Copa do Mundo, todo mundo - exceto quem é de outra torcida que não a brasileira - vestindo verde e amarelo, fazendo questão de agitar uma bandeirinha do Brasil, na mais eventual e ocasional demonstração de patriotismo a que essa nossa pátria costuma assistir. Fora essa época, só no desfile de sete de setembro, ainda assim sem tanta espontaneidade.
O futebol é o esporte mais popular do planeta. Os norte-americanos não entendem muito a razão dessa paixão. Alegam que o homem demorou milhares de anos para, andando ereto, aprender a utilizar as mãos não mais como membro de locomoção, mas para manufaturar as artes todas que admiramos nos quatro cantos da terra. Seria o futebol, portanto, em última análise, um esporte que se fundamenta num retrocesso na escala evolutiva humana. É por isso que lá se joga futebol com as mãos.
Em que pese essa alegação deles - e outras tantas de tantos outros países onde o futebol não é o esporte mais popular -, sabe-se que dezenas de milhares de pessoas vão ao estádio assistir a uma partida de futebol, enquanto milhões a veem pela televisão.
O que intriga é saber o porquê de o futebol ter essa dimensão, essa faculdade de atrair tanta gente. A única explicação plausível é que, para se jogar futebol, precisa-se apenas de uma bola, nada mais. Não precisa nem ser a Jabulani, pode ser qualquer uma, até uma improvisada, enrolada com as meias finas desfiadas que as meninas não usam mais. O resto é secundário.
Campo? Qualquer lugar se presta, desde que seja relativamente plano. Não precisa ser gramado nem ter tamanho certo. Já vi meninos jogando em campo triangular. Traves? Quatro pedras ou quatro estacas de pau são suficientes e servem muito bem para demarcar os limites do gol de cada lado. Uniforme? Que joguem os com camisa contra os sem camisa. Neste caso convém, se você for ruim de bola, ter um jogo de camisas para garantir sua participação. Segure a sua camisa 10 e distribua as demais. Time? Quem quiser jogar que jogue, quantos houver, tantos para cada lado e pronto. Se o número for ímpar? Coloca dois pernas-de-pau de um lado contra um craque do outro e será realizada toda justiça. Juiz? Falta é falta, escanteio é escanteio, lateral é lateral, pênalti é pênalti, impedimento é impedimento, gol é gol. O máximo que pode acontecer é o jogo ser interrompido por uns cinco minutos para saber que tem razão, ou quem é o mais forte. Cronômetro? Jogo de futebol é para ser jogado, sem essa de hora para acabar. Joga-se até cansar, ou até a mãe chamar para almoçar, ou até a hora de ir para a escola, ou até empatar (porque ninguém gosta de perder), ou até a luz do dia acabar.
Futebol não tem essa de pobre e rico, de subúrbio e zona sul, de negro e branco. Futebol é democrático!
A copa do mundo acabou nas quartas de final. O Brasil perdeu para a Holanda. Ninguém veste mais verde e amarelo. As bandeiras foram recolhidas. O amor à pátria foi adiado para daqui a quatro anos, para a próxima Copa do Mundo. Brasileiro não gosta de perder no futebol, não aceita sequer ser vice-campeão. Defeito de formação que os paraguaios não têm: uma linda modelo paraguaia prometeu homenagear seu país saindo nua às ruas se o Paraguai passasse das quartas de final. Se o Paraguai vence essa partida seria, na verdade, uma “pelada”. Imagine então se o Paraguai vence a Copa do Mundo?! Isso mesmo: teríamos o primeiro país do mundo cuja população feminina seria inteira adepta do naturismo!
Apesar de nossa funesta derrota, que adiou de morte nossa esperança do hexa, ainda bem que a Argentina levou de quatro da Alemanha! Ninguém aguenta esses nossos “hermanos”.
A bola da vez
13 de Julho de 2010, por Rafael Chaves