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É PORQUE É

18 de Maio de 2017, por José Antônio

– Quer que registre o seu CPF na notinha da compra? Olhei, sem entender, para a garota do caixa do supermercado. Registrar o meu CPF na nota da compra? Com certeza era alguma ordem vinda de cima pra baixo.

 Mas... registrar pra quê?

A garota também não sabia. Depois de hesitar em algumas palavras desconectadas, assumiu a situação e me lançou um sorriso desolador:

– Uai, moço... pra ficar registrado.

Se você, leitor, nunca ouviu falar de tautologia, então aí vai: a tautologia é você explicar uma coisa por ela mesma. É um raciocínio circular, fica sempre onde está: essa música é chata porque demora... e ela demora porque é chata.

A tautologia é um tipo de autoritarismo. É isso aí e pronto!

Até o velho e bom Drummond apelou: Eu te amo porque te amo.

 E acabou. Não se discute mais.

Quando pequeno, eu morria de curiosidade para saber como é que o Seu Manuel fazia picolé. Não entendia como o picolé ganhava aquele formato e ficava colorido. Aí eu arrisquei:

– Seu Manuel, como é que o senhor faz picolé?

E ele, numa tautologia sucinta e congelada:

– Fazendo.

A bem dizer, a gente usa a tautologia toda hora. Veja só a matemática: quatro é par porque é divisível por dois... quatro é divisível por dois porque é par.

Tem ainda a história zoo-ontológica da galinha e do ovo: o ovo existe porque existiu uma galinha; a galinha existe porque existiu um ovo.

Explicar as coisas desse jeito é igual cachorro correndo atrás do próprio rabo. Roda, roda... e não sai dali.

Já viu aquela situação em que você se deleita com algum tipo de prazer e não encontra palavras para defini-lo? É aí que a gente se lembra da Coca-Cola: Isso é que é!

Talvez a tautologia esteja em nós até hoje como ecos freudianos das reprimendas da infância:

– Menino, desce daí agora!

– Por que, mãe?

– Porque você tem que descer!

E vai discutir...! O final dessa história é o típico chavão tautológico: E fica tudo por isso mesmo!

A própria vida é tautológica: nascemos para morrer e morremos porque nascemos.

Paguei a minha compra no supermercado. Quando ia saindo, pedi à garota:

– Você poderia colocar os pacotes de café em duas sacolinhas?

Ela me olhou sem entender. Acabou perguntando:

– Duas sacolinhas? Pra quê?

Nem hesitei:

– Pra serem duas sacolinhas!

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