O livro Caramurus negros: a revolta dos escravos de Carrancas - Minas Gerais (1833), de Marcos Ferreira de Andrade, foi lançado no dia 13 de maio, data em que a revolta completou 192 anos. Desde 2008, Marcos Andrade é professor do curso de História da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).
A obra, em pré-venda pela Chão Editora, é resultado de mais de 30 anos de pesquisa sobre a “Revolta de Carrancas”, o episódio que levou à maior condenação coletiva à pena de morte da história da escravidão no país. Em 13 de maio de 1833, a insurreição escrava mais violenta do Sudeste do Império, no sul de Minas, resultou na morte de 33 pessoas: 21 escravizados, 9 membros da família Junqueira (inclusive mulheres e crianças), 1 agregado e 2 “pessoas de cor”.
O livro, organizado por Marcos Andrade, contém a transcrição de parte dos autos do processo-crime da revolta e um posfácio do autor que mostra como as elites regionais e o próprio Estado imperial lidaram com os rebeldes insurgentes. “Todos que conhecem a minha trajetória acadêmica sabem que a história da Revolta de Carrancas se funde com a minha formação como professor e historiador, quando, no final da década de 1990, pude divulgar essa história até então completamente desconhecida nos estudos historiográficos, e que cada vez mais me surpreende e impressiona. Trata-se da revolta escrava mais sangrenta do Sudeste escravista de que se tem notícia.”
A revolta dos escravos de Carrancas está inserida em um contexto de intensos conflitos e repressão militar. O Brasil havia se tornado um país independente pouco mais de uma década e as elites políticas e escravistas disputavam espaço na construção do Estado nacional com projetos distintos, muitas vezes conflitantes. Em várias províncias, inclusive em Minas Gerais, essas disputas estavam muito presentes.
Ao se autodenominarem “caramurus”, um dos agrupamentos políticos da época, os rebelados afirmaram seu protagonismo diante das identidades em disputa. “E sendo perguntada mais pelo conteúdo no referimento que nela fez a testemunha Luiz Antônio de Oliveira que lhe foi lido, respondeu que era verdade que o preto Antônio Benguela pulava no seu terreiro e batia nos peitos dizendo para ela e seu companheiro: vocês não costumam a falar nos caramurus, pois conheçam agora os caramurus, nós somos os caramurus e vamos arrasar tudo.”
O livro traz à tona parte da história e das lutas de personagens como Ventura Mina, André Crioulo, Antônio Benguela, Joaquim Mina, Antônio Rezende e tantos outros que os acompanharam. Assim, o episódio permite-nos compreender não apenas as hierarquias, alianças e disputas que se estabeleciam no dia a dia da vida em cativeiro, mas também os sonhos e projetos de liberdade acalentados pelos cativos.
A obra salienta que, naquele 13 de maio, os audazes “caramurus negros” colocaram em prática seus projetos de liberdade, ainda que pudessem imaginar as graves consequências de participar de uma insurreição e tenham sido derrotados e punidos de forma exemplar. E, assim, entraram para a história.
Marcos Ferreira de Andrade nasceu em Lagoa Dourada (MG). Doutor em história pela Universidade Federal Fluminense, publicou livros, capítulos de livros e artigos relacionados à história da escravidão brasileira, especialmente sobre a revolta dos escravos de Carrancas.
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Fonte: Assessoria de Comunicação da UFSJ e Chão Editora.