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14 minutos e 58 segundos: o biquíni

13 de Dezembro de 2011, por Rafael Chaves

Deixemos de lado as interpretações que a frase possa ter, Andy Warhol afirmou que "In the future, everyone will be world-famous for 15 minutes”. Também deixando de lado saber se esse futuro a que ele se referiu chegou ou não – e ele não está mais vivo para responder a essa questão – fato é que, neste domingo, saí, finalmente, na televisão. Saí no programa Mangalarga Marchador TV, por dois segundos.
 
Embora apenas os aficionados por essa raça de cavalo assistam ao programa e, que eu saiba, apenas alguns amigos tenham me reconhecido, lá estava eu, naquela cavalgada, em Cruzília. Acontece que chovia forte na hora da filmagem e eu me protegia com uma capa e a aba do meu chapéu de palha havia cedido com tanta água, cobrindo parcialmente o meu rosto. Mas eu juro, era eu!
 
Eu estava feliz por ter gasto dois segundos dos meus quinze minutos de fama aparecendo cavalgando. Dava-me satisfação de a minha fama ter conexão com cavalos, que é das coisas que mais gosto. E me gabava disso numa roda de colegas, quando um desses desmancha-prazeres veio me dizer que eu havia saído, durante toda semana, numa entrevista no jornal da TV Campos de Minas.
 
Foi como se o mundo ruísse aos meus pés e eu fosse tragado por um buraco negro, de onde jamais pudesse sair para ver novamente a luz, por absoluta impossibilidade física, em seu sentido científico. “Como eu pude gastar de maneira tão desastrada e improdutiva meus minutos de fama?”, pensei. A reportagem durou dois minutos, vezes sete dias da semana, seriam quatorze minutos. “Restam-me apenas 58 segundos de fama, se é que sobravam”, concluí, frustrado e arrependido. E me lembrei da repórter da TV, linda, charmosa e sedutora a me perguntar se “seria possível o senhor nos conceder uma entrevista?”.
 
Não, não foi pela suposta notoriedade que eu me dispus a conceder a entrevista, senão por puro instinto, impulso ou descarga hormonal. A notícia era policial e eu estava ali representando um poder de policia que jamais gostaria que fosse motivo de minha publicidade. Estava a trabalho. Abominei as forças biológicas que nos dominam. Praguejei contra as mulheres que nos tiram do sério, desfilando encantos sem segundas intenções. Desejei que, daqui para adiante, todos os repórteres fossem homens e parecidos com o Maurício Kubrusly, desses do tipo que nem o nome ajuda. “Fosse ele eu talvez não tivesse concedido aquela maldita entrevista!”, deduzi, ainda pensando na beldade morena daquela menina que me persuadiu, como quem oferecesse uma barra de chocolate a uma criança.
 
Como nem tudo está perdido, eu me lembrei – salvação da lavoura – de uma célebre frase de para-choque de caminhão: “estatística é igual a mulher de biquíni, mostra tudo mas esconde o essencial”, frase que Andy Warhol provavelmente gostaria muito de ter sido, premonitório e filosófico, o seu autor (a esta hora deve estar se revirando – seus ossos e seus óculos – no túmulo). Em que se pese que aparecer na televisão seja um ótimo indicador de notoriedade, de fama, não poderia esta “maldita” entrevista enquadrar-se exatamente e fielmente neste conceito. Era o biquíni o que me faltava! Benditos sejam todos os biquínis, que nos salvam de nossa humanidade, que nos restituem a razão e o juízo e que nos permitem ver apenas através de ilações e fantasias. Abençoado seja o biquíni na estatística, que nos abona – e, principalmente, aos políticos – a manipulação de dados aos nossos propósitos!
 
Essa minha entrevista, concedida a um programa local, da TV Campos de Minas, de baixíssimo alcance, penetração e audiência, eu poderia facilmente me esconder atrás de um biquíni fio-dental. E assim o fiz. Decidi restabelecer o meu direito aos meus quinze minutos. Ainda me restam 14 minutos e 58 segundos: aguardem-me!

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