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Festa de formatura

07 de Fevereiro de 2009, por Rafael Chaves

Fim de ano é tempo de festa “ainda bem que eu não faço aniversário em dezembro/janeiro, seria apenas mais uma festa, quem se importaria?! Ahh!, e quem me daria mais de um presente: um pelo Natal e outro pelo aniversário?!”. Tem festa de tudo enquanto é jeito, pra todos os gostos, por todos os motivos. E ainda é verão, férias escolares e férias dos pais que tiram férias junto com os filhos também, o que não deixa de ser festa. A moçada sai às ruas, viaja e o escambau. Não tem segunda-feira que impeça, todo dia é dia, todo dia é final-de-semana “ainda bem que eu não tiro férias nessa época do ano, ta tudo cheio, ta tudo caro!”. É natal, é réveillon, são férias e aniversário de quem tem o mesmo signo que Jesus Cristo.

E formatura! São tantas festas no final do ano que esquecemos de falar das festas de formatura. Formatura de jardim de infância “ou será de maternal?, ou será de creche?”, formatura de primeiro grau “no meu tempo era ginásio”, formatura de segundo grau, formatura de faculdade...

E assim como natal tem ceia em família, distribuição de presentes e desejos de feliz natal, assim como réveillon tem meio que um carnaval, beijos na boca e desejos de um próspero ano novo e assim como aniversário tem bolo com tantas velinhas quanto sejam os anos de vida, presentes e parabéns para você, formatura tem missa “ou culto ecumênico, às vezes”, colação de grau, discurso, festa e convite agradecendo em primeiro lugar a Deus, depois aos pais, aos familiares, ao namorado (a) e a todos os demais pelo apoio, carinho, amor e incentivo, sem os quais a conquista, a vitória, a etapa de vida e o sonho seriam incompletos ou impossíveis de serem concretizados.

Em convite de formatura todo mundo fala a mesma língua, a língua do agradecimento. Depois desses agradecimentos particulares dos quais eu já falei, geralmente encartados nos convites, há os agradecimentos gerais: agradecem os funcionários, os mestres e os colegas. E formandos em Direito agradecem a desavença e o litígio, formandos em Medicina agradecem as doenças que se instalam nos seus pacientes “até indigente, pobre coitado e anônimo, é lembrado e tem reconhecimento póstumo pela utilidade do seu cadáver”, formandos em Psicologia agradecem os loucos de toda ordem, formandos em Engenharia agradecem os abalos das estruturas, formandos em Economia agradecem as crises econômicas e financeiras, e assim por diante...

Formando tem mania de achar que a sua formatura é resultado e coroamento de um sacrifício seu, ímpar, sem igual, como se lhe tivessem submetido a tortura. Sei não... Estudar, antes de ser sacrifício, é disciplina. E outra coisa, anseia pela formatura como preso pela liberdade. Mal sabe o que o espera no day after! Depois, por exemplo, do segundo grau vem a escolha da profissão e o vestibular “se bem que hoje em dia só não faz curso superior quem não pode pagar pelo diploma”. E depois da graduação, o formando fica com o “canudo” na mão, sem saber o que fazer dele. Aí aquele sonho realizado vira pesadelo, da noite para o dia, instantaneamente.

Trabalhar é bem pior do que estudar, se é que se pode comparar! Trabalhar, sim, é sacrifício. Coitado daquele que não estuda ou estudou. Enquanto o formando estava estudando, o outro estava ralando, oito ou mais horas por dia, seis dias por semana e sem direito a comemoração a cada quatro anos! Taí!, quem trabalha deveria ter direito a um tipo de formatura a cada quatro anos “acho que não tem porque não tem o quê nem a quem agradecer.”. Aliás, tem direito a festa sim, depois de trinta e cinco anos de trabalho e sessenta de idade “se chegar lá”.

Festa de formatura é o que há. São geralmente imbatíveis. Tudo do bom e do melhor. Os homens e as mulheres nos trinques “as mulheres tal qual noivas, os homens tal qual noivos e os convidados tal qual padrinhos, em dia de casamento”, como se houvesse inúmeros holofotes a iluminar cada um dos participantes da festa. Todos iluminados, limpos, impecáveis, cheirosos, chiques, alegres, satisfeitos até o raiar do dia “acaba não, mundão!”. Afinal, a turma toda ajunta dinheiro, muito dinheiro “e até de fato se sacrifica” durante meses, anos, quase todo ele revertido para a festa, bendita festa!

Há um porém, uma penitência: para ir à festa você “convidado, obviamente” deverá assistir à missa “ou culto”, fazer parte da claque na colação de grau e ouvir todos aqueles discursos intermináveis. Mas “podem me convidar”, vale a pena!


Aos formandos de 2008, em especial ao Luís Eduardo.
Continuamos em campanha por um monumento aos ex-combatentes resende-costenses.

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