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A carta e os Correios

17 de Agosto de 2011, por Rafael Chaves

Outro dia fui à agência dos Correios postar uma carta...

(Eu sei que está meio démodé nesses tempos, mas ainda há um charme em enviar ou receber uma carta pelos Correios. Quiçá receber uma carta da pessoa amada! Daquelas que, quando estamos apaixonados, esperamos todos os dias atravessar pela soleira da porta, ainda que jogada displicentemente pelo carteiro. Eu a abriria num instante, só para ver o “Meu amor,” no princípio e o “Beijos. Te amo!”, no final.)

... contendo uns documentos.

Quando entrei na agência, dirigi-me à máquina de retirar a senha,...

(Para quase tudo hoje em dia tem senha! Eu tenho uma planilha com todas as minhas senhas. Contei e são 121 senhas. Senhas de banco, de cartões, de e-mails, para abrir computadores, para abrir aplicativos, para lojas virtuais, sites onde sou cadastrado, para os... Bem, na verdade são 122 senhas! Tenho uma senha exclusiva só para abrir essa planilha de senhas, por questões de segurança. E não dá para ser uma senha só para tudo. Cada sistema tem suas peculiaridades. Uns exigem que você troque sua senha a cada mês, outros que seja senha numérica, outros alfanumérica, outros com quatro dígitos, outros com seis dígitos e por aí vai...)

... mas não havia, entre as opções, senha para postar carta simples. Havia senha para postar sedex, para o banco postal, para atendimento preferencial e para outros serviços. Eu estranhei, porque os Correios, para mim, sempre tiveram como primeira finalidade despachar as cartas, as correspondências, fazendo-as chegar aos seus destinos.

Peguei a senha “outros serviços” e esperei, esperei, esperei até aparecer no painel, finalmente, 354, guichê 4:

- Bom dia! Por favor, eu gostaria de postar esta carta.
- Sedex 10?
- Não, não precisa.
- Mas se você postar sedex 10, chega lá amanhã até as 10 horas da manhã...
- Quanto fica?
- Olha, seria bom você colocar nesse envelope plástico dos correios...
- Quanto fica?
- Você quer com Aviso de Recebimento?
- Seria bom...
- Quer declarar valor?
- Uai, põe aí R$2.000,00... É documento, né?
- E quer entregar com mão própria?
- Mão própria? Que é isso?
- Mão própria é mão própria, ora.
- Tá bom. Quanto fica?
- Deixa eu ver... São 20,00 do sedex, 2,80 do aviso de recebimento, 2,00 do envelope plástico, 19,25 do valor declarado e mais 3,70 da mão própria... Total de 47,75.
- Quanto?
- 47,75.
- Como? Mas eu só quero postar esta carta. Não precisa você levar ela de ônibus não. Aliás, se eu comprar uma passagem de ônibus para essa carta fica até mais barato!
- Mas...
Nesse instante o meu telefone toca. Atendo. Desligo.
- Temos cartão de recarga Vivo. O Senhor deseja?
- Meu celular é Claro.
- Temos também. Tem de 10,00, 15,00...
- Mas é Claro de conta...
- Ah...
- Por favor, eu só quero postar esta carta. Simples, por favor...
- Tem certeza?
- Tenho.
- Não quer fazer uma fezinha hoje? Vendemos uma telessena premiada no mês passado!
- Como?
- É! Quer comprar uma telessena?
- Não, não e não!!! Quero postar esta carta.
- Calma, Senhor, calma. Carta ou encomenda?
- Carta! Carta! Carta!
- Registrada?                                  
- Não! Pelo amor de Deus, simples, por favor! Ou vai me dizer que se for simples não chega?
- Ok, senhor, não precisa ficar nervoso. São 1,55.
Dou-lhe uma nota de 2,00!
- O senhor quer doar o troco para o Hospital do Câncer? Aceitamos qualquer valor acima de 25 centavos.
- O quê? Mas eu já não pago meus impostos? Não pago para ter saúde, educação...? E ainda pago plano de saúde!
- Mas senhor...
- Não tem mas, nem meio mas, estou aqui para postar esta carta É só o que eu quero fazer, postar esta carta! E me dê meu troco!
- Nossa! Nem abrir uma poupança no Banco Postal o senhor não vai não?

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