Voltar a todos os posts

“VIRUS MUNDI”

12 de Abril de 2020, por José Antônio

E o VÍRus VIRalizou.

Na VIRada do ano, a canoa VIRou. Se eu fosse um peixinho e soubesse nadar, não haveria canoa VIRando no mar. Sonho ingênuo o meu sonho, quando a esperança ameaça a ficar VIRada pelo avesso.

O VÍRus VIRa-mundo encadeou uma corrente de vidas e enforcou a história. Nas agendas violentadas, os dias reVIRaram os olhos e tombaram com voz falecida.

Para que clamar? O VÍRus nada escuta em sua silente absurdez.

VIRavolta no que é real e no que é VIRtual. Certezas penduradas por um tênue fio da meada:

 “O que há de ser?”

Talvez outra humanidade esteja sendo gerada do barro novamente. Ou mesmo outra humanidade esteja sendo formada após a inundação do dilúVIRus. Homem e mulher, macho e fêmea, VIRil e VIRago em edição renovada.

Adão e Eva substituídos por VIRiato e VIRidiana?

Enquanto o deVIR não se revela, mortes se enunciam em orações subordinadas a uma sintaxe VIRulenta e cruel. Não há ponto final no discurso das lágrimas... apenas VÍRgulas e mais VÍRgulas.

A linguagem, aos poucos, vai sendo invadida por metáforas de coronorfandades: palavras, ai, palavras... conVIRsar com as palavras é uma estranha potência: mesmo nas calamidades, as palavras desafiam VIRdades nos interditos da poesia.

Embora as flores da minha primaVIRa estejam descoloridas, o sol do meu VIRrão esteja anêmico, a neve do meu inVIRno esteja cinzento, eu creio no outono: uma nova estação com outonalidades alegres.

Folhas secas irão embora e aparecerão outras folhas, alimentadas pela clorofila dos campos saudáveis, clorofila dos abraços atrasados, dos beijos sequestrados, dos sorrisos renovados.

Clorofilha da esperança e do bom senso.

Olho minhas palavras espalhadas pelos canteiros do meu texto. Olho-me enquanto olho.

Olho também para os teus olhos, tu que me lês.

Deposito minha íntima crônica na superfície do lago onde as tuas pupilas flutuam. Sopro de leve para que o lago crie redemoinhos que consigam mergulhar a minha escrita.

E no ir e vir das ondas que dão cadência aos nossos oceanos secretos, longínquas sereias possam entoar um refrão chamativo que inspire futuros:

– O que há por VIR?

Por vir...

Porvir!   

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário