Quando o Alvarenga viu, já era tarde. O Lilico vinha andando em sua direção, todo sorridente.
Já havia se passado um ano do aniversário do Lilico e ele, com certeza, iria convidar o Alvarenga para mais um. O problema é que o aniversariante servia a mesma coisa todo ano: pastel.
Um ano foi pastel de carne. Outro ano, de queijo. Depois, carne de novo. Mais um ano e o Lilico emplacou o pastel de bacalhau. Aí o Lilico andou lendo umas revistas e apareceu o pastel de Belém. Esse ano não seria diferente. Lilico cumprimentou o Alvarenga, falou do seu aniversário e tirou o convite da frigideira:
– Vai lá em casa comer um pastelzinho!
E assim a coisa vinha se repetindo ano após ano. Só pastel.
Talvez o Lilico nasceu não na maternidade, mas numa pastelaria. Até mesmo as suas roupas tinham uma tonalidade pastel. Lilico não percebia, mas quando cantavam o parabéns, na hora do “muitos anos de vida” todos baixavam a voz.
No entanto, para esse aniversário Lilico se superou na mesmice pastelar. Ele conseguiu ser a mesma coisa... diferente. Foi assim:
Alvarenga e sua mulher foram os últimos a chegar. Então, Lilico conduziu todos para a copa. De repente, uma visão estapafúrdia: cobrindo todo o tampo da mesa, um enorme pastel. Um só. Gigante. Do tamanho da mesa. Aquilo assustou.
E o Lilico:
– Gostaram? Ontem eu conversava com a minha esposa e ela me falou de empadão. Se tem empadinha, tem empadão. Se tem pastel, por que não pode ter pastelão? Não foi mesmo, meu bem?
A mulher do Lilico não respondeu. Aliás, nem apareceu.
Alvarenga associou a imagem daquele pastel deitado na mesa a um velório gastronômico. E pensou com esperança: Quem sabe é o último? Então sentiu o braço sendo tocado de leve por sua mulher, que perguntou baixinho:
– Como é que começa?
E o Alvarenga, também baixinho:
– Eu quero saber como é que termina.
Lilico veio animado lá da cozinha com uma pilha de pratinhos:
– Vamos lá, gente! Senão esfria em cima da mesa.
Frio e em cima da mesa... Alvarenga espantou a ideia.
Tavares quis a ponta mais tostada, a mulher do Alvarenga preferiu a parte do meio, o Silva pegou uma parte sem recheio (já não aguentava mais carne moída com batata!), o Alvarenga puxou uma outra ponta com batatinhas e a mulher do Silva não pôde se servir, pois o Lilico estava em cima do pé dela.
Todos se atropelavam para estripar o pastelão. Que acabou desmontando.
Ao saírem de lá, Alvarenga e a mulher foram pra uma pizzaria. Afinal, queriam comer alguma coisa. Foi quando a mulher começou a exclamar assustada, olhando para o letreiro luminoso da pizzaria:
– Ai, ai, ai...!
O letreiro piscava: LILICO’S
E os dois foram comer em casa mesmo.