Aparecida do Norte duas vezes e, na segunda, em 1988, decidiu lançar a imagem porque acreditava que seria sucesso garantido de vendas. Ele atribui o fracasso principalmente à inexistência de um importador regular no Brasil, mas também ao fato da mudança da cor da túnica.

Outras imagens surgiram como a de Santo Antônio, a do Cristo Rei de Lisboa e a de Nossa Senhora de Lurdes. A política de diversificação de produtos levou ainda à criação de mouchos (corujas), porta-chaves e souvenirs em geral. Outro lançamento foi a Águia do Benfica, em parceria com o clube, que decepcionou em termos de vendas. José Manuel atribui este fracasso ao azul (tempo seco), cor do adversário F.C. Porto. Uma opção seria vender esta águia para a Lazio, de Roma, que tem a ave como símbolo e o azul na camisa.

 

Livros e televisão. Enquanto vendia os galos do tempo, José Dias resolveu arriscar no ramo editorial. Foi assim que lançou a coleção de livros “Curso de Relações Humanas”, em parceria com o jornalista Pedro Xavier Cid. Para isso, comprou os direitos parciais das obras dos norte-americanos Dale Carnegie e Joyce Brothers / Eward F. Eagan (esta última, “10 dias para uma memória de sucesso”), as quais adaptou, complementou e transformou numa coleção de 20 pequenos volumes. No Brasil, tinha autorização da Cia. Editora Nacional, de São Paulo, para comercializar a obra.

Como estratégia de vendas, José Dias enviava pelo correio os números 1 (Conversação eficiente) e 7 (Como vencer as preocupações) e um programa do curso com a ficha de inscrição. Quem pagasse, recebia os outros volumes. Chegou a vender 50 mil coleções (um milhão de livros), entre 1970 e 80.

 

Também entrou no ramo da televisão, em 1971, com um programa de variedades (espécie de talk show) na Rádio e Televisão de Portugal (RTP), canal 13, em parceria com o mesmo jornalista Pedro Cid. Baseado em entrevistas, o programa durou nove meses.       

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