(Quem calcula em matemática vai entender...
quem entende de poesia vai calcular.)
Eu ainda menino. Uniforme escolar e calça curta. Menino frágil, ingênuo, assustando-se com as novidades mais banais.
Ao meu redor, numa espécie de canteiros retilíneos, mais meninos e meninas com olhares ressabiados. A voz monocórdia da professora e todo mundo copiando. Proibido olhar pro lado e conversar.
Então, depois de alguns poucos dias, tu entraste na sala de aula e na minha vida de algarismos multiplicadores de possibilidades que não acontecem, resultados sem valores notáveis. Trazias na fronte uma singela tiara de contas, circunferência delicada, perímetro suficiente para conter a dízima periódica de teus mistérios que tendem ao infinito.
Por mais que eu tentasse ser ímpar aos teus olhos, jamais quiseste ser meu par. Qual era, afinal, a fórmula para ser contido em teu coração de insensível longitude?
Entreguei-te meu desejo, minha persistência e meus erros. Tu me devolvias apenas uma fração ordinária de teu olhar, fração irredutível à minha procura. Não enxergavas os parênteses de minhas expressões cálidas, acolhedoras e sem chaves.
Minhas investidas humildes não encontraram tangente em teus inescrutáveis teoremas. Qual a matriz de teus segredos? Qual o sistema de teu querer?
Meu coração pulsa à esquerda... mas pulsar no zero à esquerda é sofrimento sem diâmetro. Dor solitária, monômio sem binômio.
Dentro de meu peito, uma rosa de geometria irracional, com uma raiz quadrada e pétalas fractais foi crescendo sem compreender seus próprios fatores. Flor teimosa em se repetir a si mesma na procura de tua incógnita.
Porém, és destituída de sentimento, não aceitas a emoção em teu consciente nem no teu inquociente. És um travo secante que desce mal na garganta... decimais... desce até a alma.
E danço sozinho no arranjo melancólico dos acordes de um conjunto vazio. Dançar contigo? Procuro o teu ritmo, mas não alcanço o teu algoritmo.
Fazer o quê? Não faço parte de teu quadro de valores.
No entanto, não posso negar que és bela.
E como toda bela, és cruel.
Como toda bela, és problemática.
Assim é que te vejo, Matemática!
Jamais chegaremos a um denominador comum.
– Até logo!
E tu me respondes:
– Até log!