A1: ... Prá mim pegar ela dentro da baia eu gastava aí em torno duma meia hora...
E: Mas quando é assim é bão, quando num tem maldade... é arisco o bichinho...
A1: ...uma coisa horrorosa. Eu gastava, Rafael, uma meia hora pra pegar ela dentro da baia, dentro da coberta lá em casa, precisa ver que coisa. Um dia eu cidi, assim tentando com jeito, resolvi assim jogar o cabresto nela assim. Rapaz!, ela fez igualzinha um a, um a..., um passarinho nas régua assim, oh, vupt: vuô lá em cima...
Todos: (risos)
A1: Eu falei assim: Nossa Senhora, ah morreu, ué. Aí fui com jeito dali, fui levando com jeito uma cuinha de fubá, devagar, com o tempo fui pegando confiança, mas eu gastei um mucado de tempo pra poder coisa... Eu falei assim: com um ano e meio dois ano eu vou amansar ela. E foi dito e feito, com um ano e meio eu já tava com ela, ela já tava arriadinha, eu já tava montando nela, mas, oh, quando eu botei ela na coberta e que amarrei uma, uma sacolinha numa, numa varinha de pescar pra poder tirar ela... porque nada podia balançar que ela virava um tiro, né.
A3: Nó!
A1: Eu botei ela na coberta. Rapaz, vou desabusar... Vou chegar nela a sacolinha nela assim e ela só faltava morder, vê, ela queria bater com os quatro é duma veiz naquele trem ... Você precisava de ver que coisa horrorosa... Enquanto ela num tava bufando, suano ela num parava...
E: Tem animal que é assim mesmo, tem umas que sua de raiva
A1: Nossa Senhora!
A3: Nossa Senhora, né Leomar?
E: Ué, essa do Elfar aí, essa aí também, eu mexi com essa potra mais ou menos um mês de dentro do redondel. A potra não entregava de jeito nenhum. Aí eu fiz igual ocê ta falando aí. Eu falei assim: hoje eu vou resolver e vou passar a perna nessa égua, vamos ver o que que dá. Às vezes montada - ainda veio na minha cabeça - às vezes montada ela sai mió. Já tinha quase um mês que eu tava charretiano ela - tá entendendo? - que eu tava charretiano ela. Aí a égua arriada já, passei a perna nela, pus o pé no estrivo. Quando eu levei a perna por cima dela e antes d’eu já ganhar o outro estrivo ela já fechou comigo e paf paf paf na beira das régua Eu só senti a bunda minha no lombio assim óh pá pá pá (batendo com as palmas da mão). E eu sem o estrivo no pé. Enquanto ela tava pulando na régua assim acompanhando o redondel eu segurei, sabe. Ela deu umas três volta e saiu pro meio do redondel.
A1: Hummmm.
E: Quando ela saiu pro meio do redondel foi treis pulo só e ela me pôs no chão. Aí vortei ela no charretiamento...
Paula Fernandes: Eu quero ser ao seu lado...
E: ... Mais rodei a potra no charretiamento até ela fazer isso assim com a cabeça, baixou a cabeça, chegou a esticar o pescoço, entendeu?
A1: Entregou...
E: É... Falei assim: entregou, agora num pula mais não. Tornei a tirar as corda do charretiamento, botei a embocadura e muntei. Muntei. A potra ficou quitinha, aí eu fiz assim com o estrivo no pé, pus no pé e falei assim, eu sozinho e Deus: é, égua, agora você num tira eu de cima não, você deixou eu calçar o estrivo, cê num me tira mais de cima não! Toquei ela na boca e ela num foi não. Mas quando eu fiz assim com o calcanhar nela, e toquei, a potra fez só assim: vapt! E ela subiu mais de dois metro do chão...
Todos: (risos)
E: Ela vuô, sabe? Ela fez assim com as pernas no chão e fez assim “vapt”, vuô lá em cima. E começou, nego: aqui, aqui, aqui e eu mão nela tentano dominar ela na boca, entendeu? Mão nela, supapando ela dum lado, supapando do outro, discontraino, nada d’eu dá conta da égua. Eu falei assim: ela vai me jogar no chão de novo. Larguei a rédia e agarrei assim na frente e atrás do lombio. E falei assim: agora ela vai ter de pular comigo em cima e sem rédia. Ademir, ela pulô tanto, menino, mas tanto comigo. Ela pulou assim uns 20 minuto, fechado nas quatro mesmo...
Todos: (risos)
E: Quando ela parou de pular - ela parou duma vez! - que eu cacei minhas perna, minhas perna tava assim, tava assim bambela, bambela. Só pus a mão assim na cabeça do lombio e quando eu fui caçar a perna, cadê?, meu filho, tinha perna não. Eu fiz assim pra trás e caí...
A2: (faz um comentário meio incompreensível)
E1: Então, o redondel era lá embaixo ainda, lá embaixo ainda. Vai escutando procevê. Prá mim sair de lá até aqui na cuberta eu custei vim, Ademir. Vim andando, tinha hora que eu escorava assim no pescoço dela assim pra mim consegui...
A2: Deu tranco na sua coluna, Sô, aí bambeia as perna...
E: Aí eu cheguei aqui. Isso era na parte da tarde. Peguei um cavalo e fui imbora pra rua. Isso foi na terça-feira. Fui imbora prá rua, cheguei, tomei banho e falei assim: hoje eu num vô mexer com nada. Eu tava arrebentado, meu filho. Deitei na cama, aquela dor nas pernas, aquela coisa horrorosa. E aí quando foi aí pelas oito e meia mais ou menos eu comecei a sentir uma dor fina aqui por baixo do umbigo, aqui ó, fina, apertando, apertando, igual quando cê ta com vontade de urinar bastante, de bexiga cheia, sabe? Aí eu fui no banheiro pra uriná mas não saiu nada. Daí tornei deitar na cama. Daí mais ou menos uma meia hora veio aquela dor de novo; eu fui no banheiro já urinei aquele trem amarelozinho, sabe? Quando foi meia noite eu comecei a urinar quase sangue. Aí a dor num passava, eu só tomando buscopam, buscopam, num passava . Quando foi meia noite e meia eu tive que subir pra emergência.
A3: Hospital...
A1: Quantos dias cê ficô lá?
E: Mais de 15 dias...
Essa é a (primeira) reprodução (o mais fidedigna possível) de uma conversa à beira do fogão de lenha, lá no meu Sítio. Participantes A1: Aldemir Aarão; E: Eleomar; A2: Adelmar Aarão, A3: Alex do Afonso; e eu.
Para o Eleomar, com meus agradecimentos pelo companheirismo e dedicação aos cavalos!