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É pra rir?

16 de Marco de 2017, por José Antônio

A piada sem graça.... Em si, ela não irrita. O que irrita é o tempo que você perde ouvindo a pessoa contar. Pode ser um tempo perdido pra frente e um tempo perdido pra trás.

O tempo perdido pra frente é aquele que você perde por já conhecer a piada. Você sabe onde a piada vai chegar, sabe que vai perder tempo, mas mesmo assim embarca na do contador porque ele é gente boa. O tempo perdido pra trás é quando você não conhece a piada: o contador termina e você vê que a história é estúpida como estúpido foi o tempo perdido que ficou pra trás.

Fim de semana passada, num jantar de casais, perdi tempo pra frente e pra trás. A mulher do Mané Cráudio, meu amigo pagador de mico, resolveu dar o ar da graça... isto é, o ar da falta de graça:

– Gente, esta é demais! Soltaram esta piada ontem no salão. Sabem o que aconteceu com o policial quando ele se olhou no espelho? Ele civil.

Piada do policial civil... típica piada solta que deveria estar presa. Eu já conhecia, mas tinha me esquecido dela. Compreendeu por que perdi tempo pra frente e pra trás?

Ontem me pararam na rua pra perguntar o que o cavalo foi fazer no orelhão. Já sabia que o sujeito iria falar que o cavalo foi passar um trote... e falou mesmo. E caiu na gargalhada. Ri junto, no mesmo trote, daquela falta de graça equina. Ele ainda tentou emplacar mais uma, mas eu apertei o galope e fui embora. Já distante, olhei pra trás e ainda pude vê-lo parando mais um. Vai ver que estava explicando que as vacas argentinas ficam olhando pro céu pra ver se encontram um Boi nos Ares. Ou que o lugar mais rápido da casa é o corredor.

E a piada que o Leovaldo me contou? O Leovaldo é marcado a ferro e fogo pela angústia. Vive cismado com tudo. Na verdade, ele não me contou uma piada, mas um acontecimento. E acabou rindo do que contou.

– Ontem assaltaram a pizzaria aqui da praça. Sabe como é que o ladrão fugiu? A pé, cara! A pé!!!

E riu até lacrimejar.

Eu não derramei uma lágrima sequer. Fiquei mais indiferente do que a calabresa da pizza. Não tinha ouvido coisa mais sem graça.

O Leovaldo acabou indo embora, coitado, cismado com a pizzaria:

– Será que o dono vai colocar algum produto nas pizzas? Se alguém roubar e comer, cai duro logo adiante. Você já pensou nisso? Acho que não vou voltar mais lá.

Pois você acredita que de uns dias pra cá eu estou vendo um vestígio de humor nessa história do Leovaldo? O ladrão carregando uma pizza, correndo da polícia com aquele enorme pratão de papelão. Quem vê de longe, pensa pelo menos em duas coisas: deve ser uma pizza bem gostosa, pois está sendo disputada... ou... o cara vai ser preso, mas não vai dar em nada, pois tudo acaba em pizza, ele até já está avisando.

Ainda não dei sorriso de canto de boca pra essa história. Estou longe de derramar uma lágrima de tanto rir disso. Mas que tem um fundo engraçado, tem.

Talvez algumas piadas sem graça não sejam sem graça. São iguais a vinho: a gente tem que dar um tempo pra elas.

Por falar nisso, como é mesmo aquela piada do cara que gostava tanto de matemática que, quando pedia um x-burguer, ele comia o burguer e calculava o x? É isso mesmo?

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