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Pequenas histórias de graça

15 de Janeiro de 2019, por Regina Coelho

Vinda de Jacarandira, Jandira (Epa! Até rimou.) trabalhava na casa de meus avós maternos ajudando minha avó nos afazeres domésticos. Guardo muitos casos contados em família sobre ela, que, entre outras particularidades, tinha uma certa implicância com o nome da minha mãe – Olga – e o do meu tio Otto. Dizia a Jandira que meu avô arrumava só nome esquisito para pôr nos filhos. Foi então que chegou a Resende Costa, provavelmente na década de 30 do século passado, o automóvel do Dr. Costa Pinto, médico residente na cidade. Naturalmente, aquilo repercutiu bastante entre os resende-costenses, com muitos comentando sobre o tal automóvel, um Ford Ramona, talvez o primeiro carro a aparecer e ficar por aqui. Então, a Jandira, num insight bem particular dela, saiu-se com esta: “Ah, já sei de onde o ‘sô Arcide’ arrumou o nome do Otto, foi do ‘otomove’”. Do lado paterno, meus avós puseram em todos os filhos nomes começados com A. Aliás, escolher uma certa letra para daí iniciar a série de nomes da prole era uma prática comum nas famílias.

Critérios, alguns questionáveis, é fato, não faltam na definição das palavras que nos acompanham ao longo da vida formando nosso nome completo, uma marca pessoal única. E é certo. Todo nome pode sugerir uma brincadeira. Eu mesma, numa mensagem recebida de um aluno pelo Dia do Professor, vi nas letras de meu último sobrenome o desenho de uma coelhinha. Uma homenagem dele. E juntando nomes próprios, há quem queira fazer graça criando ou copiando, é o meu caso, coisas como: Ana Lisa – psicanalista; Décio Machado – lenhador; Ema Thomas – traumatologista; Ester Elisa – enfermeira; Hélvio Lino – professor de música; H. Lopes – professor de hipismo; Inácio Filho – obstetra; Marcos Dias – fabricante de calendário; Oscar A. Melo – confeiteiro; Sara Vaz – mãe de santo.

Peguei leve ao escolher esses cacófatos, que são um vício de linguagem e, portanto, devem ser evitados. Isso porque há combinações de sons que geram termos ofensivos ou inconvenientes. Com essas últimas então todo cuidado é pouco. Apenas um exemplo: Décio Pinto. E quase deixando de lado os nomes propícios à prática de bullying, fica impossível não citar o cidadão Sincero Ramos de Morais, que ocupou há alguns meses as páginas policiais mineiras ao ser preso por matar a ex-namorada e o pai dela em maio do ano passado, em Peçanha, no Vale do Rio Doce (MG). Sem entrar no mérito da questão do feminicídio, sinceramente? Ninguém merece um nome desse!

 

Um caso interessante.

Um sujeito adora ouvir rádio. Sem muito o que fazer, participa de todos os programas de interação com os ouvintes. Outro dia, se interessou pela promoção da Rádio Comunitária de Sorocaba. Quem construísse uma frase com uma palavra que não existisse no dicionário ganharia duas entradas para o cinema. Ele não pensou duas vezes. Ligou:

Locutor: – Alô, quem fala?  

Ouvinte: – Sérgio, do Jardim Magnólia.

- Olá, Sérgio! Já conhece a brincadeira? Qual é a sua palavra?

- A palavra é vaice.

- Vaice? Como se escreve?

- V-a-i-c-e.

- Espera um pouco. Me deixa consultar o dicionário. É... Realmente essa palavra não existe.

Agora faça uma frase com ela. Se fizer sentido e descobrirmos o que significa, você ganha.

- Ok, lá vai. Vaice coçar.

E desliga o telefone. O locutor não desanima. Vai em frente.

- Que é isso, pessoal? Vamos colaborar. Afinal, existem crianças ouvindo. Vamos tentar outra ligação. Alô, quem é?

- Joselito, do Peroba.

- Olá, Joselito Já conhece a brincadeira? Qual é a sua palavra?

- Eudi.

- Eudi? Como se escreve?

- E-u-d-i.

- Espera um pouco. Me deixa consultar o dicionário. Eudesmano, eudesmol, eudésmia, eudiapneustia, eudiapnêustico... É... Realmente essa palavra não existe. Agora faça uma frase com ela. Se fizer sentido e descobrirmos o que significa, você ganha.

- Ok, lá vai. Sou eudi novo. Vaice coçar.

(Texto adaptado de Dad Squarisi)

 

   Um ótimo 2019 aos leitores do JL! E no desassossego dos dias infelizes, a graça das pequenas histórias cotidianas.

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