A badalada terceira via que vinha sendo gestada como opção para quebrar a polarização política eleitoral vigente e vigorosa no Brasil, até agora, faltando poucos dias para o 1º turno das eleições, não decolou. Principal nome da coligação de partidos que se uniram para estabelecer um contraponto a Jair Bolsonaro e Lula, Simone Tebet (MDB) não consegue avançar nas pesquisas. Ciro Gomes também não convence e estagnou-se na parte intermediária das pesquisas, não conseguindo atingir sequer dois dígitos. A polarização permanece e o eleitor, pelo que se vê, tende a optar por ela.
O que se observa também é que até agora não surgiram nos planos de governo dos principais candidatos ao Planalto propostas convincentes que vão além do plebiscito: permanecemos com Bolsonaro ou voltamos com Lula? O eleitor, por sua vez, parece que não está disposto a ouvir novas propostas e/ou fazer novas escolhas.
Outra tendência que vem se fortalecendo durante esse curto período de campanha eleitoral é o chamado “voto útil”. Os dois candidatos que se encontram à frente nas principais pesquisas de intenção de voto utilizam desse argumento e artifício eleitoral. Lula pretende convencer eleitores indecisos ou os que pensam em votar em Ciro ou Tebet, por exemplo, a votarem nele a fim de derrotar já no primeiro turno o presidente Jair Bolsonaro, que tenta a reeleição. O presidente Bolsonaro luta para persuadir os não-bolsonaristas, mas que também não querem votar em Lula, a ajudá-lo a conquistar um segundo mandato, derrotando o que ele chama de “o mal que deseja voltar ao poder”.
Ao invés, portanto, de escolher o candidato que mais o convence ou refletir sobre propostas que o conquistam, nestas eleições o eleitor, uma vez mais, encontra-se entre a cruz e a espada.
Esse cenário político eleitoral não é bom para o Brasil, enfraquece a democracia e tolhe a liberdade do eleitor de exercer sua escolha. A pregação do “voto útil” fortalece ainda, se quisermos usar metáforas futebolísticas, o argumento raso de que eleições são como um campeonato em que o torcedor que não torce por nenhum time escolhe aquele que está ganhando. Ora, as eleições são um momento único para corrigirmos rotas, escolhermos com liberdade quem é competente e digno de nos representar, seja no executivo, no parlamento e assembleias. Em cada eleição, gerais ou municipais, exercemos nosso direito sagrado de ESCOLHER!
O sigilo do voto é a armadura de que dispomos para fazermos nossas escolhas com total liberdade. O que deve imperar antes de apertarmos a tecla VERDE na urna e confirmarmos nosso voto é a nossa livre vontade de escolha.
Ainda há tempo de refletir sobre as escolhas que devemos e desejamos fazer no próximo dia 2 de outubro. Aprovamos o atual modelo político ou desejamos mudar, apostar em novas ideias? Não devemos, em nenhuma situação, nos sentir intimidados ou coagidos a votar levando em consideração argumentos ideológicos que enfraquecem a democracia e banalizam o voto – direito sagrado e inalienável, conquistado historicamente no Brasil a duras penas.
Enfim, o único “voto útil” é aquele que depositamos conscientemente na urna. Deixar-se convencer por discursos rasos e meramente eleitoreiros é um desserviço ao processo democrático e um risco ao futuro do país. O brasileiro não pode mais “brincar” com o seu voto. É hora de mostrarmos maturidade e seriedade no momento em que, se fraquejarmos, a história poderá nos cobrar impiedosamente. Exerçamos, pois, o nosso direito à liberdade de votar com o coração e com a consciência. Sejamos, sim, úteis à democracia!